domingo, 26 de janeiro de 2014

A altura do Mestre




O Mestre não te quer um pulha; um ser torpe e a ele inferior. O mestre te quer tão superior quanto ele o entenda e mais. O pensar superior destoa do pensar humano por entender como natural acercar-se de seres de conhecimento elevado. 

É normal considerarmos nosso Mestre como um ser superior, e ele o é. E ele sempre será, porém pode ser natural que nos entendamos inferior, e o somos, porém era importante que atingíssemos o ponto de nosso encontro com este ser magnânimo onde nos enxergássemos na possibilidade da igualdade. Não com o sentimento selvagem da vaidade e superação e sim de equilíbrio e respeito.

E também não quero levantar aqui a surrada e infeliz expressão onde algum aprendiz vaidoso em suas primeiras lições prematuramente acreditou ser possível existir a possibilidade de o aluno superar o mestre. Isto somente acontecerá se o aluno for pretensioso e o mestre uma farsa, porém o resultado desse encontro desastroso não é um ser superior; mas um desastre. 

Estamos vivos aqui hoje; existimos, ou existindo na Terra. E este me parece ser um local onde a simples vontade, o simples querer faz com que superemos os mais estranhos obstáculos. Basta que olhemos um livro escolar de recordes, por exemplo. A história de como pessoas sem cultura ou estudo algum, superaram outras já abastadas, (observando sob o mais comum dos pontos de vista) ainda que o segundo grupo descendesse de famílias tradicionais em riqueza e cultura. E isto se deve apenas ao querer íntimo, a superação; a chama desperta. Ainda que exija uma disciplina condizente com a vontade e superior a concorrência, é bastante possível entre o gênero humano, ainda que vejamos tantos maus exemplos distorcerem essa vontade.

Superar o Mestre, até mesmo em um sentido vazio; sem sentido; é razoavelmente fácil, embora ele não queira ser assim superado – mas é certo que o bom mestre não da muita importância para isso, ainda que sinta pena por seu pupilo. Todo o Mestre quer o amadurecimento que transcenda o além do possível do discípulo; tanto melhor, quando alcançado dentro de um sentido amplo, de esforço, de superação, de disciplina, de filosofia, e se este amadurecer tenha se dado naturalmente; constitui-se de uma resposta à uma dedicação séria e de determinação positiva aplicada em valores que não apenas foram encontrados no mestre, mas multiplicado através deste, na prática diária do convívio com os grupos diversos da vida cotidiana.

Devemos respeitar o Mestre, sempre, e considerá-lo superior. Ainda que o encontremos após mil vidas e tenhamos evoluído desde então, porém esta veneração; atingido este estado de reverência, um sentimento de valor de igualdade não pode ser negligenciado, o Mestre é e sempre será superior, mas ele quer que saibamos o significado dessa autoridade para que possamos não carregar nem mesmo o menor, e abominável sentimento de inferioridade de um ser para com o outro. Que em nada condiz com um discípulo que, ao se desprender dessas amarras de pequenez, orgulha o mestre no maior valor que pode existir entre mestre/discípulo, pois é a partir deste desprendimento que o aprendiz demonstra todo o valor do aprendizado, ao revelar essa transcendência, ainda que intrinsecamente; pois o devoto adquire este estado naturalmente, afinal, todo o mestre procura estimular no aluno, exatamente o contrário – despertar a chama passiva da superlatividade. É quando percebe que esse pulsar, esse fragmento arisco, na respiração se revela, que finalmente decide-se pelo neófito, ao enxergar que, muito bem escondido, jaz latente o diamante bruto da pureza; uma superioridade internamente invisível a qualquer mentor, desconhecida para o pequeno gafanhoto e impossível ao não mestre. Trazê-la à tona, para que seja percebida; despertá-la; toda a caminhada se resume a isso.

059.g cqe