O
Mestre não te quer um pulha; um ser torpe e a ele inferior. O mestre te quer
tão superior quanto ele o entenda e mais. O pensar superior destoa do pensar
humano por entender como natural acercar-se de seres de conhecimento
elevado.
É
normal considerarmos nosso Mestre como um ser superior, e ele o é. E ele sempre
será, porém pode ser natural que nos entendamos inferior, e o somos, porém era
importante que atingíssemos o ponto de nosso encontro com este ser magnânimo
onde nos enxergássemos na possibilidade da igualdade. Não com o sentimento selvagem
da vaidade e superação e sim de equilíbrio e respeito.
E
também não quero levantar aqui a surrada e infeliz expressão onde algum
aprendiz vaidoso em suas primeiras lições prematuramente acreditou ser possível
existir a possibilidade de o aluno superar o mestre. Isto somente acontecerá se
o aluno for pretensioso e o mestre uma farsa, porém o resultado desse encontro
desastroso não é um ser superior; mas um desastre.
Estamos
vivos aqui hoje; existimos, ou existindo na Terra. E este me parece ser um
local onde a simples vontade, o simples querer faz com que superemos os mais
estranhos obstáculos. Basta que olhemos um livro escolar de recordes, por
exemplo. A história de como pessoas sem cultura ou estudo algum, superaram
outras já abastadas, (observando sob o mais comum dos pontos de vista) ainda
que o segundo grupo descendesse de famílias tradicionais em riqueza e cultura.
E isto se deve apenas ao querer íntimo, a superação; a chama desperta. Ainda
que exija uma disciplina condizente com a vontade e superior a concorrência, é
bastante possível entre o gênero humano, ainda que vejamos tantos maus exemplos
distorcerem essa vontade.
Superar
o Mestre, até mesmo em um sentido vazio; sem sentido; é razoavelmente fácil,
embora ele não queira ser assim superado – mas é certo que o bom mestre não da
muita importância para isso, ainda que sinta pena por seu pupilo. Todo o Mestre
quer o amadurecimento que transcenda o além do possível do discípulo; tanto melhor,
quando alcançado dentro de um sentido amplo, de esforço, de superação, de
disciplina, de filosofia, e se este amadurecer tenha se dado naturalmente; constitui-se
de uma resposta à uma dedicação séria e de determinação positiva aplicada em
valores que não apenas foram encontrados no mestre, mas multiplicado através
deste, na prática diária do convívio com os grupos diversos da vida cotidiana.
Devemos
respeitar o Mestre, sempre, e considerá-lo superior. Ainda que o encontremos
após mil vidas e tenhamos evoluído desde então, porém esta veneração; atingido este
estado de reverência, um sentimento de valor de igualdade não pode ser negligenciado,
o Mestre é e sempre será superior, mas ele quer que saibamos o significado
dessa autoridade para que possamos não carregar nem mesmo o menor, e abominável
sentimento de inferioridade de um ser para com o outro. Que em nada condiz com
um discípulo que, ao se desprender dessas amarras de pequenez, orgulha o mestre
no maior valor que pode existir entre mestre/discípulo, pois é a partir deste
desprendimento que o aprendiz demonstra todo o valor do aprendizado, ao revelar
essa transcendência, ainda que intrinsecamente; pois o devoto adquire este
estado naturalmente, afinal, todo o mestre procura estimular no aluno, exatamente
o contrário – despertar a chama passiva da superlatividade. É quando percebe que
esse pulsar, esse fragmento arisco, na respiração se revela, que finalmente
decide-se pelo neófito, ao enxergar que, muito bem escondido, jaz latente o
diamante bruto da pureza; uma superioridade internamente invisível a qualquer
mentor, desconhecida para o pequeno gafanhoto e impossível ao não mestre.
Trazê-la à tona, para que seja percebida; despertá-la; toda a caminhada se resume
a isso.
059.g cqe