domingo, 5 de janeiro de 2014

O público ou a arte



O que procuramos fazer é arte, ou um produto comercial?

Em casos raros não é assim, mas o compromisso com o público tende a castrar o artista.

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        Lendo aleatoriamente uma revista qualquer, em um ensaio, o autor coloca que: os grandes nomes da arte, “que se vendem a qualquer um”*, diretores, escritores, autores, etc., devem ter a preocupação consigo apenas e com seu público.

Está é uma verdade abundante, porém parcial; e isto se dá somente após o nome chegar às cobiçadas prateleiras do consumo. Antes, ele precisa procurar quem aprove o que faz. E, até então: atira para todos os lados – embora também sendo essa uma verdade parcial; não digo agora nada que não seja de comum opinião ao meio.

Mas, e daí? Depois de encontrar seu nicho de mercado, o que se deve fazer? Entendo que esta é a questão a ser perseguida por todos aqueles que buscaram na arte não o seu passa-tempo-ganha-pão-favorito, e sim uma identificação superior.

Digo que o artista apenas é livre neste espaço - quando procura. Ainda assim esta liberdade é vigiada por sua mente que persegue o que dita o mercado ou as tendências (isto tende a ser automático).

Após encontrado seu público comprador e admirador, ficará refém desta condição. A partir de então, não criará mais. Copiará apenas o que aprendeu; o vendável ou comprável. Este é o final triste de todo o artista mercantilista: transformado em comerciante comum que se entregou ao medo – nem por isso deixa de fazer um trabalho que pode ser considerado extraordinário.

Vencer este obstáculo instransponível do “cheguei onde queria”, deve ser a maior luta do criador, pois, enquanto continua projetando o que agrada ou satisfaz a si, é preciso preocupar-se com a quantidade da audiência que o frequenta; ficar atento ao que busca o externo para não perde-lo de vista.

É bastante sutil a linha que divisa o querer artístico do egocentrismo - da vaidade que procura a aprovação. Por ser de difícil identificação é mais comum aceitar, fazer do estado alcançado o vértice de seu trabalho – ainda que não tenha tentado tudo.   

 Daí contenta-se em viver de uma mentira. E terá o final comum dos artistas frustrados; afinal, é praticamente impossível satisfazer a si e ao público; e enquanto estiver preso a esta roda macabra do sustento de sua arte, estará fazendo com ela o que acontece com um banco gigantesco de corais que morre a cada dia devido ao sufocamento sofrido por algum ataque externo de desequilíbrio; será sempre a luta interna do querer criativo contra o perigo de não agradar ao público que admira, ou seja: o que sufoca. O seu desequilíbrio natural provém da vaidade e do medo, porém, diferente dos corais, aqui, muitas vezes; pode advir também, apenas do medo de ficar só

*grifo meu

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