domingo, 31 de agosto de 2014
Particulado
Devemos pensar o mal, também, como
uma camada de particulados que se esparrama sob nossos caminhos. Como uma movimentada
estrada poeirenta onde há muito não chove. E que, estas míseras partículas
envenenadas, é certo, se agitarão na medida de nosso caminhar ansioso e
desequilibrado, impregnando assim nossas roupas, chegando até o corpo.
Conforme adestramos nosso
comportamento, é possível que percebamos nitidamente a necessidade de nos
portarmos em locais contaminados com mais cuidado; é certo que uma criança ao
atravessar um chiqueiro tende a sujar-se por pura inconsciência.
O mal então, pode se apresentar
assim também. Ele está por aí, solto, em forma de particulado invisível, e
conforme andamos, conforme é nosso desequilíbrio de comportamento, ele é revolvido
e envolve todo o nosso corpo impregnando nosso espírito.
054.h
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Uma via
Seria a vida uma densa floresta de
representações materiais e imateriais. E, jogado em seu seio, é o homem.
Proprietário apenas de seus instintos e de alguma sorte ainda a ele também
desconhecida ou igualmente desconhecida a tudo pertencente: a um meio que lhe
dará certa proteção e preparo. A partir de então desenvolverá suas vontades.
São estas vontades somadas ao preparo que advêm do meio, que lhe fornecerão conhecimento
para mover-se em meio à floresta concreta. Todos os caminhos estarão desenhados
a sua frente. Nenhum deles, porém, conhecido. Restará a ele apenas a sua opção
diária de direcionamento; e é somente o desenvolver paralelo de seu despertar
aliando intuição e aprendizado, somado aos instintos apurados ou vice versa que
advirão suas escolhas e seus quereres reais para aquele instante/vida deslocá-lo
à frente ou não. Construindo caminhos no nada já existente por entre
representações que adquiriram ou adquirirão valores diversos e de cotações que
podem valer muito a um e nada a outro, aprendendo, não raro tardiamente, que
esse índice é regulado por um mercado apenas, o do conhecimento.
053.h
cqe
Super homem
O homem que compreendeu o processo;
cessou a luta vigente e comum a todos, da auto-salvação. Pressentiu ele que
apesar da importância do existir tomar a atenção maior, o existir engaiolado na
matéria não passa de um lapso de tempo, uma quimera frente à permanência de
incontáveis universos... ainda que invisíveis; palpáveis.
Superou ele, e em muito, a concepção
de plano que ainda divide a população que se nutre da esperança mal trabalhada,
mal interpretada do sobreviver esgueirando-se entre o sofrimento.
Incrivelmente atento, dando mostras
de um abandonado que tudo abandonou; vaga parecendo alguém alienado, ainda que
na coxia, segue tentando salvar o velho não do aniquilamento externo, porém de
si mesmo.
Constrói e destrói o homem na mesma
proporção que não se apega ao sentimento; como à posse, e, assim que acredita
vislumbrar uma réstia de luz, superficial, lança-se a ela por não pensar com
inteligência e por assim entender-se. Sabendo que existe uma guerra invisível
sendo travada em cada esquina, tanto entre os seus quanto não, segue ignorando.
Aquele que compreendeu isso - o super homem - caminha à rabeira, promovendo uma
espécie de rescaldo.
052.h
cqe
E para ilustrar...
...o desespero próximo a vias de fato.
A paz é complexa, mas possível por
obrigatoriamente seguir a ordem natural
*
A inteligência não é pré requisito
para a obtenção da paz interior, e por sua complexidade, assistimos pessoas,
famílias e países dando sinais desse desentendimento ou de total desequilíbrio.
Esta semana – e por esse motivo
relato – o diretor Woody Allen em Paris, deixou claro em poucas palavras que
algum tipo de sabedoria, ainda que superior ao que comumente assistimos ou
conhecimento na mesma proporção somado ao sucesso não são o suficiente para que
obtenhamos algum tipo de paz, mesmo beirando os oitenta.
Aqui, nas palavras a seguir, é
possível formar uma opinião estarrecedora de como um personagem real pode ser
assustadoramente verdadeiro quando, próximo de um final não querido, com suas
palavras, parece estar tentando que sua âncora finalmente vá de encontro a um
banco de rochas que o salve de seu próprio desespero, ainda que o desconheça ou
que compreenda que este é apenas seu.
*
Promovendo seu filme mais recente, Woody
Allen declarou que, “por ser ateu e não
acreditar em outras encarnações ou numa razão para estarmos aqui, tive uma vida
muito triste, sem esperança, assustadora” e “você nasce sem motivo claro, sente um comichão sexual inexplicável
para ter filhos, os tem, e então eles têm seus filhos, e você tampouco entende
a razão. Mais um pouco, e o mundo desaparece, e depois o universo”. Ou ainda,
com sua versão sobre manter-se ocupado; observa que o fazer filme serve como uma
espécie de fuga da vida real: “se você
acordar um dia às três horas e não houver filme, trânsito, barulho, nada, vai
refletir sobre a condição humana e sentirá medo.” E finaliza no que parece
ser uma entrega de pontos “simplesmente
não sei o que está acontecendo nesse mundo”.
*
Tenho certo cuidado em minhas
postagens, principalmente no que se refere a imagens, para que ela não remeta
ao derrotismo ainda que minhas mensagens quando mal interpretadas possam
denotar isso, mas a intenção única é vencer a inércia e entender que apesar das
palavras em tom niilista dos meus textos que possa levar a um estado ainda mais
melancólico, entendo que não há avanço antes do retrocesso e que esse se dará
de qualquer maneira, porém neste instante inevitável é importante que estejamos
conscientes para o avanço, do contrário ele não acontece; na melhor das
hipóteses ficaremos atolados – nem mesmo voltamos ao que era. Portanto, com
estas declarações do diretor, fujo um pouco, pois, suas palavras soam mais,
como uma imagem atroz e violenta para quem as entende, no entanto,
providenciais à busca incessante em chamar a atenção para a nossa causa; existe
um preço e até um desvio de rota em postá-las, porém, nada mais correto que
essa demonstração; ela ilustra a crueza real de algumas de nossas anotações.
As citações do diretor foram retiradas da Folha.
051.h
cqe
sábado, 23 de agosto de 2014
Fonte Única
É vã e perturbadora a ação para
inventar novos deuses a despeito dos antigos; nenhum “novo havatar” inventado irá
além do que já foi demonstrado, se não bebendo na Fonte Única; em qualquer nova
fonte a água terá que ressurgir, incondicionalmente, de outras “abandonadas”.
Da série;
tudo ao final são novas
formas de voltar ao velho.
049.h
cqe
Às portas da morte
É possível que haja algo pior na
morte que definha; que o moribundo ser abandonado aos poucos por aqueles que
diziam amá-lo? Afinal, após a pena da comiseração com a partida eminente; o
sentimento de alguns transforma o que garantiam ser amor, em rejeição; jogando ainda
sobre a penosa carga do convalescente a humilhante sensação de acreditar-se um estorvo.
048.h
cqe
Véus ainda aqui
No mais das vezes, buscamos tanto o
topo, que a primeira vista nos decepcionamos por não vermos nada, mas,
acalmemo-nos, devemos ter paciência, afinal, é o topo, e nem sempre estar no
topo significa ter direito ao sol, porém não devemos deixar-nos levar por
impulsos, pelos humores da caminhada, afinal chegamos, e agora é apenas isso
que deve importar.
*
As escaladas são tão difíceis quanto
imprevisíveis, e o tempo não premia todos, ele tem lá suas excentricidades também.
047.h
cqe
sábado, 16 de agosto de 2014
À Inteligência
Por algum motivo, ao longo de anos
venho chamando a atenção, inutilmente, para a inteligência.
Esta é uma tarefa árdua porque todos
nos consideramos inteligentes demais para prestar atenção em: o que é ser
inteligente!?!
Há assim, uma confusão nesse
entendimento, que é fustigado violentamente pelo orgulho nosso de cada dia.
Ah! Sempre ele.
Mas a inteligência não é uma semente
que se desenvolve naturalmente no homem, ela precisa tanto de rédeas quanto
estímulo; ao máximo que o indivíduo tem ao nascer é uma espécie de dom, mas no decorrer
da existência pode ocorrer com esta dádiva uma série de situações tanto para o
bem quanto para o descaso que, ou o catapulta para a excelência ou o relega ao
ostracismo.
Entender isso faz toda a diferença.
Um dos entraves, é que este é papel, inicialmente, a ser estimulado pelos pais,
e continuado nos mestres ou tutores, que ao perceber a diferença, direcionam o
infante por caminhos seguros até que este tenha desenvolvido condições e
percepções maduras para garantir evoluindo suas qualidades.
Como podemos observar; em tempos de
hoje: não é nada fácil manter-se direcionado à inteligência.
Pelo sim pelo não, para dar alguma fidedignidade
a minha chamada de atenção, recolhi outra pérola do mestre Thomas Mann de um
texto maior sobre Schopenhauer, aproveitando a oportunidade deste espaço que é
também destinado a registrar idéias que entendemos devam ser perpetuadas.
...
A salvação, pois, de maneira alguma
se chama “morte”; liga-se a condição muito diferente. Ninguém imagina a que
mediador devemos eventualmente esta bênção. É à Inteligência.
...
046.h
cqe
A Boa Luta
Luta boa é aquela onde os dois
aprendem; onde os dois entendem ao final que o ponto em comum da disputa pode
ser trabalhado e trazer benefícios a ambos, ou quando o perdedor se convence de
que mereceu e deve se aliar ao vencedor. Acreditem; isso será um dia possível.
Vivemos o domínio do homem e
aprendemos que a mulher tem que ser valorizada e pode mais, porém precisamos contextualizar
novamente esses dois papeis e voltarmos a, agora, respeitosamente, realinhar ou
reavaliar as prioridades no papel devido a cada um de nós.
Nada será igual como antes, nem para
o bem muito menos para o mal, porém, enquanto seguirmos lutando como dois
desconhecidos orgulhosos animais que disputam território, perderemos o próprio
espaço por deixá-lo a míngua a uma prole desnorteada.
045.h
cqe
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Fragmento
Esta anotação é parte de um texto,
bastante extenso, que me foi entregue por um amigo e é atribuído ao Mestre
Krishnamurti.
O texto é de uma riqueza sem par,
como tudo o que vem desse Ser Maravilhoso, porém, resolvi postar este pequeno
parágrafo como um grifo, como se buscasse negritar um pedaço, ainda que pareça injusto
com a parte maior escrita.
...
Tal como disse antes, meu propósito
é tornar o ser humano incondicionalmente livre, daí eu reafirmo que a única
espiritualidade é a incorruptibilidade do eu que é eterno, é a harmonia entre
razão e amor. Esta é a absoluta, incondicionada Verdade que é a própria Vida.
Quero, por isso, libertar o ser humano, exultante como o pássaro no céu claro,
aliviado, independente, extático nessa liberdade. E eu, para quem vocês estão
se preparando por dezoito anos, digo agora que vocês devem estar livres de
todas essas coisas, livres de suas complicações, suas confusões. Para isto
vocês precisam não possuir uma organização baseada em crença espiritual. Por
que ter uma organização para cinco ou dez pessoas no mundo que compreendem, que
estão batalhando, que puseram de lado todas as coisas banais? E para as pessoas
frágeis não pode haver organização nenhuma que as ajude a encontrar a Verdade,
porque a verdade está dentro de todos; ela não está longe nem perto; está
eternamente aí.
...
042.h
cqe
sábado, 9 de agosto de 2014
Forças distintas
Na convivência social, percebi que o
superior não nega, não repele a presença de alguém com algum tipo de déficit de
inteligência, ainda que voltado à maldade; se este detalhe camufla, em meio a
simpatias que envolvem e atraem; ainda que o nobre as perceba. Não é dever de o
superior negá-lo, este apenas - egoicamente desinteressado - evidencia o lado
que lhe interessa trazendo o infeliz para o círculo maior. Cabe então ao condenado
a mudança; ou o faz, ou mais cedo do que imagina será expurgado do meio que não
pertence. Porém, se entender a oportunidade, poderá esquecer os maus costumes
que há tempos lhe faziam companhia e desfrutar de um meio tão rico quanto novo.
041.h
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Síndrome de hiena
De
alguma forma nos transformamos em Sísifos. E a despeito de tantas
interpretações quanto loucuras há na mente individual, muitos têm o original
ainda que feliz: desafiador e obediente em seu sofrer infindável. Nós também o
somos, com a diferença de seguirmos alheios em nosso empurrar sem sentido – não
é possível que nos orgulhemos de nossa astúcia, jamais. Míopes, e desconhecendo
o porquê do nosso padecer passivo, o fazemos não raro com uma felicidade que
apenas nós não a entendemos como claudicante, embora isso não seja uma notícia
ruim, pois o desembocar derradeiro é mesmo a felicidade, – ao final parece que
mantivemos certo grau de sensibilidade – mas, no entanto, e por enquanto, diferente
do personagem; seguimos aumentando e acumulando o fardo às costas.
038.h cqe
sábado, 2 de agosto de 2014
Reconhecimento à pintura
Agradecimento àqueles que colorem
nosso existir
Muitíssimo mais difícil pintar que
escrever; porém, ao dominar a arte das cores pode-se encantar à primeira vista;
já, quão difícil é fazê-lo com as letras. Invariavelmente depende-se de um
terceiro e ainda assim são poucos a encantar-se.
Quão feliz é o bom pintor, aquele
que desenha belamente o sublime, ele por si só é. Basta que olhemos para um
quadro ou também uma escultura e nos conectemos com o belo – independe de autor
ou de outorga terceira.
Ainda uma vez mais precisamos
concordar que é possível apenas no acerbo encontrar o gênio.
037.h
cqe
Vontade Individual Inteligente
Tudo, todas as buscas também deve
findar objetivando o niilismo individual; zerando conceitos que já não mais se
mostram práticos ao adquirir a partir deste instante, subsídios para o verdadeiro salto
à Vontade Individual Inteligente.
Entender e fugir ao que afirma o
filósofo quando diz que “Vivemos a era do homem múltiplo” onde não é possível
dedicar-se ao “Caos mais interessante”; ou seja, o homem não consegue
direcionar todas as forças em relação para uma meta superior, consumindo-se em
uma profusão de perspectivas.
Em suma, este é o dever que todo o verdadeiro
buscador carrega consigo até finalmente romper as amarras de Gaia.
(Parte do segundo parágrafo foi
retirado do trabalho de
Clademir Luís Araldi:
Nietzsche; Do niilismo ao naturalismo
na moral.)
036.h
cqe
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