Com
a criatividade aflorada e mínima empolgação é possível sobreviver em meio à
algazarra cotidiana, mas como tudo, isso também cansa, e quando acontece a ação
do assistir e não participar logo me vem à mente um antigo camarada que o
tínhamos como soberbo e arrogante. O apelidamos, fora de suas vistas, de boçal
- nada da convivência comum tinha o seu apreço. Para ele, rir era coisa rara - uma ação tão boba quanto supérflua nos demais. Um crítico que desconhecia.
Sempre
se enxergando como alguém superior ao meio, não media esforços para desagradar,
olhava tudo com desdém. Passado seus trinta anos; imagino agora não ser de todo
negativo conservar um pouco desse lado “boçal”, guardar um que de torcer o
nariz mais vezes para situações rotineiras engolidas sem a peneira útil do: estar
atento... observando se, o conteúdo eleito é realmente positivo, se preciso,
realmente, estar sempre agradável e disponível.
A
bem da verdade; aproveitando o ensejo ou coisa que o valha, volta e meia,
quando saímos um pouco do alvoroçar diário ao qual estamos absortamente contidos
e olhamos de fora, é possível entender um pouco: quanto nos impregnamos de
assuntos, trejeitos, costumes, manias e maneirismos colecionados sem nos apercebermos quanto nos afastamos do distinto.
Isso tudo associado a uma cultura inculta, que, se observado detidamente,
acaba por desmerecer nossas qualidades, agora sufocadas por este agitar
desconcertante que tomou conta de nossas vontades, de nossos instintos, de
nossas vidas... e ainda que não queira jogar um balde de água fria no nosso
cotidiano cáustico, ou contribuir com o pessimismo patente de um ou outro, não
seria demais observar vez ou outra que algumas de nossas bardas não são
agradáveis a todos, e a partir de então, poderíamos apurar nossa consciência
crítica iniciando um exercício onde viéssemos a minimizá-las – talvez não por
eles; e sim por nós.
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