As
diferenças sutis ou não, obrigatórias, de pessoa para pessoa nem sempre
acontecem dela para o objeto, ou vice versa. Nem sempre é uma questão de
escolha mental. Afirmamos, invariavelmente, que não gostamos de determinado
grupo musical, de ópera, de arte de rua, de romance, ou mesmo de uma
determinada língua, por exemplo, por entendê-los todos, ainda que na sua
distinção: iguais, parecidos, não diferentes, a mesma coisa, mas esse
entendimento não condiz exatamente com a realidade e se estende a todos os
sentidos humanos.
A
opinião alfineta: “a música daquele grupo gira em torno, sempre, dos mesmos acordes,
não muda”, ou se compraz: “é um grupo diferenciado; basta ouvir apenas um
acorde e sei que são eles que ouço tocando”, e ainda outro, comentando que a
pincelada de determinado artista é inconfundivelmente única, quando o
desentendido nada enxerga, ou tão somente sente-se agradável, com a harmonia da obra.
A
ocupação árdua e continuada acessa uma espécie de conexão que, depois de
atingida, por motivos de não dispersão, ali caminhará para sempre, justamente
porque houve a assimilação necessária ao processo, obviamente. E concomitante a
ele, porque a todo aquele que a excelência, após incessante procura, se revela,
quando a partir de então descobre que a melhor maneira de aperfeiçoar seu
trabalho é manter-se aprimorando no caminho escolhido. É fato que vem daí o
resultado que gera a igualdade para o apreciador externo aleatório; e a
diferença sutil, obrigatória, ao bom apreciador que qualifica o resultado final
no curso de uma fidelidade aceitável a um nível determinado que foge à
compreensão do primeiro.
Funciona
como se fosse criado um espaço paralelo invisível, uma região, um sítio
particularíssimo e totalmente impenetrável ao todo desentendido, mesmo que, se
pudéssemos assistir de fora essa transformação, entenderíamos que por mais
próximo que eles estivessem nada perceberiam. E essa proximidade é justamente o
envolvimento da pessoa alheia ao processo no processo. Por exemplo, no caso da
audição, ao passar por um ambiente sonorizado, determinado ouvinte que não
apurou seu ouvido para o Blues que toca no momento, irá torcer o nariz para a
música, ainda que esteja transpassando o paralelo do Blues.
Olhando;
observando desatentamente, parecem, na sua individualidade, e isso é fato que, a
brutalidade de olhos destreinados enxerga que as artes, visivelmente ajustadas
à ponta de cinzel, foram finalizadas expondo um que de igualdade que foge a
compreensão não treinada, não afinada, quando é sabido; suas diferenças sutis
residem exatamente na igualdade que grita o contrário ao apreciador exímio. Podemos
daí afirmar que essa aparente homogeneidade não encontra no externo comum não
análogo, conformidade com as sensações verdadeiramente atingidas.
Por
conta de distorções ou assimilações equivocadas, muitos, ao final, se comportam
qual ser dominado por ânsias generalizadas. Demonstrando que desconhece tanto a
si quanto a seus universos habitados, e esses, anotam como ruídos idênticos;
inidentificáveis, construídos ou constituídos, a massificar toda a qualidade,
qual língua estranha em seu som uníssono continuado, quando assim não é.
O
não acesso gera o criticar atropelado, afinal, tudo é uma questão de frequência.
E, assim que aprendemos; que desenvolvemos o aprendizado e adquirimos
conhecimento sabemos. Descobrimos que aquela continuidade, aquela igualdade
possui códigos especiais com propriedade unicamente decifráveis; absurdamente
diferentes, no entanto, harmônicos e importantíssimos àqueles que a tal
frequência única e impenetrável ao externo revela apenas a sua excelência; a
sua beleza; tão exclusiva quanto o trabalho desenvolvido para acessá-la.
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