Invariavelmente,
homens verdadeiramente inteligentes e donos inclusive de apurada consciência
crítica, são atacados por sofrimentos atrozes ao final da vida. Onde não é
demais afirmar que, com certa constância, esse desconforto, perpassa em grau ou
distância o que ataca seus iguais que desfrutam de uma vida normal; seus
personagens de estudos. Justamente pelo motivo de que o conhecimento humano não
atinge as verdades que formam os elos necessários a suplantar a matéria,
portanto, não sendo possível solidificar teses defendidas arduamente, - até
além do estado sobranceiro, hospedeiro quase natural que mantém ativa
discussões ultrapassadas - ainda que a vida os arraste levando-os até que eles
próprios e seus tempos caduquem.
O
sofrimento do homem que conhece é infinitamente mais dilacerante que a angustia
vã do incauto. Este desiste; o primeiro jamais. Mesmo intricado em dúvidas
insanáveis.
Enquanto
caminhamos rumo ao desconhecido, construímos ou não, com nossas descobertas e
vivências, uma espécie de ponte. Daquelas, possíveis apenas de serem
visualizadas durante a construção, em documentários. De dimensões infindas,
avançam centímetro a centímetro em um espaço vazio – em um nada - jamais
explorado. Com a diferença de que, na resultante da busca; dos estudos; do
conhecimento; não é possível visualizar a outra margem.
Alguns
imaginam o que há além, somado ao que se contenta e se agrada no que ditam outros que nisso se comprazem, os sustém e se
sustentam. Suas construções são frágeis, porém eles disso não desconfiam.
Acreditaram em seus idílios ou no que ouviram nas ruas que, por sua vez, é
repetido nos templos que conhecem o jogo das palavras.
Esses,
de crenças assumidas, vão-se, mas ninguém nunca soube sobre eles, porém para
aquele que pensa; tudo é transformado em dificuldades, através da sã aparência.
Nada os convence de que as páginas escritas originalmente são exatas, - tanto
por entenderem de manipulação como por jamais terem se interessado por elas -
contudo, seu aprendizado levou-nos a um eruditismo que, por mais aplicada que
tenha sido a pesquisa, por mais ampla, por mais extensa, falta-lhe um elo.
Falta-lhe um desfecho que não apenas convença, porém, que o faça acreditar. E
este é seu segredo sepulcral; a solidão do incansável estudante solitário.
Por
defender determinada teoria durante toda uma vida; a mente, que caminha
caminhos indecifráveis, incorpora a exclusividade da ideia defendida na busca
como uma verdade, porém, isso não lhe dá garantia plena post mortem, ou pior, ao atirar-se em estudos, em defesas
ferrenhas, esqueceu-se, o aluno, que a vida, o caminhar, não poderia ter se
resumido apenas a isso se antes não atapetou seu andar por alguma senda acética
de transcendência à matéria. E como castigo, a mesma mente cética, traz agora –
ou somente agora -, a questão do depois.
Isso
jamais será dado ao homem – porém essa verdade transformada em cisma não o
contém. O homem nasce fadado a confiar que, justamente por encontrar-se só, ele
jamais está só, contanto, somente há um caminho para esse atirar-se; é a fé,
assimilar a força da fé que não nasce apenas da inteligência, do conhecimento,
da sabedoria. Esses todos; são ferramentas que farão com que ele, ao chegar à
cabeceira da ponte inacabada, - e graças a Deus assim sempre será - entenda que
há apenas uma certeza a partir daí; o salto. Todo aquele que levar sua ponte
com dedicação e desprendimento até o seu derradeiro suspiro poderá ter a
certeza de que a construção foi ao seu máximo e depois dali só precisa saltar.
Chegou-se ao limite possível e esse é o limite de cada um para acessar o
infinito desconhecido – ou seja, continuar seguindo.
Digo
que isso é maravilhoso, ainda que assuste até mesmo os homens de fé, porém é
mais difícil àquele que viveu a ilusão do estar confortavelmente instalado.
E
por que o homem que sabe não faz isso? Por que ele apenas sofre? Porque ele
continua pensando; ele acredita que seu conhecimento é – deveria ou terá na
hora derradeira - a resposta. Que sua inteligência é a resposta, porém não é
questão de acreditar, a palavra é confiar. E estas ferramentas que lhes foram
dadas deveriam ter sido utilizadas também para isso. Para assimilar o abandonar
a mente que tanto valor tem. Mas, para cessar o sofrimento ele terá que abandonar,
momentaneamente, todo o conhecimento que não serve mais para nada agora, e
então dar o salto buscando a outra margem que nada mais é que a continuação do
existir. É mais difícil para o estudioso compreender isso, quem mais tem sempre
terá mais medo de perder, o que nada tem se atira, esse é o segredo, mas todos
ficarão bem de uma forma ou de outra.
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