“Recorrência: a sociedade produz a
escola, que produz a sociedade. Diante disso, como reformar a escola sem
reformar a sociedade, mas como reformar a sociedade sem reformar a escola?”
*
“... De fato, os atuais projetos de
reforma giram em torno desse buraco negro que lhes é invisível. Só seria
visível se as mentes fossem reformadas. E aqui chegamos a um impasse: não se pode reformar a instituição sem uma
prévia reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem uma prévia
reforma das instituições. Essa é uma impossibilidade lógica que produz um
duplo bloqueio.
Há resistências inacreditáveis a essa
reforma, a um tempo, una e dupla. A imensa máquina da educação é rígida,
inflexível, fechada, burocratizada. Muitos professores estão instalados em seus
hábitos e autonomias disciplinares. Estes, como dizia Curien, são como os lobos
que urinam para marcar seu território e mordem os que nele penetram. Há uma
resistência obtusa, inclusive entre os espíritos refinados. Para eles, o
desafio é invisível.
A cada tentativa de reforma, mínima que
seja, a resistência aumenta! Como dizia Edgar Faure, depois de ter
experimentado uma de suas reformazinhas, “o imobilismo se pôs em marcha, e não
sei como detê-lo”. Quanto a mim, fui alvo dos sarcasmos dos Diafoirus e
Trissotin (cujo número cresceu consideravelmente desde Molière), quando sugeri
as “cinco finalidades.
Como as mentes, em sua maioria, são
formadas segundo o modelo da especialização fechada, a possibilidade de um
conhecimento para além de uma especialização parece-lhes insensata. E, no entanto,
o mais limitado especialista tem ideias gerais, das quais não tem dúvidas,
sobre a vida, o mundo, Deus, a sociedade, os homens, as mulheres. E, de fato,
esses especialistas, experts, vivem de ideias gerais e globais, mas
arbitrárias, nunca criticadas, nunca refletidas. O reino dos especialistas é o
reino das mais ocas ideias gerais, sendo que a mais oca de todas é a de que não
há necessidade de ideia geral."
Edgar Morin;
no livro, A cabeça bem-feita.
Pensar a
reforma; reformar o pensamento.
007.L cqe