sábado, 20 de agosto de 2016

Ente



Existirá equivoco humano maior que supervalorizar a célula? Muito além do celular está o Nous, o Id, o Atman, o Cerne da Existência, a Essência, a Alma, a coisa em si não biológica.

Definitivamente nos esquecemos de continuar curiosos - de continuar procurando - de o que somos nós realmente. Também aqui aplicamos a fórmula comum do aceitar por comodismo, conveniência ou desculpa o que nos reaplicaram na infância.

Em relação a tudo o que venha de encontro ao celular, (empresto aqui uma ideia externa em relação ao crescimento material) nos últimos séculos o homem assumiu sua ignorância e a partir de então evoluiu exponencialmente, no entanto, quem sabe em detrimento a isso, da visão exclusiva, deturpada e ocupada sobre esse ignorar, foi levado a desatender algo muito mais importante, e hoje, caso considerasse uma volta real de atenção ao si, encontraria algo deficiente, incômodo, um agregado anômalo; sua alma.

Podemos concluir com grau altíssimo de acerto que as certezas vendidas a dízimos dizimaram nossas “dúvidas” como também atrofiaram nossas almas, e estas certezas que vieram em variadas formas de ritos abortaram a continuidade das buscas para as respostas que realmente deveriam interessar quando à urgência da matéria fosse atenuada e pudesse finalmente aproveitar os merecimentos do ocaso. Quando finalmente a aposentadoria valida à jornada de toda uma vida plena de corpo e alma; comungando então aqueles prazerosos últimos momentos entre célula e espírito.

Uma guinada para a espiritualização do homem se faz urgente. E a primeira proposta seria esquecer a força plástica que carrega o cartão de visita que premia descaracterizando o material humano ao continuar repetindo um mantra corporativista que repete o mais que sem sentido aqui: “a primeira impressão é a que fica”.

Era preciso, de alguma sorte, desfocar, distorcer a visão material, entendendo que dentro de cada ser humano não existe o ser humano que se mostra; o que vem a tona é tão somente um querer vaidoso, uma vontade muitas vezes recalcada tornada verdade para ambos; é conveniente que acreditemos no que estão querendo que acreditemos: “isso que estou lhe mostrando sou eu”. 

Incrivelmente isto apenas não só é mentira como é um desmerecimento a si próprio, - foram tantos séculos agindo e assim nos aceitando; que acreditamos que esse homem “feio/bonito” sempre foi nossa realidade. Esta não é uma verdade, todos nós somos muito além disso.

Entendida essa perspectiva, definitivamente precisamos praticar observando que, quando encontrado alguém verdadeiramente ocupado em desvendar com seriedade formas de melhor convivência social, estes precisam ser apartados de suas molduras humanas. Fomos condicionados a perceber, ler e analisar o aspecto físico das coisas quando este é como eles se apresentam, esquecendo o que diz o gênio Exupéry, “o essencial está invisível aos olhos”.

A matéria é um anteparo, uma crosta tornada intransponível por nosso julgar humano. Devemos aprender a torna-la invisível em detrimento da visibilidade da alma que invariavelmente está muito distante do que assistimos no exterior.

Enquanto o externo é valorizado; é levado em consideração: tudo se distrai para este aspecto. O externo não é nada mais que o veículo; o receptáculo. E é por conta de observarmos apenas a vasilha que transformamos todas as almas uma cópia feia da massa corpo que não deve ter valor nenhum além de uma membrana material condutora da vida; da essência.

Se disso não nos dermos conta, o próprio caminho evolutivo talvez se encarregue da mudança ao “enxergar” uma possível saída para a distração que retarda; a desatenção distorcida, característica, diferenciada, vaidosa.

Um caminho melhor, biologicamente falando, quem sabe, seria termos as células se realinhando para a construção de homens terrenos semelhantemente idênticos, diferenciando-nos, no máximo, entre pessoas levemente distintas apenas no sexo.

Cópias fiéis de um eu vendido; hoje tornou-se difícil nos desvencilhar da mescla corpo/alma - em grande prejuízo à segunda. Dessa miscelânea que por milênios viemos invertendo tentando (e tendo êxito em) transformar o externo ao comprar que: a primeira impressão “material” “vendida” é a que fica. E o que estamos assistindo é a inversão de valores, contrariando a lei natural onde devem ser os olhos a representar o que um dia foi a pureza da alma quando hoje essas duas janelas da verdade mostram tão somente uma alma tão corrompida quanto ansiosa para igualarem-se todos.

O que nos chega é uma visão distorcida de um interior contaminado por milênios.

O condicionamento humano aprendeu que mais importante é a apresentação, e ao longo do existir, ainda que alguns poucos insistiram em valorizar o imo imaculado, eles foram destroçados por espíritos já distorcidos com suas almas sufocadas.

Aqui sim, temos um problema - Vencer o condicionamento de milhares de anos é o desafio a nossa frente; quem acredita isso ser possível?


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