sábado, 26 de dezembro de 2020

Da mecânica e da natureza

 


“Atenção ao controlar mecânico - Toda a nossa ação mecânica

deverá em algum momento se tornar automática,

automatizada, natural!

Se percebo minha ansiedade

e de alguma forma controlo,

se percebo minha inveja, ciúme, raiva e as controlo,

qual é o natural; controlar ou deixar fluir?

Qual natureza fala mais forte ao meu espírito

enquanto não consigo domar

minhas perturbações?”

 


Antes estou para o pensar razoável.

Sob o que aprendi até aqui; como a coisa toda se apresenta? Como as representações são percebidas? Como percebo os meus entornos, minhas posições, o mundo ou até o universo? Até onde meus interesses avançam para além das fronteiras comuns à física.


Como percebo a metafísica? ...percebo-a?

Qualquer uma dessas questões se dá até que o grau individual se choque com a dualidade cultura(conhecimento)/abertura; atinja o limite das ideias até então compradas ao custo de uma vida de dominação aceita.

Como manter-se aberto ao razoável e qual é; como está o meu nível de razoabilidade? A quantas andam minha vontade de explorar questões que fatalmente colocarão meu confortável e estabelecido comportamento a prova?


Sob determinado esforço, sob uma vontade incômoda, sempre é possível um levantar questão, no entanto no mais das vezes é um mero fogo de palha; um voo de galinha. O inegociável sufocar aos comprometedores afazeres diários não permitem que o despreparado se amotine só, sem um plano muito bem arquitetado e levado a cabo disciplinarmente e daí lance mão da razão, mesmo àquela esquecida ou que nem sabíamos donos capazes, e romper convenções, abandonar hábitos e travar um embate feroz com os costumes e conveniências.


Atentar-se uma que outra vez para a existência de outras percepções, outrora considerado um salto frente à busca ao sentido do existir; hoje, quando a aglomeração de ideias cegam seguidores à farsa de micro religiões de afetados, levantar a cabeça um pouco acima das telas negras e se conectar com realidades enterradas nas mais recônditas cavernas e bibliotecas pode ser considerado uma pré-iluminação.


Acordar para a urgência dessa ocorrência é avistar a ponte que faz a conexão que mantém a diligência do neófito, ou finalmente se conectar ao maior dos portais que lhe será apresentado, ou possível de ser atingido neste espaço/matéria. Trabalhar as guinadas necessárias é receber a chave de acesso para passar do hall que antecede os portões da percepção e penetrar na sua antecâmara e vislumbrar pequenas amostras do que podemos, aqui, entender por; “Há Mais”.


Existem diversos autores que descrevem formas de exercícios para a autocorreção com seus pacotes de sucesso ardilosamente embalados. De filósofos e magos, ou mestres e gurus explicando as dificuldades de aceitar, de se decidir, caso a vontade aliada a necessidade se apresente exigindo que, de um instante para outro o melhor a fazer é largar tudo e dedicar-se a si próprio; invariavelmente, em algum ponto entender-se-á ter mudado apenas o influenciador.


Existe uma maneira simples, um atalho, lembrando que os atalhos não são a melhor escolha, porém são outros tempos – as necessidades também precisam ser repaginadas; releituras e contextualizações são obrigatórias. E aquele que opta por caminhos mais curtos não explora ou vivência a beleza do caminho principal, de suas energias históricas, mas há uma consolação, nenhuma estação, - em algum ponto o caminhante, o peregrino descobrirá - é a derradeira; essa, definitivamente, não existe. Daí, ainda que não se tenha aproveitado o caminho todo, o fato de ter atingido alguns degraus além do lugar comum permite a condição de esforços extras para recuperar o que até então lhe foi privado.


O exercício é bastante simples, basta aguçar um pouco o senso de percepção e separar o: quando agimos de forma orquestrada, mecânica, isto é; é a nossa mente, são nossos interesses provocando uma situação de ajuste, distinta das demais onde é possível perceber que ali se trata da nossa natureza agindo, o que fazemos é nosso, puro, genuíno.

Agora, de posse desta disciplina, todos os nossos sentidos são exigidos; e não pense que nos primeiros dias já se está dominando a técnica.


Por exemplo, você está só e alguém precisa de ajuda, você o faz porque entende a diferença entre certo e errado, ou o ímpeto natural o conduz ao auxílio, ou foge?

Se sentimos raiva, ódio, inveja; é possível - com um pouco de boa vontade - distinguir se a sensação é parte da nossa natureza ou percebo que estes são sentimentos negativos de energia ruim e portanto, mentalmente estou buscando formas de eliminá-los ou mesmo procurando ajuda?

Desta percepção podemos, mecanicamente, mudar, paulatinamente, através de nossas vontades aliadas ao conhecimento e a necessidade de ser uma pessoa melhor, sem abandonar o sentido maior deste querer; nossos comportamentos, e o mais importante, à medida que nos mantemos neste propósito, sem perceber, já estaremos trilhando o caminho principal.



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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Não entendendo nada

 


Meu filho, não se esqueça da minha lei, mas guarde no coração os meus mandamentos, pois eles prolongarão a sua vida por muitos anos e lhe darão prosperidade e paz.

Que o amor e a fidelidade jamais o abandonem; prenda-os ao redor do seu pescoço, escreva-os na tábua do seu coração.

Então você terá o favor de Deus e dos homens, e boa reputação.

Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento*; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas.

Não seja sábio aos seus próprios olhos; tema ao Senhor e evite o mal.

Provérbios 3:1-7


*E quanto estamos fazemos ainda pior; nos apoiado tão somente no “entendimento” do próximo?

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sábado, 19 de dezembro de 2020

“Esquisito”

 



“Ser diferente

é viver o constante questionar

em relação ao comportar-se

quando este envolve as diferenças

entre a sua realidade

e a constância comum

à maioria de nós, e daí:

buscar entender a

extraordinária natureza

individual de cada um.”

 



A palavra título deste texto não condiz exatamente com os motivos que me levaram ao exercício de hoje, ainda assim e porque um episódio marcou para sempre o pensar a maneira como me comporto que entendi natural aponta-lo como preâmbulo ao mote principal.





Dias depois de ser admitido em uma empresa prestadora de serviços, um guri de pouco mais de vinte anos - eu já contava quase cinquenta –, então colega de profissão, me chamou de esquisito. Sou o rei dos apelidos; tanto os crio quanto recebo – não relato isso com orgulho. Mas este, de um rapaz chamado Douglas que mais tarde descobri ser um cara boa praça; sempre me vem à mente.



Com certeza não tenho coragem de fazer uma declaração séria sobre minha personalidade afirmando com uma boa média de acerto que é assim que as pessoas me veem. Definitivamente não me arriscaria. Ainda que tenha certeza sobre as convicções que escolhi deixar a mostra para obter um mínimo de convivência, de interação, de coexistir social; volta e meia sou surpreendido por atitudes alheias, dando prova de que meu julgamento - que trago como bastante próximo de uma convivência harmônica - não tem se revelado aceitável em todas as situações; muito menos com uma série daqueles com quem preciso me relacionar diariamente.






Gostaria de parecer um “dois-de-paus” para todos, como dizia minha mãe sobre pessoas que não prestavam para nada. Mas preciso trabalhar, preciso sustentar minha família e, se não demonstrar um certo aguerrimento, comum as necessidades do ambiente, você é preterido àquele que se faz visível ao chefe. Neste ponto então me perco, precisaria apenas ser sociável e agir como todos os demais, porém existe uma ânsia medonha que não consigo aclamar, falando, gesticulando, opinando tão desmedida quanto desnecessariamente. Aí há a ruptura. Ora me mostro apático, querido, mas parecendo mal humorado; digno de dó. Ora um boçal arrogante aos olhos de muitos, ou seja; um cara esquisito.




A intenção destes apontamentos autobiográficos é questionar, jogar luz sobre o ser diferente. Quem consegue se manter seguro na sua personalidade ainda que o entorno cobre a igualdade!?! É claro que estou falando daquele que se arrisca ou por necessidade precisa conviver com tribos diferentes e não é o cara da vez a ter o saco puxado.




“Não é fácil entendê-los;

por sua vez,

a partir de determinado grau,

é impossível que nos entendam.”

 






Primeiro preciso esclarecer que não estou a falar com a classe marrenta, ou o birrento, o orgulhoso, ou aqueles que imitam seus heróis, seus ícones do
showbiz. Falo do homem lúcido, experiente, que conhece e chegou a maturidade por conta própria, dono de uma personalidade exemplar no que diz respeito a segurança de suas atitudes. O indivíduo que não quer o causar gratuito e não é uma cópia do que imagina ser; e soma a sua originalidade uma coleção – isto até é permitido – inteligente de comportamentos assistidos, agregados e necessários a todo homem distinto.



“Certos ‘esquisitos’ resistem,

entendendo que em algum grau

todos somos diferentes e;

mais importante:

temos o direito a nossa individualidade

desde que ela não invada o direito alheio.”


 

Por que estou insistindo nesta conversa vaidosa ou carregada de cores que parece remeter ao sujeito que busca um destacar aparentemente vazio? Primeiro que esta é uma leitura precipitada. Podemos ser devotos ao que quisermos; um pai exemplar, marido, ambos, professor e não jactar-se por isso. Ser e ponto.




“Somos críticos e a sociedade

é ainda mais crítica

com todo aquele

que entende ser esquisito

frente ao ordinário estabelecido.

De posse de uma consciência crítica

não concisa

é certo que o retorno ao rebanho

é inevitável.”

 





Mais importante e a síntese do exercício de hoje, é a singularidade. Ao longo do caminho somos confrontados com todo o tipo de pessoas e muitas estão mais preocupadas com o comportamento alheio que o seu próprio, e por quê? Elas estão adaptadas; não são motivo de observação por terem incorporado o que dita as convenções para as atitudes aprováveis à época, local, ou grupo. A maioria de nós, ao ser comparado aos esquisitos corrige a rota para que o adestramento faça efeito e a falha de ser notado como um diferente não mais apareça, mas alguns resistem, entendendo que em algum grau todos temos nossas peculiaridades e; mais importante: temos o direito a nossa individualidade desde que ela não invada o direito alheio.



Da minha parte entendo que o grande sentido da vida é amar a todos como iguais, porém conservando e defendendo nossas diferenças independentemente das pressões externas.

 

“Não maduro,

é quase impossível viver

algumas de nossas diferenças;

mantendo-as em relação

ao que convencionou

o senso comum.”




 
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Cacos de caos

 


Cacos de caos

Camuflados na matéria escura

Projéteis invisíveis atingem o planeta

Chuva ácida de particulados indistinguíveis

Sem norte não são respeitados os pontos cardeais

 


Cacos de caos

A imatéria assume a atmosfera

Visível apenas ao que enxerga o invisível

Vejo lágrimas artificiais penetrando olhos cegos

Direções opostas jamais trarão as respostas aguardadas

 


Cacos de caos

Ares de respirar insuportável

A miopia cegou qualquer visão além

Agora o choro vinga velhos mártires esfolados

Caminhos outrora invejados não apontam saídas fáceis



 
Cacos de caos

Ecos de caos a dizimar vontades

Na distopia despida a poesia agride o homem

Consuma-se repete o ávido enquanto rezam os fiéis

Campos enfim tomados não mais refletem o verde preterido

E na morte iminente também a certeza do cinza eterno

Por entre os escombros de sepulturas caiadas

Ouço o lastimar das súplicas antecedentes

Resultado medonho e inequívoco

Fragmentos de todos os caos

 


 A membrana quebradiça como um véu envolve o planeta qual corpo sem vida sempre negligenciado ocorre agora abandonado à sorte de leis outras que ditaram os versos finalizados em pó.

 



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A.C.

 


A dificuldade de referenciar alguns dos excepcionais textos de A.C. reside justamente no problema de citá-lo ao final da ideia.

 








...invariavelmente,

entre os medíocres intelectualoides

ou nos meios cujos membros,

a nada são referência.




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sábado, 12 de dezembro de 2020

Nubívago


 Meu apontar é mais, uma figura de linguagem, uma licença poética.

Não é possível falar sobre coisas neste momento – perante o volátil estado atual das coisas.

Tudo aqui são vieses e paralelismos; ser ou não ser.

Paradoxos ambíguos e indecifráveis; mesmo ao ocidental mais atento.


Instável; nossa passagem por entre estes vales é rápida demais para um aprofundar seguro somado ao nosso despertar, em se dando, ocorrer tarde demais para um guinar a abandonar hábitos para a excelência de observar outros mundos de representações; para um abranger concisamente acertado, mesmo decidido disciplinarmente a abster-se de distrações.

... mais uma doutrina, um exercício, uma meditação.

...particularíssima.

...pode ser um motivo de viagem para muitos, porém a visão – ou até o iniciar - de pesquisas exaustivas para alguns poucos.




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Da espetacularização das vozes que não se quer ouvir

 





Não sei até onde deveríamos concordar com esta espetacularização da voz da mulher e do elencar a fórceps do homem que vem sendo vitimado desde sempre, ao púlpito social, enquanto o sistema, pretensamente – por ora -, acata as vozes das ruas.









Uma vez que, mesmo nas ruas; escritórios e residências, a sociedade cuja regência discutível do “homem branco sempre no comando” continua com ainda mais afinco revelando sua gana de ter que suportar o – a eles - insuportável, aí revela-se – sempre nas sombras - o pior do ser humano; quando aquele que pode, que comanda: é obrigado a retrair suas garras por conta de um engodo superficial que o obriga a se mostrar conivente com o reboco plástico provisório.



*


Do suportar obrigatório daqueles que por conveniência se suportam  por comodismo ao caminhar ególatra escolhido - a dúvida é qual vertente dará frutos; o dobrar-se a inconsciência mantenedora de castas e viver em paz e harmonia revertendo as ações com o até então odiado ou arrefecer por ainda mais tempo o odiar malsão que os corrói até que suas vontades veladas retornem com ainda mais força?





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