“Ser
diferente
é viver o
constante questionar
em relação
ao comportar-se
quando este
envolve as diferenças
entre a sua
realidade
e a
constância comum
à maioria de
nós, e daí:
buscar
entender a
extraordinária
natureza
individual
de cada um.”
A palavra
título deste texto não condiz exatamente com os motivos que me levaram ao
exercício de hoje, ainda assim e porque um episódio marcou para sempre o pensar
a maneira como me comporto que entendi natural aponta-lo como preâmbulo ao mote
principal.
Dias depois
de ser admitido em uma empresa prestadora de serviços, um guri de pouco mais de
vinte anos - eu já contava quase cinquenta –, então colega de profissão, me
chamou de esquisito. Sou o rei dos apelidos; tanto os crio quanto recebo – não
relato isso com orgulho. Mas este, de um rapaz chamado Douglas que mais tarde
descobri ser um cara boa praça; sempre me vem à mente.
Com certeza
não tenho coragem de fazer uma declaração séria sobre minha personalidade
afirmando com uma boa média de acerto que é assim que as pessoas me veem.
Definitivamente não me arriscaria. Ainda que tenha certeza sobre as convicções
que escolhi deixar a mostra para obter um mínimo de convivência, de interação,
de coexistir social; volta e meia sou surpreendido por atitudes alheias, dando
prova de que meu julgamento - que trago como bastante próximo de uma
convivência harmônica - não tem se revelado aceitável em todas as situações;
muito menos com uma série daqueles com quem preciso me relacionar diariamente.
Gostaria de
parecer um “dois-de-paus” para todos, como dizia minha mãe sobre pessoas que
não prestavam para nada. Mas preciso trabalhar, preciso sustentar minha família
e, se não demonstrar um certo aguerrimento, comum as necessidades do ambiente,
você é preterido àquele que se faz visível ao chefe. Neste ponto então me
perco, precisaria apenas ser sociável e agir como todos os demais, porém existe
uma ânsia medonha que não consigo aclamar, falando, gesticulando, opinando tão
desmedida quanto desnecessariamente. Aí há a ruptura. Ora me mostro apático,
querido, mas parecendo mal humorado; digno de dó. Ora um boçal arrogante aos
olhos de muitos, ou seja; um cara esquisito.
A intenção
destes apontamentos autobiográficos é questionar, jogar luz sobre o ser
diferente. Quem consegue se manter seguro na sua personalidade ainda que o
entorno cobre a igualdade!?! É claro que estou falando daquele que se arrisca
ou por necessidade precisa conviver com tribos diferentes e não é o cara da vez
a ter o saco puxado.
“Não é fácil
entendê-los;
por sua vez,
a partir de
determinado grau,
é impossível
que nos entendam.”
Primeiro
preciso esclarecer que não estou a falar com a classe marrenta, ou o birrento,
o orgulhoso, ou aqueles que imitam seus heróis, seus ícones do showbiz. Falo do homem lúcido,
experiente, que conhece e chegou a maturidade por conta própria, dono de uma
personalidade exemplar no que diz respeito a segurança de suas atitudes. O
indivíduo que não quer o causar gratuito e não é uma cópia do que imagina ser;
e soma a sua originalidade uma coleção – isto até é permitido – inteligente de
comportamentos assistidos, agregados e necessários a todo homem distinto.
“Certos
‘esquisitos’ resistem,
entendendo
que em algum grau
todos somos
diferentes e;
mais
importante:
temos o
direito a nossa individualidade
desde que
ela não invada o direito alheio.”
Por que
estou insistindo nesta conversa vaidosa ou carregada de cores que parece
remeter ao sujeito que busca um destacar aparentemente vazio? Primeiro que esta
é uma leitura precipitada. Podemos ser devotos ao que quisermos; um pai
exemplar, marido, ambos, professor e não jactar-se por isso. Ser e ponto.
“Somos
críticos e a sociedade
é ainda mais
crítica
com todo
aquele
que entende
ser esquisito
frente ao
ordinário estabelecido.
De posse de
uma consciência crítica
não concisa
é certo que
o retorno ao rebanho
é inevitável.”
Mais
importante e a síntese do exercício de hoje, é a singularidade. Ao longo do
caminho somos confrontados com todo o tipo de pessoas e muitas estão mais
preocupadas com o comportamento alheio que o seu próprio, e por quê? Elas estão
adaptadas; não são motivo de observação por terem incorporado o que dita as
convenções para as atitudes aprováveis à época, local, ou grupo. A maioria de
nós, ao ser comparado aos esquisitos corrige a rota para que o adestramento
faça efeito e a falha de ser notado como um diferente não mais apareça, mas
alguns resistem, entendendo que em algum grau todos temos nossas peculiaridades
e; mais importante: temos o direito a nossa individualidade desde que ela não
invada o direito alheio.
Da minha
parte entendo que o grande sentido da vida é amar a todos como iguais, porém
conservando e defendendo nossas diferenças independentemente das pressões
externas.
“Não maduro,
é quase
impossível viver
algumas de
nossas diferenças;
mantendo-as
em relação
ao que
convencionou
o senso
comum.”
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