Metamorfosear-nos-emos em mil
arquétipos acessados
Cada qual com suas vontades
distintas
Onde os sentimentos alheiam
Consentimentos dispersos tomam o que
não era para si
Efêmera é nossa vontade agora
Não ser nossa não nos livra
Se a fenda a eles venda
O instrumento elas cegam
A natureza exige o varão
A vara maior leva um séquito
Tornado cetro se faz homem
O monte mais vistoso recebe o mastro
A prole vem abundante
Continuar dívidas impagáveis
Rezando a cartilha erudita
Tomando para si continuidades maçadas
Não há pecado onde não há lei
Todos se dão à bel prazer
Orgias desorganizadas mantêm a ordem
A força cobre com naturalidade
Dentro da lei o pecado impera
Poe medo receio e vergonha
Imersos no mais intenso prazer
O após cobra a carga do irmão
O gozoso e seus mistérios
O gozo após o gozo
Gozo após gozo
Não goze agora
Adão! Ah! Adão
Defloramos a Eva dia após dia
Entre carnificinas e feminicídios
E quando não... seu pecado está
lá... Adão
Ameniza a falta de tudo
E as interpretações criativas a rodo
Durante a vida o participar do jogo
Procurando alternativas a escapar do
fogo
Um que pensa tenta outra palavra
O que prega insiste com a hipocrisia
A mãe iludida protege e se afasta
Insaciável... o pai.. procura filhas
alheias
Incesto cercos e ataques ousados
O pecado é o maior gatilho para o
avanço
Sob poder ou força o fraco cede
Sob ameaça ou desespero... também
O grito rasga o silêncio forjado
Pior que ouvir é saber
Um láparo atingido em sua pureza
Pecado medo e negação ainda
assaltando
Que propósito tem agora o mundo
Que propósito a vida tem
Como planejar sem rumo próprio
Como encarar esquecendo o que houve
A natureza é perversa ou sábia
A natureza apenas é
Nada aqui é o que é... relaxa
Recomponha-se... tudo aqui é o que é
O segredo é que não há mistério
Diz o poeta “só há o ir”
Instruir-se ajuda o suficiente
Não incomodar-se faz o resto
Mas e o então
Não há senão
Tudo é
Nada
Está é a tragédia do homem
Tragédia é não decifrar o Amor
Ainda que ele não possa ser
decifrado
Porque não precisa
A chave é o simples
A beleza de ser homem
É ter sido homem
Homenagem à obra
“A tragédia
do homem”
e à Paulo
Rónai
*
O legado
Ainda que observemos
metamorfoses, aqui, ali, lá; infindáveis e em qualquer canto, sob os auspícios
do pecado: todo o prazer do encanto a dois acaba por morrer no nada na
observação de que ele pode ter se dado. Isso não é tua culpa infeliz, não é
culpa de ninguém, pois é certo que em seu ato original, Adão, vencido, também se arrependeu amargamente por não ter sido forte. Esta é a carga do ser
humano ordinário, enquanto continuar representando seu ancestral primeiro, dia
após dia, era após era.
No coito, cada um a
seu modo sente alguns desconfortos como herdade de seu ancestral primitivo.
Da série; Do
que se quer, do que vale e do que é
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