sábado, 3 de outubro de 2020

Da aceitação, da negação e da inversão


 

Se você não consegue ser empático ao menos politize a ação. Esta semana um dos meus colegas retoricamente perguntou ao outro; quem é você? Aludindo a questão de que somos uma soma de tudo aquilo que nos envolve desde a infância – observando apenas nossos limites físicos.


É divertido e pode até ser uma escolha acertada; por determinado período imitar um marrento do Hip Hop com seus correntões no pescoço, um Bad Boy do cinema, um troglodita do MMA ou um que outro sem noção qualquer do futebol que se apresenta todo emperiquitado ao assimilar por osmose o poder sedutor das marcas e objetos que ostenta. Porém tanto aqueles quanto eu, uma provável cópia esquisita, a cópia da cópia, preciso entender os limites. Antes de tudo é preciso ao menos perceber que aquilo não é você, quando então na vida real o estereótipo precisa ser deixado bem de lado. A vida real, ou o que entendemos dela, precisa; exige; a pessoa verdadeira por trás dos personagens.


O personagem que agride nos clips musicais e o brutamontes, queridinho da vez dos filmes de ação, não são os mesmos ao assinar contratos e ao educar os filhos. Um que outro que a anormalidade por n motivos tornou totalmente irresponsável por conta de sua fama ou histórico de fazer dinheiro, se mantém também em ambientes externos ao personagem, mas esse comportamento em um tempo ou outro precisará ser corrigido, do contrário não se manterá. A própria vida mostrará a ele seu lugar.




Na psicologia temos a aceitação e a negação; esta não é fácil de ser assumida e a aceitação é fácil de ser confundida. Por exemplo, entramos em um relacionamento viciante, com aquela pessoa que estávamos de olho, temos um trampo que dá pra se safar bem das vontades normais à juventude; participamos de grupos afins. Tudo as mil maravilhas; daí é fácil entender que nosso grau de aceitação está no nível máximo, porém aqui há o conflito com a negação, quando não buscamos olhar para fora deste vórtice egóico à procura de ações que agreguem valores ao que há de mais importante neste plano: a minha existência.




Aqui entra a inversão. A negação. A não aceitação de uma existência calcada na valoração da vida está diretamente ligada a este acolhimento ilusório mórbido do que dá somente prazer momentâneo. É ilegal isso? Não. É crime viver bem com o que escolhi? Não. Crime é não entender que para tudo existe um tempo, e mesmo dentro desta egrégora perniciosa é necessário observar momentos de lucidez para a prática, ou melhor, o não esquecimento de que tudo o que vivemos é momentâneo, passageiro, porém o que não está diretamente ligado às boas práticas é ainda mais fugaz.




Chegamos a um ponto bastante crítico da existência humana no que se refere ao indivíduo social – sociável. O mundo a cada dia mais parece seccionado entre o sim e o não. Ainda menos hoje procuramos entender o significado do “Caminho do Meio”. Caminho do Meio, inicialmente, é também, parar no meio do caminho e avaliar se minhas ações são tendenciosas ou não. Se sim; para que lado elas pendem? Se ainda aí constatamos uma resposta consciente, é preciso analisar um pouco mais a fundo; essa tendência tem a ver comigo? Quanto? E com o mundo? E com o universo? Daqui; destas respostas, é preciso ter discernimento para as correções devidas e retornar ao “Caminho do Meio”; novidade para muitos de nós e esquecimento para outros - quando nossas ações visam o nosso e o bem estar de todos.

 




Inicialmente, caso entendamos a proposta, mas não estamos familiarizados com as ações necessárias para os ajustes; praticar a empatia política, a afinidade ou reciprocidade estratégica não passional, porém inteligente, é a princípio um exercício e ótima mecânica para sair da inércia perniciosa.










Este pensar, bastante frio a princípio, é pertinente ao comportamento duro que viemos assistindo. A plasticidade, a hipocrisia, o engodo, a negação, o embate, o partidarismo agregado e interesseiro; o conluio faccioso e generalizado obriga-nos ao retorno; a um período pregresso. Quando a humanidade era guiada ainda aos auspícios tão somente da força bruta. Perdemo-nos há tempos e não tentamos corrigir a rota. Insistimos; fingimos preocupações enquanto a negação ganhava terreno. Hoje a força bruta cedeu lugar à ação de proto-mentes; que apenas pensam saber, que tem ao alcance o mais rico histórico de informações, sem o senso crítico minimamente necessário para deslindar, para fazer a conexão, a ponte entre o que têm a mão de mais precioso e a necessidade de interpretar e gerir a abundância de recursos. Tornamo-nos analfabetos amadores, nossas vontades estão atrofiadas. Preocupamo-nos em construir um castelo suntuoso e megalômano nos esquecendo durante seu planejamento que precisaríamos de esforços sobre-humanos para geri-lo.



...agora, somente nos resta a empatia para nos agarrar caso venhamos pleitear uma mudança real. A empatia como princípio é o princípio da guinada ao retorno. A empatia, inegavelmente, é nossa última cartada para um mínimo retroceder a inteligência coletiva.

*



Por agora fomos transformados.

Instrumentos; meras máquinas autômatas é o que somos.

Todas as nossas ações estão sendo praticadas visando um interesse ou outro, geralmente egoísta, não apenas no sentido ruim, onde prevalece a vontade individual.

Até nos envolvemos despretensiosamente no coletivo engajado; porém ainda aí há uma ou outra vertente particular.

Precisamos quebrar esta corrente egóica, este vórtice interesseiro.

Era preciso que cada um de nós entendesse que o fazê-lo individualmente não significa uma derrota, mas uma primeira e importante vitória - eu viverei observando, tendo como foco principal o bem estar de todos; este deve ser nosso mantra se pleiteamos algum tipo de mudança pessoal e coletiva.

É claro que preciso estar calçado para isso, ou seja, ter uma base mínima pra me e sustentar esta vontade, então entra outra questão; quanto é necessário possuir para iniciar este processo!?!

Dizemos; nada.

Para sorrir, para ser simpático e praticar a empatia basta querer.

Na mercearia, no condomínio, no futebol, no trabalho, na escola; simpatia; gentiliza.

Inicialmente, um empenhado exercício mental, programando, até que isto se torne um hábito.

Como?

Basta querer e se manter focado.

 

Da série; A simplicidade é a chave

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