Outrora a fealdade era usada para construir muros a fortalecer impérios; hoje, estes, protegidos, sob a licitação espúria de mão-de-obra proletária barata volta a erigi-los, agora, para afugentá-la.
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Outrora a fealdade era usada para construir muros a fortalecer impérios; hoje, estes, protegidos, sob a licitação espúria de mão-de-obra proletária barata volta a erigi-los, agora, para afugentá-la.
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- Sabe o que
é tortura, de verdade?
- Ouvir você?
- Tortura de
verdade não é dor física, mas sim a estupidez humana. Ser envolvido por ela, enterrado
por ela. Vida após vida. Pessoas com seus sorrisos estúpidos! Seus gracejos irritantes!
Suas necessidades de aprovação! Suas tentativas suntuosas de serem amadas e
reconhecidas! Elas estão andando; falando. São obituários na contracapa de um
jornal decadente, no fundo de uma gaiola, no canto de uma sala imunda de uma
velha acumuladora cheia de gatos.
- Você nunca
entenderá.
- E somos
forçados a conviver com eles para sempre. E de novo e de novo. Infinitamente.
- ...Amizade.
Amor. Ternura.
- Essa e a
verdadeira definição de tortura.
- Você ainda não
entende de Fé. Blá, blá, blá
No filme Infinite/2021
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Talvez desbravadores, bandeirantes, exploradores; quem sabe tivéssemos trabalhadores árduos ou meros visionários egoístas entre os escravagistas e colonialistas, porém, de forma alguma, heróis.
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A amargura
Deu-me um nó na garganta
Fez perder a
esperança
Que eu tinha
quando criança
Hoje vejo o tempo que passou
A amargura só
aumentou
E a esperança
nunca mais voltou
Sempre fui
esse pobre coitado
Jogado,
desamparado
E pra você,
que frio não passa
Nem fome, nem
desgraça
Talvez me
veja como bandido, marginal
Ou apenas
menino de praça
Não importa
se sou imoral ou anormal
Sei que por
você sou humilhado, esquecido, desprezado
Tudo que eu
queria que soubesse
É que por (conta
de) muitas como você
A amargura é
meu lar
Pois sou eu
Menor
abandonado
Rosângela Stononga
(Textos da
década de 80 da Minha Esposa, ainda muito jovem; artesanalmente ordenados como
um pequeno livreto, recentemente resgatado, que resolvi transcrever para este
espaço divididos em posts semanais)
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Sintam as
flores
Sintam os
caminhos
As montanhas
e os ventos
Sintam os
aromas que se entrelaçam
Enquanto o
pão cora
O tacho
derrete o doce
Os arredores
respiram em paz
Tudo é
harmonia
Cora vive
Homenagem a Cora Coralina
Comemoração da passagem dos seus 130 anos
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De inegável
tendência acomodada, todos nós, por motivos diversos somos acometidos de vontades, muito
provavelmente alheias: às conquistas; a um degrau superior ao atual; ou mesmo,
forçadas. Em determinado ponto cada qual tenta voltar ou estabelecer-se às
sensações vividas no acômodo original, porém, antagônico a este pensar, estudos
alertam para uma realidade paralela: que o existir humano é revolucionário e
que o transformar – tornar outro - faz parte de sua natureza instintiva. Neste
exercício interessa apenas tocar os intocáveis do primeiro grupo.
Angela Davis |
Como se
existíssemos dentro de um caldeirão, tentamos aí praticar vontades importantes
no mais das vezes, holisticamente, alheios ao processo. Uma gigantesca panela
universo cujas moléculas ativas, nós, fôssemos a todo instante acionadas por
outras moléculas inquietas e para o sim ou para o não o movimento de uma única
gera uma reação em cadeia e, portanto, como sempre temos milhões delas em
movimento constante, obrigatoriamente toda panela está em efervescência
permanente.
Fred Hampton |
Nesta movimentação infernal, aleatória e constante, não é fácil encontrar um remanso onde se viva minimamente alheio ao todo involuntário.
Frederick Douglass |
Todos, e a cada dia a esse “todos” somam-se novas estatísticas, são acometidos de vontades, obrigações, necessidades e sonhos sob os mais variados níveis de ímpeto, motivação e humores; vestidos de sentimentos vaidosos, heroicos, vis, egoístas, amorosos e comunitários sob o manto da justiça ou não, incrustados de sabedoria ou puros no ignorar; em uma trama impossível de ser desvendada.
Harriet Tubman |
Assisti neste final de semana; O messias e o judas negro. Um ponto totalmente fora da luta de classes despertou minha atenção. A polícia. Como “polícia” envolvo todo o processo de justiça; o policiamento social e todo o aparato para manter a lei e a ordem. No filme os policiais são denominados de “porcos”.
Malcolm X |
Um pequeno aparte; durante este exercício uma questão momentaneamente ataca minha inquieta mente com mais energia: quanto deste aparato serve mais aos senhores que a lei e a ordem?
Martin Luther King Jr. |
Sei que é impossível usar a razão para fazer uma revolução, porém no filme isto fica claro, afinal eles se revoltam conta os “porcos” quando esses são sempre instigados por seus “patrões” a fazer o que ditam as leis a que estão submetidos.
Nat Turner |
Usando da minha “Análise da Rebentação”, cuja dificuldade de vencê-la dá ao náufrago acossado a possibilidade de, em mar aberto, investir para um possível resgate. No entanto o filme aponta que o corpo policial nem de longe é seu pior pesadelo. Afinal, eles são instigados a agir, e antes de tudo, ser policial é estar empregado, sustentar-se e com uma ressalva muitíssimo importante, figurar em uma carteira que o diferencia daqueles que são iguais a você, que, não possui credenciais para a truculência, muitas vezes impune. Então temos o item mais desafiador, quem ali se emprega dificilmente quer deixar as colunas e se procurarmos entre os pré-revolucionários, muitos não pensarão duas vezes antes de mudar de lado, mas esse senário ocorre somente se faltar mão-de-obra do lado oposto, onde residem centenas de milhares que não são a favor da revolução; buscam qualquer coisa para sua manutenção e se não o são: facilmente serão incitados contra a causa.
Rosa Parks |
Martin Luther King, Rosa Parks, Malcolm X, Steve Biko e o próprio Fred Hampton são e serão para sempre heróis juntos a todos aqueles que os seguiram pela causa dos homens negros. Devemos somar também aqui, todos os defensores que sempre ousaram atacar a ordem estabelecida a lutar por um único humano não reconhecido como homem, mulher e tantos outros excluídos, escorraçados e invisíveis que possuem um coração pungente no peito.
Steve Biko |
As pequenas revoluções, como a de Fred Hampton, precisam ser ainda mais valorizadas que àquelas que mudaram o rumo de nações e impérios, porque essas foram movidas mais por paixões que necessidades. Estas são revoluções que não puderam se dobrar à razão pura e simples, se o fizessem não as teríamos, porém essas, viscerais, vieram, forram arrancadas ou saltaram direto de corações inflamados, do senso de justiça, do inconformismo com o absurdo.
Thurgood Marshall |
Seria melhor perder a vida lutando por uma causa perdida que viver acomodado sob o jugo de forças enraizadas na ignorância. E graças a estes Grandes Heróis, pessoas de bem, apesar de continuarem sobrevivendo sob o jugo de culturas traiçoeiras, paulatinamente estão sendo, ainda que muito aos poucos, reconhecidas. A demora talvez seja porque não é fácil juntar, neste turbilhão de células, aqueles que, quais nossos heróis, decifraram o significado da máxima: “Onde houver pessoas há poder”.
Zora Neale Hurston |
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Toussaint Louverture |
Fuja dos elogios,
sempre, como o diabo foge da cruz; porém quando se é um velho, deitar-se sobre
essa cama traiçoeira é terminantemente desaconselhável, afinal é dificílimo ao
presunçoso distinguir entre o elogio e a ação obrigada de respeito a talvez, um
imodesto que continua não se dando conta de tratar-se, no fim dos dias, de mero
depauperado senil.
Estes são
tempos áridos. Que eu obtenha a senilidade lúcida, ao menos aqui; demonstrando
ser possível que um tolo possa ter gerado algo melhor que um fanfarão decrépito.
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não está
pronto para viver."
Martin Luther King Jr.
A morte é
respeitada como extensão da vida ao verdadeiro apaixonado pela justiça; jamais
temida.
Um Martin
Luther King não poderia pensar algo diferente da morte, ou não seria o que é.
A Verdadeira
Revolução é estribada na paixão.
"É sempre o tempo certo para fazer o que está certo."
Martin Luther King Jr.
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