De inegável
tendência acomodada, todos nós, por motivos diversos somos acometidos de vontades, muito
provavelmente alheias: às conquistas; a um degrau superior ao atual; ou mesmo,
forçadas. Em determinado ponto cada qual tenta voltar ou estabelecer-se às
sensações vividas no acômodo original, porém, antagônico a este pensar, estudos
alertam para uma realidade paralela: que o existir humano é revolucionário e
que o transformar – tornar outro - faz parte de sua natureza instintiva. Neste
exercício interessa apenas tocar os intocáveis do primeiro grupo.
Angela Davis |
Como se
existíssemos dentro de um caldeirão, tentamos aí praticar vontades importantes
no mais das vezes, holisticamente, alheios ao processo. Uma gigantesca panela
universo cujas moléculas ativas, nós, fôssemos a todo instante acionadas por
outras moléculas inquietas e para o sim ou para o não o movimento de uma única
gera uma reação em cadeia e, portanto, como sempre temos milhões delas em
movimento constante, obrigatoriamente toda panela está em efervescência
permanente.
Fred Hampton |
Nesta movimentação infernal, aleatória e constante, não é fácil encontrar um remanso onde se viva minimamente alheio ao todo involuntário.
Frederick Douglass |
Todos, e a cada dia a esse “todos” somam-se novas estatísticas, são acometidos de vontades, obrigações, necessidades e sonhos sob os mais variados níveis de ímpeto, motivação e humores; vestidos de sentimentos vaidosos, heroicos, vis, egoístas, amorosos e comunitários sob o manto da justiça ou não, incrustados de sabedoria ou puros no ignorar; em uma trama impossível de ser desvendada.
Harriet Tubman |
Assisti neste final de semana; O messias e o judas negro. Um ponto totalmente fora da luta de classes despertou minha atenção. A polícia. Como “polícia” envolvo todo o processo de justiça; o policiamento social e todo o aparato para manter a lei e a ordem. No filme os policiais são denominados de “porcos”.
Malcolm X |
Um pequeno aparte; durante este exercício uma questão momentaneamente ataca minha inquieta mente com mais energia: quanto deste aparato serve mais aos senhores que a lei e a ordem?
Martin Luther King Jr. |
Sei que é impossível usar a razão para fazer uma revolução, porém no filme isto fica claro, afinal eles se revoltam conta os “porcos” quando esses são sempre instigados por seus “patrões” a fazer o que ditam as leis a que estão submetidos.
Nat Turner |
Usando da minha “Análise da Rebentação”, cuja dificuldade de vencê-la dá ao náufrago acossado a possibilidade de, em mar aberto, investir para um possível resgate. No entanto o filme aponta que o corpo policial nem de longe é seu pior pesadelo. Afinal, eles são instigados a agir, e antes de tudo, ser policial é estar empregado, sustentar-se e com uma ressalva muitíssimo importante, figurar em uma carteira que o diferencia daqueles que são iguais a você, que, não possui credenciais para a truculência, muitas vezes impune. Então temos o item mais desafiador, quem ali se emprega dificilmente quer deixar as colunas e se procurarmos entre os pré-revolucionários, muitos não pensarão duas vezes antes de mudar de lado, mas esse senário ocorre somente se faltar mão-de-obra do lado oposto, onde residem centenas de milhares que não são a favor da revolução; buscam qualquer coisa para sua manutenção e se não o são: facilmente serão incitados contra a causa.
Rosa Parks |
Martin Luther King, Rosa Parks, Malcolm X, Steve Biko e o próprio Fred Hampton são e serão para sempre heróis juntos a todos aqueles que os seguiram pela causa dos homens negros. Devemos somar também aqui, todos os defensores que sempre ousaram atacar a ordem estabelecida a lutar por um único humano não reconhecido como homem, mulher e tantos outros excluídos, escorraçados e invisíveis que possuem um coração pungente no peito.
Steve Biko |
As pequenas revoluções, como a de Fred Hampton, precisam ser ainda mais valorizadas que àquelas que mudaram o rumo de nações e impérios, porque essas foram movidas mais por paixões que necessidades. Estas são revoluções que não puderam se dobrar à razão pura e simples, se o fizessem não as teríamos, porém essas, viscerais, vieram, forram arrancadas ou saltaram direto de corações inflamados, do senso de justiça, do inconformismo com o absurdo.
Thurgood Marshall |
Seria melhor perder a vida lutando por uma causa perdida que viver acomodado sob o jugo de forças enraizadas na ignorância. E graças a estes Grandes Heróis, pessoas de bem, apesar de continuarem sobrevivendo sob o jugo de culturas traiçoeiras, paulatinamente estão sendo, ainda que muito aos poucos, reconhecidas. A demora talvez seja porque não é fácil juntar, neste turbilhão de células, aqueles que, quais nossos heróis, decifraram o significado da máxima: “Onde houver pessoas há poder”.
Zora Neale Hurston |
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Toussaint Louverture |