sábado, 14 de agosto de 2021

“Viés para o presente”

 





Sou antes de tudo um pinçador. Para assim autodenominar-se é necessário estar aberto ao universo. Do ordinário ao imaginário criativo; plástico. Sempre fui um entusiasta tagarela. Nasci pobre e isso têm lá suas vantagens. Se as oportunidades para ser alguém no sentido material sobram para o bem-nascido o vingado na pobreza depende da curiosidade para dar seu jeito.







Ao que me lembre, por um bom par de anos não ousei pensar sobre o que realmente queria da vida. Sobrevivi sob instinto até pouco mais de duas décadas de existência. Sempre querendo, e “sartando” logo depois para algo ainda não imaginado. Não digo que vivia o dia-a-dia de um irresponsável. Nada. Aos dez anos, quando iniciei minha vida profissional como entregador de pastéis fui despertado para a responsabilidade da necessidade do trabalho – não havia outra saída e não sabia ser reclamão, aprendi a ser manhoso; mais de choramingão mesmo, de “melodramático” – sempre me apequenando. Cada um luta com as armas que tem.





Em determinada altura dos perrengues a coisa explodiu no lance do “tudo ao mesmo tempo agora”; quando me vi - ou melhor, acredito que só enxerguei alguma coisa aos cinquenta - meio século de atropelos havia se passado. E o rescaldo era juntar as quimeras materiais de uma vida atropelada sem planejamento, materialmente, matrimonialmente, comercialmente e profissionalmente falando, e a única solução foi “descartar aquele couro surrado”.





Esta semana tive contado com a expressão “viés para o presente”; ao ler uma matéria de Keitiline Viacava – pra tudo essa gente inventa nome; legal. Essa expressão diz respeito as decisões envolvendo situações do agora projetando resultados futuros; sobre as consequências que não podemos prever a partir de escolhas que fazemos no presente.





Despreparado e diante das incorrigíveis destemperanças e aos humores normais a alguém que não tem opção alguma de escolha ou que ao precisar decidir, normalmente é oito ou oitenta, portanto fácil no instante e uma incógnita dois, dez ou noventa anos depois; sempre acorri a petições mal elaboradas, penso agora tenham sido elas a me suportarem. Ser pobre é uma graça se aprendêssemos ainda na adolescência o valor das descobertas, dos desdobramentos de uma vida vivida com mais responsabilidades. Porém entre a teoria e a prática existe a prática, e então, já viu!?!





Porém meu espaço não é material. Não é profissional este momento. Meus exercícios de escrita têm, sempre, o viés metafísico e a matéria da Keitiline não tem esse viés, no entanto, ao ler, a todo instante era remetido às ações nossas, diárias, que cometemos e serão antes ou depois de nos libertarmos dessa gaiola corpo colocadas diante das nossas consciências tendo esses resultados nascidos, ou sido originados de mentes dotadas de ciência ou não!?!





A autora aponta observações a serem levadas em consideração antes das tomadas de decisões ponderando o espaço/tempo entre elas e os resultados/consequências embarcados, saliento: em um mundo conturbado, urgente, louco, amador, exigente, violento, injusto, social familiar e particularmente, para um contingente a cada dia mais expressivo: conectados a muitas horas de entretenimento.





Sendo um pinçador, como me coloquei, minhas primeiras curiosidades, nos 70’s, se atentavam para músicas e letras, então foi para os acontecimentos contemporâneos imediatos, a revolta com o sistema, normal ao jovem pobre; até descobrir a existência do mundo espiritualizado e então a filosofia dos alemães, dos pré-socráticos e finalmente associar estas duas correntes de pensamento a observações do comportar humano.





Nossas escolhas associadas às ponderações e considerações, todas e da imensa maioria tendem ao universo palpável. A construção da vida contemporânea não priorizou escolhas com tendências reais ao sagrado. E ainda que o mundo político oriental por exemplo, não me agrade, a filosofia da paciência, das escolas que ensinam a riqueza da resiliência contida no suportar consciente, do esperar, somado aos escritos filosóficos humanos e as significativas ações resultantes de exaustivas pesquisas sobre o universo como um Todo Inexorável, fez com que minhas oportunidades minguassem a partir da metade do meu existir, profissionalmente falando; no entanto abriu-me a mente para a importância da necessidade de o mental voltar a se comunicar com o coração.






073.u cqe