Sou antes de
tudo um pinçador. Para assim autodenominar-se é necessário estar aberto ao
universo. Do ordinário ao imaginário criativo; plástico. Sempre fui um
entusiasta tagarela. Nasci pobre e isso têm lá suas vantagens. Se as
oportunidades para ser alguém no sentido material sobram para o bem-nascido o
vingado na pobreza depende da curiosidade para dar seu jeito.
Ao que me
lembre, por um bom par de anos não ousei pensar sobre o que realmente queria da
vida. Sobrevivi sob instinto até pouco mais de duas décadas de existência.
Sempre querendo, e “sartando” logo depois para algo ainda não imaginado. Não
digo que vivia o dia-a-dia de um irresponsável. Nada. Aos dez anos, quando
iniciei minha vida profissional como entregador de pastéis fui despertado para
a responsabilidade da necessidade do trabalho – não havia outra saída e não
sabia ser reclamão, aprendi a ser manhoso; mais de choramingão mesmo, de
“melodramático” – sempre me apequenando. Cada um luta com as armas que tem.
Em
determinada altura dos perrengues a coisa explodiu no lance do “tudo ao mesmo
tempo agora”; quando me vi - ou melhor, acredito que só enxerguei alguma coisa
aos cinquenta - meio século de atropelos havia se passado. E o rescaldo era
juntar as quimeras materiais de uma vida atropelada sem planejamento,
materialmente, matrimonialmente, comercialmente e profissionalmente falando, e
a única solução foi “descartar aquele couro surrado”.
Esta semana
tive contado com a expressão “viés para o presente”; ao ler uma matéria de
Keitiline Viacava – pra tudo essa gente inventa nome; legal. Essa expressão diz
respeito as decisões envolvendo situações do agora projetando resultados
futuros; sobre as consequências que não podemos prever a partir de escolhas que
fazemos no presente.
Despreparado
e diante das incorrigíveis destemperanças e aos humores normais a alguém que
não tem opção alguma de escolha ou que ao precisar decidir, normalmente é oito
ou oitenta, portanto fácil no instante e uma incógnita dois, dez ou noventa
anos depois; sempre acorri a petições mal elaboradas, penso agora tenham
sido elas a me suportarem. Ser pobre é uma graça se aprendêssemos ainda na
adolescência o valor das descobertas, dos desdobramentos de uma vida vivida com
mais responsabilidades. Porém entre a teoria e a prática existe a prática, e
então, já viu!?!
Porém meu
espaço não é material. Não é profissional este momento. Meus exercícios de
escrita têm, sempre, o viés metafísico e a matéria da Keitiline não tem esse
viés, no entanto, ao ler, a todo instante era remetido às ações nossas,
diárias, que cometemos e serão antes ou depois de nos libertarmos dessa gaiola
corpo colocadas diante das nossas consciências tendo esses resultados nascidos,
ou sido originados de mentes dotadas de ciência ou não!?!
A autora
aponta observações a serem levadas em consideração antes das tomadas de decisões
ponderando o espaço/tempo entre elas e os resultados/consequências embarcados,
saliento: em um mundo conturbado, urgente, louco, amador, exigente, violento,
injusto, social familiar e particularmente, para um contingente a cada dia mais
expressivo: conectados a muitas horas de entretenimento.
Sendo um
pinçador, como me coloquei, minhas primeiras curiosidades, nos 70’s, se
atentavam para músicas e letras, então foi para os acontecimentos
contemporâneos imediatos, a revolta com o sistema, normal ao jovem pobre; até
descobrir a existência do mundo espiritualizado e então a filosofia dos
alemães, dos pré-socráticos e finalmente associar estas duas correntes de
pensamento a observações do comportar humano.
Nossas
escolhas associadas às ponderações e considerações, todas e da imensa maioria
tendem ao universo palpável. A construção da vida contemporânea não priorizou
escolhas com tendências reais ao sagrado. E ainda que o mundo político oriental
por exemplo, não me agrade, a filosofia da paciência, das escolas que ensinam a
riqueza da resiliência contida no suportar consciente, do esperar, somado aos
escritos filosóficos humanos e as significativas ações resultantes de
exaustivas pesquisas sobre o universo como um Todo Inexorável, fez com que
minhas oportunidades minguassem a partir da metade do meu existir,
profissionalmente falando; no entanto abriu-me a mente para a importância da
necessidade de o mental voltar a se comunicar com o coração.
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