Prostrado diante da força de portentosos muros de pedras parecendo esquecidos pelo tempo experimentei um misto de êxtase em meio a ânsia normal ao instante. A dúvida é a sensação maravilhosa a todo aquele que entende que o medo precisa ser substituído. No seu lugar, a segurança do eterno desconhecido.
Segui um muro
sem fim que se distendia em direção às colunas maiores avistadas entre as
brumas de mais uma manhã que prenunciava grandes novidades entre as
expectativas que tentava em vão aplacar – minha imaginação incontrolável a
ofuscar o agora que se esvai para sempre. Como moderar entusiasmos frente ao
ineditismo?
A muralha
apontava a um aglomerado com nove colunas que bifurcavam o acesso à frente do
majestoso monumento. À primeira vista não parecia abandonado ainda que todo o
conjunto, inequivocamente, não aludia à presença humana. Era obvio que a
natureza intocada por todo o espaço comandava a organização das cores e tamanhos
das espécies distribuídas em harmonia. As nove colunas se agigantavam a ponto
de meu caminhar parecer ainda mais lento. A medida que avançava meus olhos não
se detinha a nenhum ponto exclusivo. Tudo possuía; tudo era digno da mais
demorada atenção – disparos incontidos. Novamente, vórtices de observação eram
acionados e explodiam como fogos de artifícios aleatórios. Cores e sons se
entrelaçavam entre habituais, esquecidos e exclusivos; nitidamente próximos,
porém de difícil detecção. Intrigantemente indescritíveis. Preenchendo e
atravessando todos os espaços ante a ouvidos congestionados a capturar sons
impossíveis de serem dimensionados. Detive-me mais demoradamente às colunas -
uma a uma -; cada qual encimada com sua figura específica. Efígies
desconhecidas e dos mais variados aspectos - ou espectros? Indecifráveis.
Sentinelas; titãs a observar todo o espaço/tempo muito além das sensações
decifradas. Consegui refletir em um pequeno lapso que, Força; Convicção;
Intensidade; Coragem; Soberania, adquiriam ali Significados Puros e
Verdadeiros. Nove seres colossais; de grotescas e poderosas a sensíveis e
atemporais nada lembravam nossas réplicas inanimadas.
Cada bloco de
pedra, da base de sustentação ao pé das figuras traziam inscrições distintas e
inclassificáveis. Sinais e ícones impressos que ao longe remetiam a traçados
paralelos, quando próximo, se mostravam linhas intermitentes com padrões
inegáveis ou o que a princípio pareciam pontos cuidadosamente esculpidos e
distribuídos entre signos ao longo de duzentos pés ou mais. O conjunto de
blocos da base cujos monólitos não eram inferiores a dez metros cúbicos cada
um; se meus olhos não me traíram em uma ilusão de ótica: lentamente se
inclinavam, convergindo para seu centro. Dispostos de forma que dois portões
monumentais não fossem avistados senão antes dos dois últimos obeliscos,
destacando-se do extraordinário átrio milimetricamente projetado que
complementava o quadro e impossível de ser observado como um todo; projetados
de forma que as perspectivas combinadas no processo valorizassem a distinção
dos objetos que compunham a obra.
Outra obra extraordinária.
O portão ricamente esculpido; entalhado em um misto de ferro bruto e madeira,
na espessura de cerca de cinco pés. Reproduzia figuras e símbolos combinados a
hieróglifos ricamente ornados a ouro, prata e cobre, e se lançava ao que
pareceu ser construído com vinte metros de altura entre duas colunas
majestosas; réplicas - porém não menos ornadas que suas nove irmãs que as
antecediam.
Sentei em uma
pequena pedra, para contemplar o espaço entre estas obras faraônicas, que se
harmonizavam perfeitamente com a natureza local, a qual já havia me acostumado
após atingidos quase três meses de caminhada neste reino até então
desconhecido.
Seria esta
fortaleza o destino final das minhas buscas naquele plano que parecia estar abandonado, ainda que minuciosamente
organizado? Até então não havia feito contato com viva alma. Seriam seus
habitantes constituídos de material sensível aos meus olhos?
Atacado por alucinadores
espasmos de vórtices plurais de energias; diante do portal, mais maravilhado
que cansado, ainda que a ânsia vã fôra minimamente contida ao longo do caminho,
não conseguia esquecer o que meu Mestre havia narrado...
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