A fuga de nós
mesmos tornada instinto
Luther é uma
série interessante se fugirmos do lugar comum, isto é, se abandonados os
clichês, as alegorias e o fantástico do enredo utilizado para amarrar as
pontas. Ao avançar da série é possível, a partir de uma conferida mais apurada,
perceber que ao final do último capítulo da primeira sessão, - fui até a última
por conta das minhas leituras particulares, do meu laboratório para neste
momento fundamentar meus argumentos - por exemplo, como sempre, pontos nevrálgicos
serão repetidos a exaustão.
Primeiro ponto de importância no seriado é sobre a abstração do povo londrino. Proprietários de uma segurança incomum, invejável ao distraído, portanto: presas fáceis. Entregues, são pegos em suas inércias cotidiana no metrô, no trabalho, em casa, nos trajetos e principalmente quando envolve um ambiente de entretenimento, embora esse, se foi uma estratégia da produção ou não, a abstração é aceitável.
Um segundo
ponto é que o protagonista, ainda que um cara bastante justo e aguerrido em seu
princípio de cumprir com profissionalismo a comenda de inspetor; em todos os
capítulos é perseguido como um disfarçado, manipulador, fingido, ardiloso, etc.
Alguém que não é o que demonstra. Porém nesse caso, afora a inveja humana que
corrói o altruísmo, boa parte do distrito - ou seja lá como se chama uma
delegacia em Londres - o espreita com desconfiança; e tem lá suas razões, é
verdade – do outro lado, nós, expectadores, sabemos que nunca é por uma causa
espúria. Ao final descobrimos que seu carma se resume no mote de que não
importa seu ótimo desempenho ou que na maior parte do tempo haja como um
modelo; exemplo a ser seguido; todos, em algum memento, o olharão com
desconfiança, e a maioria, sempre.
Imaginei nosso sistema como um todo; sou periférico de quem? No seriado pessoas boas demais, justas, corretas, trabalhadoras, importantes, foram sacrificadas para salvar direta ou indiretamente ou ainda levantar mais suspeitas sobre o agente, no entanto Luther, como não poderia ser diferente, é brilhante no que faz. Esta dinâmica levanta questão sobre a nossa importância, partindo do princípio que escolas defendem que todos somos importantes para o Sistema Universal; O Todo. Ao observar que, ótimas pessoas e profissionais dedicados ou bastante competentes são assassinados ou morrem a todo instante. Agentes, policiais, bombeiros, enfermeiras, professores, e membros de tantas outras ocupações lutando para salvar pessoas de toda ordem. Valendo da observação anterior ao apontar que a população de Londres coabita uma metrópole como se existissem apenas as prioridades de cada um; até onde seria interessante fazer valer a pena o trabalho de tantos que morrem em nome da nossa tranquilidade e então torná-la verdadeira por conta de uma consciência de que dependemos muito mais de nós – e desses - do que de pessoas que não estão nem aí se vamos morrer todos, como no filme “Não olhe para cima”? Ao purgar em um grito toda a sua indignação; “Todos vão morrer; porra”, em um visível ataque de nervos, totalmente lógico, diga-se de passagem; enquanto todos ao lado parecem julgar apenas o descontrole da cientista, nos pareceu que o diretor através da síncope, busca chacoalhar a plateia ao levantar questão de que parece que nos esquecemos de que estamos vivos e da importância dessa realidade, aliás, uma das poucas que nos resta.
055.v cqe