sábado, 25 de maio de 2024

Hein? Saio

 









Somente aquele, dono de um papo reto, descobre que as regras servem apenas à dois tipos de homens; aos inconsequentes, e àqueles que ainda não perceberam isso.












Por falta de respeito, competência, cultura de irmandade e até, pieguice, por exemplo; as regras existem — uma série delas, criadas e mantidas para aquecer a empregabilidade de técnicos — quando sérias, para demarcar ações permissíveis, limítrofes; tão necessárias quanto essenciais para o bom andamento de qualquer engenho. E isto se dá devido a disparidade de entendimento entre os personagens envolvidos, que farão parte e aos destinados, ao bom resultado do processo.











Porém não é somente isso; uma vez cônscio de que a necessidade inegociável das normas e procedimentos são regulamentos que, com o passar do tempo, em algum grau se tornarão desnecessárias caso os indivíduos atinjam um tal nível de entendimento equânime ao que se vale, ainda assim o membro conscientemente lúcido desta verdade não pode se antecipar em quebrar um único princípio, por mais obsoleto que seja; ele, obrigatoriamente — ao menos aos olhos dos outros , precisa continuar seguindo as regras, justamente por conta da disparidade de entendimento afirmada anteriormente, afinal, é longa a caminhada até que boa parte dos envolvidos nos inúmeros sistemas regrados entendam que existem indivíduos que podem alcançar um estado consciente de tal monta à adquirir salvo conduto para não necessariamente seguir algumas regras ultrapassadas que não fazem sentido serem mantidas para pessoas de entendimento avançado.

 















“Não nasci para andar na faixa, mas não consigo me livrar das linhas do titereiro” — Amal

 



















Homenagem a Simone de Beauvoir










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Uma dor a mais

 







Ao velho consciente não importa o grande passado que carrega às costas frente ao futuro derradeiro, exíguo e claudicante que lhe resta, seu castigo maior reside em não poder alertar àqueles que permanecerão, sobre o quanto, como ele em suas idades, estão enganados.




*




O rico disse: “Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento.” — Mas Abraão respondeu: “Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem!” — “Só isso não basta, Pai Abraão!”, respondeu o rico. “Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles, aí eles se arrependerão dos seus pecados.” — Mas Abraão respondeu: “Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite.” — Lucas 16:27-31



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Kolory zla. Czerwien



Tá explicado

 







O ônibus chega e entramos juntos. Meu colega de trabalho escolhe o banco imediatamente à minha frente, senta, e de pronto aciona a alavanca para deitar o banco, cometendo uma atitude que me incomoda e que, obviamente, reprovo. Recolho-me rapidamente para não ser acertado no nariz, abaixo a cabeça. Mesmo sem testemunhas, finjo que não é comigo, que não vejo, que não me incomodo e enquanto busco meu livro na mochila, em seu telefone aciona sua música predileta em um volume a ele, também normal, porém incômodo aos demais. Ouvindo o estilo compreendo suas atitudes, e juntos, eu e meu estranhamento nos recostamos entregues à leitura, me recolhendo ainda mais; tudo é condizente com o estado que se apresenta.

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sábado, 18 de maio de 2024

Escambo altruísta

 











O conhecia há anos; sua fama de lealdade ao bom caminho o precedia, nunca havíamos conversado. O respeitava demais para me aproximar, então aconteceu; e depois de suas palavras honestas, na busca de humildemente agradecer todo o respeito desprendido com alguém que pouco lhe dizia respeito, respondeu.













“Por favor, não me bajule, muito menos me enalteça, afinal sempre há uma troca quando duas ou mais pessoas se encontram. Confesso que não sei quanto de orgulho, interesse, vaidade e egoísmo ainda carrego em meu coração, portanto, não me agradeça. O que pratico o faço porque posso, portanto, não me valorize. Todos precisamos de algo para melhorarmos como indivíduos que outros, naturalmente, possuem, nossa vida gira em torno de um eterno escambo. Um precisa o que o outro tem e o que nada possui, sempre possui algo que possa ser compartilhado. Trabalhamos de forma egoísta, se você me atende não necessariamente eu devo algo em troca, e sim, no máximo, ao mundo; há alguém outro que necessita do que posso oferecer. Enquanto entendermos correto retribuir apenas àquele que nos auxiliou, pode que este jamais venha precisar de algo, quando ao contrário, se devolvêssemos o favor aos outros sem escolher à quem, lembrando do que recebemos, esta cultura de troca de favores generalizada deixaria de ser egoísta.”










“Vou te contar uma curiosidade; apropriada para este momento.”











“Em um recanto inóspito, nas profundidades das florestas de um país chamado Papua-Nova Guiné, em meio a centenas de tribos, há uma única, Kondorowai; Kondorowai significa Grande Pássaro Protetor dos Vales. Alguém que me é muito especial me contou uma história que ilustra esse assunto. Diz-se, que é natural entre os nativos daquela pequena tribo, não cultuar o agradecimento como um de seus costumes. Entre eles o doar-se a comunidade, o auxiliar, o emprestar, o desprendimento em favor de um membro da tribo é absolutamente natural e entre eles não existe a mínima menção a uma mesura que imite o que conhecemos por cordialidade em agradecimento ao terceiro, embora eles a pratiquem de uma forma generalizada. Agem como se tudo pertence a todos, e é visível, contam os raros historiadores que tiveram o privilégio desse contato, o sentimento de uma aura de harmonia que impera entre os membros. Cultuam sim, uma reverência única, aos Espíritos dos Seres Animados e Inanimados. Também a partir de relatos destes contatos, notas dão conta de que jamais houve uma desavença entre os membros de sua pequena população.













“Entre nós, estudiosos do comportamento humano, entendemos que a necessidade de agradecer deu forças ao egoísmo.”














Minha consideração para com este raro senhor que tem a fama de não diferenciar os mundos, como se os planos intra e extraterrenos e atemporais fizessem parte de seu cotidiano; não me permitiu que o questionasse se a tribo ainda existia nos tempos atuais, materializada nos confins das florestas daquele país, afinal é uma bela história e a considerei com o devido respeito, principalmente porque elegia uma condição de não violência, de comportamento exemplar de um grupo de pessoas; totalmente ao contrário do que as especulações generalizam sobre as tribos daquele país.








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Um pouco (mais) disso

 








Com a “Bondade Natural” perdida, abandonada, houve a necessidade de um alinhamento de ideias transformadas em leis para conter a sanha animalesca dos mais fortes. A criação de um estado dominante apenas cabresteou estes animais, enjaulou-os a canetadas.








Uma brecha na sela - Alguns foram amansados e já não avançam contra as grades, mas a grande maioria manteve seus rancores secretamente, não tratados, enrustidos; e com a rapidez com que a tecnologia avançou sobre o cotidiano das pessoas, muito mais rápido que o velho pensar retrogrado, inerte e adormecido do estado; esse lado obscuro pôde vir à tona por parte de muitos de nós, em forma de notas maldosas nas Redes Sociais do mundo inteiro ou dando vasão a libertinagens e barbaridades de toda ordem em um universo com pouco ou nenhuma regulação,  apontando de forma visceral o, como somos, escancarado personalidades doentes em compartilhamentos desastrosos entre nossas telas, arregimentando e até mesmo viciando, todo o tipo de desavisado.










Mais rápido que os armadores de contratos - Ainda sem leis adequadas, gordo, lento e ocupado com suas mazelas protecionistas, o leviatã se vê enleado em seus próprios tentáculos até conseguir conter rompantes de indivíduos que enxergaram nas redes uma forma de expor uma espécie de liberdade descontrolada que jamais haviam experimentado. Ruidosos, de índoles brutalizadas, não conseguem diferenciar razão de sentidos justamente por conta de os contratos anteriores os manter como reles.









Impacto dos pactos – Não seria a soma de instintos adormecidos, beirando a animalidade com a má gestão de séculos de contratos montados à revelia e mantidos sob a truculência de um estado em descompasso com o processo de Evolução Universal que originou esta sociedade que prima o ilógico, originando rebentos desarrazoados e bestiais que atualmente se mostram em barbáries incompatíveis se observadas sob o aspecto comparativo com algumas centenas de anos?



*








O parcial insucesso do Iluminismo e de tantas outras correntes de pensamento voltadas a uma correção honesta, na tentativa de defender a natureza altruísta humana, não necessariamente falharam, afinal seus objetivos foram eternizados, porém o estado atual demonstra que apenas boas vontades de alguns obstinadamente engajados não conseguiram estancar duas correntes poderosas que age em cada um dos indivíduos: o instinto de sobrevivência somado a necessidade – comprada - de superar o outro; ou seja, pouco se pode fazer para que, continuada esta corrente, consigamos vencer o egoísmo que vem ganhando forças ao longo da nossa evolução, justamente por força da arregimentação de membros em agrupamentos – minicontratos e pequenos pactos – no intuito de vencer se sobrepondo aos demais, este pensar se tornou modus operandi para mais conquistas pessoais em detrimento a benevolência e a pureza, se é que um dia ela possa ter existido conforme defendem alguns pensadores.









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sábado, 11 de maio de 2024

Verdade irrefutável

 









Quando uma verdade irrefutável passa a ser refutável?










Quantos de nós acreditamos nas nossas próprias verdades irrefutáveis, e qual é o nível de segurança que possuímos para defendê-las frente a uma inteligência responsável, portanto, imparcial?










O que realmente significa “compromisso” e como construímos o nosso, próprio, baseado em um pensamento honesto com os verdadeiros princípios adquiridos sob um entendimento imparcial cordato?









O “Livre arbítrio” consiste de significados reais o suficiente para que o defenda com propriedades de causas assenhoradas em razões e conhecimentos indiscutíveis?









Qual é o meu grau de percebimento e quanto dele está baseado em falácias externas sem que meu juízo asseverado o tenha escrutinado minuciosamente?









Como percebo o mundo e como é meu lidar cotidiano com o que me é novo e estranho; qual é o meu grau de percebimento?










Se ignoro, como todos ignoramos; tenho sabedoria e maturidade suficiente para reconhecer em que grau me identifico e então com severidade me recolher na mesma medida que realmente desconheço sobre a ação em si?












Há uma gênese em tudo, que deriva do nosso pensar – muito dele intuído - ou de um processo nem sempre visível a ciência; até onde assisto esta verdade e como ajo sobre o princípio das coisas que me cercam?

 


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É preciso lembrar que, em qualquer destas alternativas, caso não consigas em sua defesa uma resposta cabal concomitante ao viés das mesmas, estás vivendo uma mentira.

















Responda: o que é você frente ao universo?










 

 

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Do inebriante poder de articular

 








 



Dos embriagantes vórtices intelectual e/ou da articulação - Do encantamento das palavras e do encantamento do entendimento de assim se saber. Uma vez despertado para elas; as palavras têm um poder de fascinação tal que, associado a patologia ufana, não permite que o pesquisador abstraído o ultrapasse.





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O conhecimento não define o eu em si.

Podemos ler e ter acesso a uma série de opções que invadem nossas mentes, mesmo com o intuito sereno do saber, e ainda assim não conseguirmos despertar para o eu em si.














Na grande maioria das vezes, refletores é o que são; conhecem, sabem sobre o que leram, analisam e conseguem articular com propriedades de causa, em livros, palestras, escolas e afins, mas estão cerrados para que esse cabedal os acordem para o eu em si.















Tudo se trata de uma grande placenta, e para renascer, é preciso abandoná-la - Para que isto aconteça é preciso conciliar-se com o além das palavras, é preciso sentir. É preciso suplantar o seu significado veicular didático, mesmo após entendê-las como símbolos. É preciso penetrar destilando o néctar inserido em todo este conhecimento, é preciso ir além e então deixar tudo no limbo do ensinamento, do aprendizado; abandonar as sinapses do que conhece, as conexões, as ligações que o tornam um apto explicador, um apto articulador, abandonando a admiração externa causadora de ruídos. Desencantar-se do transmissor, e uma vez apossado da essência, voltar-se para o eu em si.













As palavras, o aprendizado, o apreender, são a última barreira mental antes de acessar o eu em si.

É preciso crer em algo que as palavras não carregam, apenas revelam intimamente àquele que apreender o Poder das Palavras; assumindo-se como um, até então, condutor veicular.










As palavras são nossas, são nossos algoritmos de aprendizado; mesmo um catedrático pode apenas entendê-las palavras de significados limitados ainda que as tenha articulado por décadas. Elas, apesar de todo o seu conhecimento, fazem parte como agregadas de um jogo ilusório pessoal, são peças essenciais de um quebra cabeça onde ele, por tê-las estudado por toda uma vida, adquiriu a arte do domínio, de as articular mecanicamente, no entanto, sem fazer a transcendência para o eu em si, sem conseguir traduzir a energia que elas carregam enquanto dorme sobre os louros do reconhecimento de seus pares, como um extraordinário condutor veicular.







“A primeira virtude da escrita, tanto para o escritor como para o leitor, é a revelação do ser. A consciência das palavras leva a consciência de si...”

Octavio Paz










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