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O conhecimento não define o eu em si.
Podemos ler e
ter acesso a uma série de opções que invadem nossas mentes, mesmo com o intuito
sereno do saber, e ainda assim não conseguirmos despertar para o eu em si.
Tudo se trata
de uma grande placenta, e para renascer, é preciso abandoná-la - Para que isto
aconteça é preciso conciliar-se com o além das palavras, é preciso sentir. É
preciso suplantar o seu significado veicular didático, mesmo após entendê-las
como símbolos. É preciso penetrar destilando o néctar inserido em todo este
conhecimento, é preciso ir além e então deixar tudo no limbo do ensinamento, do
aprendizado; abandonar as sinapses do que conhece, as conexões, as ligações que
o tornam um apto explicador, um apto articulador, abandonando a admiração
externa causadora de ruídos. Desencantar-se do transmissor, e uma vez apossado
da essência, voltar-se para o eu em si.
É preciso
crer em algo que as palavras não carregam, apenas revelam intimamente àquele
que apreender o Poder das Palavras; assumindo-se como um, até então, condutor
veicular.
As palavras são nossas, são nossos algoritmos de aprendizado; mesmo um catedrático pode apenas entendê-las palavras de significados limitados ainda que as tenha articulado por décadas. Elas, apesar de todo o seu conhecimento, fazem parte como agregadas de um jogo ilusório pessoal, são peças essenciais de um quebra cabeça onde ele, por tê-las estudado por toda uma vida, adquiriu a arte do domínio, de as articular mecanicamente, no entanto, sem fazer a transcendência para o eu em si, sem conseguir traduzir a energia que elas carregam enquanto dorme sobre os louros do reconhecimento de seus pares, como um extraordinário condutor veicular.
“A primeira virtude da escrita, tanto para o escritor
como para o leitor, é a revelação do ser. A consciência das palavras leva a
consciência de si...”
Octavio Paz
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