“Por favor, não me bajule, muito menos me enalteça, afinal sempre há uma troca quando duas ou mais pessoas se encontram. Confesso que não sei quanto de orgulho, interesse, vaidade e egoísmo ainda carrego em meu coração, portanto, não me agradeça. O que pratico o faço porque posso, portanto, não me valorize. Todos precisamos de algo para melhorarmos como indivíduos que outros, naturalmente, possuem, nossa vida gira em torno de um eterno escambo. Um precisa o que o outro tem e o que nada possui, sempre possui algo que possa ser compartilhado. Trabalhamos de forma egoísta, se você me atende não necessariamente eu devo algo em troca, e sim, no máximo, ao mundo; há alguém outro que necessita do que posso oferecer. Enquanto entendermos correto retribuir apenas àquele que nos auxiliou, pode que este jamais venha precisar de algo, quando ao contrário, se devolvêssemos o favor aos outros sem escolher à quem, lembrando do que recebemos, esta cultura de troca de favores generalizada deixaria de ser egoísta.”
“Vou te contar uma curiosidade; apropriada para este momento.”
“Em um recanto inóspito, nas profundidades das florestas de um país chamado Papua-Nova Guiné, em meio a centenas de tribos, há uma única, Kondorowai; Kondorowai significa Grande Pássaro Protetor dos Vales. Alguém que me é muito especial me contou uma história que ilustra esse assunto. Diz-se, que é natural entre os nativos daquela pequena tribo, não cultuar o agradecimento como um de seus costumes. Entre eles o doar-se a comunidade, o auxiliar, o emprestar, o desprendimento em favor de um membro da tribo é absolutamente natural e entre eles não existe a mínima menção a uma mesura que imite o que conhecemos por cordialidade em agradecimento ao terceiro, embora eles a pratiquem de uma forma generalizada. Agem como se tudo pertence a todos, e é visível, contam os raros historiadores que tiveram o privilégio desse contato, o sentimento de uma aura de harmonia que impera entre os membros. Cultuam sim, uma reverência única, aos Espíritos dos Seres Animados e Inanimados. Também a partir de relatos destes contatos, notas dão conta de que jamais houve uma desavença entre os membros de sua pequena população.
“Entre nós, estudiosos do comportamento humano, entendemos que a necessidade de agradecer deu forças ao egoísmo.”
Minha consideração para com este raro senhor que tem a fama de não diferenciar os mundos, como se os planos intra e extraterrenos e atemporais fizessem parte de seu cotidiano; não me permitiu que o questionasse se a tribo ainda existia nos tempos atuais, materializada nos confins das florestas daquele país, afinal é uma bela história e a considerei com o devido respeito, principalmente porque elegia uma condição de não violência, de comportamento exemplar de um grupo de pessoas; totalmente ao contrário do que as especulações generalizam sobre as tribos daquele país.
079.aa cqe