sábado, 18 de maio de 2024

Escambo altruísta

 











O conhecia há anos; sua fama de lealdade ao bom caminho o precedia, nunca havíamos conversado. O respeitava demais para me aproximar, então aconteceu; e depois de suas palavras honestas, na busca de humildemente agradecer todo o respeito desprendido com alguém que pouco lhe dizia respeito, respondeu.













“Por favor, não me bajule, muito menos me enalteça, afinal sempre há uma troca quando duas ou mais pessoas se encontram. Confesso que não sei quanto de orgulho, interesse, vaidade e egoísmo ainda carrego em meu coração, portanto, não me agradeça. O que pratico o faço porque posso, portanto, não me valorize. Todos precisamos de algo para melhorarmos como indivíduos que outros, naturalmente, possuem, nossa vida gira em torno de um eterno escambo. Um precisa o que o outro tem e o que nada possui, sempre possui algo que possa ser compartilhado. Trabalhamos de forma egoísta, se você me atende não necessariamente eu devo algo em troca, e sim, no máximo, ao mundo; há alguém outro que necessita do que posso oferecer. Enquanto entendermos correto retribuir apenas àquele que nos auxiliou, pode que este jamais venha precisar de algo, quando ao contrário, se devolvêssemos o favor aos outros sem escolher à quem, lembrando do que recebemos, esta cultura de troca de favores generalizada deixaria de ser egoísta.”










“Vou te contar uma curiosidade; apropriada para este momento.”











“Em um recanto inóspito, nas profundidades das florestas de um país chamado Papua-Nova Guiné, em meio a centenas de tribos, há uma única, Kondorowai; Kondorowai significa Grande Pássaro Protetor dos Vales. Alguém que me é muito especial me contou uma história que ilustra esse assunto. Diz-se, que é natural entre os nativos daquela pequena tribo, não cultuar o agradecimento como um de seus costumes. Entre eles o doar-se a comunidade, o auxiliar, o emprestar, o desprendimento em favor de um membro da tribo é absolutamente natural e entre eles não existe a mínima menção a uma mesura que imite o que conhecemos por cordialidade em agradecimento ao terceiro, embora eles a pratiquem de uma forma generalizada. Agem como se tudo pertence a todos, e é visível, contam os raros historiadores que tiveram o privilégio desse contato, o sentimento de uma aura de harmonia que impera entre os membros. Cultuam sim, uma reverência única, aos Espíritos dos Seres Animados e Inanimados. Também a partir de relatos destes contatos, notas dão conta de que jamais houve uma desavença entre os membros de sua pequena população.













“Entre nós, estudiosos do comportamento humano, entendemos que a necessidade de agradecer deu forças ao egoísmo.”














Minha consideração para com este raro senhor que tem a fama de não diferenciar os mundos, como se os planos intra e extraterrenos e atemporais fizessem parte de seu cotidiano; não me permitiu que o questionasse se a tribo ainda existia nos tempos atuais, materializada nos confins das florestas daquele país, afinal é uma bela história e a considerei com o devido respeito, principalmente porque elegia uma condição de não violência, de comportamento exemplar de um grupo de pessoas; totalmente ao contrário do que as especulações generalizam sobre as tribos daquele país.








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