Funcionário do mês

 

O cidadão comum é o pária do sistema capitalista, pois o conluio, muito bem intrincado ­– do manter-se produtivo, ser um empreendedor, orgulhar-se da fotografia de funcionário do mês pendurada na parede – faz dele um joguete, usando-o para manter as máquinas funcionando, enquanto o que produz vai fazer a cabeça de outros que, ao manter todos sob esta mecânica contemporânea constituída, seguem religiosamente alugados em propagandas milionárias ao gastar o pouco do que tem adquirindo o que não precisam, portanto, compram, fazendo, não somente com que a economia circule como as campanhas dão a entender se tratar de uma ação bonita, porém, o viés final, o que não é permitido expor se estende à margem, onde os recursos pagos em salários retornem na maior porcentagem possível aos bolsos dos patrões donos do sistema capitalista através da dinâmica do círculo vicioso das compras.

O que eles incentivam sobre o nosso comportamento ser bonito, digno de elogios e prêmios, é real, e devemos buscar a cada dia mais nos destacar como funcionários e pessoas de bem, sendo bons profissionais e participando e promovendo sempre que possível do espírito de coleguismo em equipe, o que insinuamos, é que durante este processo obrigatório a todo o pai de família e a cada dia mais às mães também, é preciso prestar atenção e se manter consciente enquanto se está sob as regras da empresa e fazê-lo por nós mesmos, isto é, cientes de que não é apenas o comando puro e simples, frio, das rotinas diárias o que nos move; podemos e devemos fazer destas horas um processo de aprendizado de meditação, porque, antes de sermos mais um número nas estatísticas econômicas, somos seres que detêm o poder de pensar; pessoas que já aprenderam as noções de bom caráter, de serem honrados e fiéis as próprias e boas crenças pessoais, e assim ser é bastante diferente de o sê-lo para se destacar entre os demais e também não prestar atenção nas jogadas de marketing que insistem, nas entrelinhas, que devemos adquirir sem o devido pensar e sob o domínio de suas estratégias: itens que eles, através de comerciais milionários, insistem que seremos diferentes se usarmos as mesmas coisas que os outros. Você já se perguntou porque eles distribuem tantos prêmios e gastam bilhões em marketing todo ano e ainda assim são bilionários enquanto nós continuamos atrasados correndo atrás do ônibus?

A riqueza deles já foi nossa; minada a conta gotas, somos nós que permitimos que esse dreno continue aberto, e a válvula que precisa ser fechada para que isso não aconteça, são nossas expectativas e paixões compradas, ao desejar levar uma vida igual a deles. Muito cuidado quando o comercial da televisão diz que você pode.

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