... de luxo,
revolucionária, megalômana..., mas, uma caricatura
A.I. — O que é a Inteligência Artificial senão uma cópia da inteligência humana? Ainda que uma porcentagem dela seja bem aproveitada, é certo que a princípio ela não será explorada para tornar o homem mais humano, uma vez que seu desenvolvimento massivo tem tão somente como base, fartos investimentos comerciais e é sob esse pilar que ela será inicialmente explorada.
Com esse preâmbulo não estamos desmerecendo, desdenhando ou excomungando a descoberta, e sim tentando fazer com que coloquemos os pés no chão sobre a plasticidade do instrumento, portanto, não soberana ao homem. Muitos de nós costumamos endeusar o que não é espiritual, o material, o celular, e isso se deve ao fato de não termos todas as consciências desenvolvidas sobre o que é mais importante para cada um de nós.
O que irá
sobrar da Inteligência Artificial para uso sério àquela pequena fatia
conscientemente filosófica que entende um pouco melhor o sistema humano, uma
vez que ela é uma mercadoria da ciência, isto é, é um produto nascido da gama
avantajada da sociedade com o objetivo maior de proteger-se ainda mais e dar
retorno, uma vez que homens, sempre limitadíssimos em acesso, pensariam também
em utilizar esse instrumento para, antes, realmente melhorar a condição humana?
Como compreender isso uma vez que estes homens de comando vivem a regatear
recursos para as pesquisas que visam a melhora da condição dos vulneráveis sem
que, em contrapartida, suas burras estejam ainda mais carregadas?
Devemos desvalorizar ou rechaçar a A.I. por se tratar de uma reprodução que nada mais é do que uma colagem inimaginável ao leigo ordinário? Não. Ela é um evento estupendo e merece todo nosso respeito e todas as honras. Um evento importantíssimo. Talvez um dos instrumentos mais fantásticos criado sabe-se lá sob que circunstâncias por homens superdotados. Isto é; quais influências agiram ao longo de todo o processo que possibilitou o surgimento desse aparelho, e como todos que o antecederam, agora não é diferente, ele será disponibilizado ao processo humano como um todo, isso significa que não serão apenas cientistas estudiosos e dedicados à criação — a maioria deles, esperamos, com as melhores intenções —, quem irá regrar o uso da ferramenta. Assim que dominada, ela será explorada à revelia das vontades iniciais que a pensaram, portanto, aberta a todo o tipo de mente sã ou patológica a que o mundo está envolvido.
*
Se olharmos para uma imagem por qualquer período de tempo, mesmo a imagem mais séria, devemos tê-la reduzido a uma caricatura para podermos suportá-la, ele disse, e assim até mesmo os pais devem ser reduzidos a caricaturas, até mesmo os superiores, se os tivermos, devem ser reduzidos a caricaturas, o mundo inteiro, ele disse, deve ser reduzido a uma caricatura.
Thomas Bernhard, Velhos Mestres
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