A
escrita adimensional não procura nada, pois o único que procura é o necessitado.
A escrita não se sabe viva – por disso não necessitar -, apenas o morto que
escreve se quer vivo e quer tudo até que suas forças o obrigam em um continuar
arfado sem que nada tenha conseguido ou tudo, embora esse fardo mais pese que
lhe de sossego, é um ocaso de castigo: apreciar o que fez sem ter prazer também
agora durante a apreciação mesclada aos suspiros da morte que se aproxima.
Quem
procura então é o insignificante escritor que pouco aprendeu além de juntar
letras a formar textos. Quando abandonada no papel faz o seu, e ao se entregar
aquele que lê, ao se doar, a idéia viverá para sempre enquanto o autor, como se
mimetizado ao processo, não passará de uma junção de letras também que, justapostas,
formarão um nome, um registro, um código que, se negligenciado pelo tempo,
poderá se apagar permanecendo assim apenas palavras, não um pensamento coletivo
em torno de alguém que não passou de um instrumento.
Em
meio à série de palavras que aglutinam centenas de idéias, quase tantas quanto
elas, um tempo sem fim que não existe não apenas deixará a mostra o pensar
retrogrado do registrador, mas fluirá como um manancial inesgotável quando
acessado e ajustado aos pensares díspar de tantos quantos tenham e utilizem
seus cérebros para criar novos sentidos à matriz inicial.
Já uma matriz, por exemplo, pode copiar o homem:
nascer, viver mediocremente e apagar-se no tempo, ou pode ser como uma matriz
que, mal comandada pelos homens de saia, deturpam, aproveitando-se de uma
beleza que está além do que outros aproveitados e esfolados vivos muitas vezes
construíram; outra matriz pode ser a escolhida de um ou um grupo especial ou
mesmo de um não especial, porém detentor, e então fazer jus ao seu despertar e
modificar caminhos, rumos e escolhas, tornando a vida um pouco mais amena, o
existir um que menos espinhento - é dessa diferença que se trata.
Espinhento,
deve ter dado curso, através da adimensionalidade, ao expiento. Espinho e
expiação não necessariamente são expressões distintas ainda que filólogos de
toda a conta, baseados em suas matemáticas rígidas e conceitos eruditos possam
dizer não, ao manter-se agarrados às suas visões cuja catarata os tenha segado
para imaginações mais férteis; para a imaginação que ameniza os aguilhões
urdidos ou urdidores do existir aceito.
O querer e o não querer são escolhas, e um
quer o ir, o outro ficar, e ao chegar, tanto um quanto o outro foram; não há o
que dizer além disso. Tudo é só existência, ou ao contrário, tudo é a magnânima
existência. E também, tudo é facilmente compreensível quando se está homem: de
que tudo se deve a uma pequeniníssima conexão cerebral, analogamente, se o sol
é um ponto no nada, esta conexão é um ponto no nada do cérebro, mas este é o
ponto, e quem o desvenda, desvenda tudo, e isso é maravilhoso. E quando o
fazemos quase que perde a graça dada a simplicidade em si. É mais ou menos como
o poeta que diz, - ao relatar a conquista finalizada - de um objetivo qualquer
que até então fazia todo o sentido: “foi tão fácil”; afinal, somos assim, após
um vem outro. Demorará um tempo que não acreditamos possível - por justamente
ainda acreditarmos no tempo - que nada disso será quando então acessarmos o
adimensional.
*
A
escrita adimensional faz parte do sensorial, do intra sensorial,
do intra e supra dimensional,
quando um sentido apenas não é suficiente para acessá-la;
para plasmá-la.
do intra e supra dimensional,
quando um sentido apenas não é suficiente para acessá-la;
para plasmá-la.
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