domingo, 18 de maio de 2014

Ao constituir-se mito o íntegro ascende ao sagrado.



A ação condignamente perpetuada,

após selada pelo tempo;

ainda que deixe seu legado academicista,

adquire, inequivocamente,

o status supremo de mito.


*


Defendo uma tese, até onde sei inédita. E o faço de tal maneira a ponto de acreditar, tanto na observação particular que lhe dedico, quanto o sei que por si só tem força para manter-se evoluindo, independentemente do julgamento externo.

Minhas razões por esta teoria consiste em um princípio básico; e, muito embora ela contemple como a maioria desses estudos, quando, obrigatoriamente - e de forma natural por defensores afins do meio - costuma receber suas observações de recusa, e neste caso específico possa se mostrar também como uma descoberta de gosto duvidoso, de apreciações que em nada se justificam a um erudito convencional, onde, também eu, defensor tácito do belo, preciso abdicar das minhas negativas ferrenhas e deixar por conta da natureza matemática ou que alinha astros e leis incorrigíveis a seu comando que, se nada tem de desatenciosa é toda planejada e proativa; conserva em seus meandros, inquestionáveis motivos críveis, de forma que: se há o não belo ou; se também o não belo insiste em existir, é por um único motivo: somar na periferia para que a excelência retorne com toda a sua inaudita exuberância.

A proposição já teve aqui revelado na prática, meia resposta, mas completo afirmando que justifico essa interpretação, ainda que deveras contrariado, até mesmo por desgostar não apenas do fato de estar certo como também, pela ação que nos obriga a aceitar quando percebemos que algo acintoso tomou um vulto inegociável, pois, assim que observado que tudo conspira a favor de determinada situação – onde muitas, nasceram desacreditadas para o tal - de um determinado acontecimento ou modismo involuntário. Se ele se perpetua, ou como no caso de hoje – nossa exagerada falta de jeito para o que realmente apraz - que traz a tona as mais ensandecidas criações; é preciso concordar, partindo do princípio de que para tudo há um motivo – ainda que isso possa parecer bastante obscuro ou em algumas situações de difícil compreensão e por mais que estudemos o fenômeno não entendamos seu propósito – mas, se vem à luz, é por uma causa, repiso: ainda que alguns de nós não a percebamos; se o absurdo em voga é discutível por uma gama enorme em reuniões – de interesses escusos ou afins - considerando-o - pasmem os apreciadores do belo: pode haver no Grande Processo, que a nós é obviamente invisível, um grau de importância, um que de necessário na finalização do projeto como um todo devido sua extensão infinitamente continuada. Parto do princípio de que tudo o que nos é apresentado faz parte de algum tipo de ferramenta que, se não nos é conveniente agora é provável que tenha alguma serventia futura.

Mesmo que decidido a colocar prematuramente esta minha mecânica em um assunto por demais óbvio e para sempre obrigatório e essencial, entendo providencial o momento, afinal, de alguma forma, trata-se este texto de um tipo de homenagem, mas é certo que fazendo isso posso confundir um pouco o processo; vou clarear então.

Na exposição passada, parto do princípio onde chama a atenção o movimento em torno de determinado assunto, – a meu ver, precipitado e exagerado devido, primeiramente, mas jamais exclusivo, ao desgaste do que se entende por conceito adquirido com legitimidade – ainda que discutível. Por exemplo, não compactuo em quase nada do que classificam hoje como artes plásticas e ainda menos quando a julgam especial, somado a fama ignominiosa do material denominado como arte abstrata. E, retirando os especialistas que no mais das vezes somente o são de nome e devido ao despreparo instalado; destarte, jamais entenderei a polvorosa, os excessos que são amealhados em torno do assunto. Vejo, é justo, que uma ou outra situação acaba por se salvar e é somente então: desse processo que enxergo como um conta-gotas do tempo que, devido à insistência – mesmo do que desagrada -; uma mísera gota alheia é aproveitada. Um néctar de tudo o que está ali está sendo ou será gestado, e isso, todo esse processo de gestação ainda que pareça aqui, insignificante, e quase sem propósito; na linha do tempo que não cessa, somar-se-á ao que realmente faz diferença. E da minha parte concluo, que finalmente a insistência de todo o estardalhaço dos marchands que pouco mais entendem do que gera soberba, e não raro alheios ao que eles próprios dizem: acabam por contribuir com a coisa em si.

Assim, é certo o entendimento de que, se o mal feito, o desprovido de gosto e bom senso pode e vem sendo, exageradamente, elevado ao patamar de arte, também é verdade afirmar que, de alguma forma íntima, o autor está obtendo; - ainda que se acomode com pequenas gorjetas, colhendo apenas os louros de uma platéia de gosto duvidoso, - assimilando técnicas e adquirindo experiências, e finalmente é correto afirmar, que uma série de acontecimentos dignos foram ocultado por conta de um sem número de escolhas equivocadas de nossos comandantes, porém não é verdade afirmar que assim será para sempre.

Desta feita, considerando que algumas pessoas, por motivos parecidos aos aqui descritos jamais entrem em uma galeria de arte abstrata por conta própria, não significa que ao longo de um século nada tenha acontecido nesse meio que não possa ser classificado por pessoas de sentido mais apurado e desobrigado de viés qualquer.

Resolvi fazer este preâmbulo sem fim para defender a ideia de Joseph Campbell sobre a importância do mito. Mas antes quero expressar minhas escusas por misturar mitologia com o que entendo como, o absurdo gerado em torno das artes plásticas ao longo dos últimos anos, devido ao fato de não compreender, por exemplo, a importância, o destaque à sua abstração, porém, já defendi meu ponto de vista onde entendo que tudo tem lá seu crédito, por outro lado existem tantos apaixonados por este assunto que não mudaria em nada um a mais fazer parte do clube.

Meu caro Campbell; desculpe-me mais uma vez, porém, lendo suas colocações, vi-me na obrigação de escrever sobre a importância do mito, expressar minhas opiniões, que, ainda que pareça apenas um exercício de escrita, se quer sério por entender, e fazer par com algumas das suas sobre este tema que lhe é tão caro.

Em algum ponto já havia eu defendido também, o fato de que os antigos haviam palmilhado toda a estrada, e que todos os aspectos mais importantes e que agora pode servir ao homem inteligente, atento, - até porque um não existe sem o outro - como um balizador, como um gabarito a ser usado de forma indistinta auxiliando mesmo o mais cego de nós, e, em algumas situações, até para o incauto, está evidenciado que o processo todo foi mastigado exaustivamente, de tal maneira, que apenas precisa ser engolido. É inegável, porém, a existência daqueles que estão aí para deturpar a brilhante forma encontrada, mas é inegociável que haja outra aplicação que não a encontrada por nossos ícones soberbos e modelos para uma humanidade às rédeas, que insiste em definhar desviando-se do caminho desbravado; porém, é incontestável ainda, que o homem para defender seus interesses comezinhos, não julga o arrastar dos séculos que advirão de sua luta em manter o mito escondido, tornando o espetacular e (em?) mentiroso, descartável; prolongando assim seu esquecimento.

Por mais que entendamos a dificuldade de ajustar estas descobertas aos nossos tempos e admiremos a luta de alguns de nós em conexão invisível com forças que desconhecemos, conseguindo manter algum tipo de ordem aos absurdos de leis e costumes insanos perpetuados que mergulham do passado no tempo presente como se fossem indispensáveis, pouco, no que diz respeito aos nossos comandantes, tem sido feito.

Talvez esta seja a sua maior dificuldade amigo Joseph, convencer - ainda mais tarde - um pessoal que carrega um mundo de informações on line no bolso, que se diz conectado e antenado com o futuro negligenciando ainda uma vez mais o poder do mito.

Volto então a minha dissertação inicial, que parece ser descabida, porém se não é um caminho; ou um caminho válido, serve como ponto de partida. Por mais que a mitologia carregue a pecha de pertencer ao arcaico ao erudito, ela sobreviveu – e continuará sendo. É quase vexatório ter aqui que partir; utilizar-me da mecânica descrita para defender algo de suma importância (essencial à continuidade, continuidade não, a hoje quase utópica superação humana). Mas uma vez que o gigante J. Campbell tenha colocado excepcionalmente a importância do mito, expresso que, se ele ainda é lembrado, – não nos enganemos; e que esse enganar-se não se perpetue por outras dezenas de séculos – não é apenas para fazer parte da história ou ser romanceado quando mostrado - muitas vezes... de forma oportuna.

Tudo o que faz parte do efêmero não se perpetua, ele apenas existe e ainda que seja eternizado na história, sempre será apenas ou pouco mais de mera estatística.

Não o mito.

Por mais que demoremos a aceitar, o mitológico é e sempre será não apenas um arquivo vivo rico em reminiscências, o mito é muito mais que isso. Quando o acessamos, devemos respeitá-lo, pois estaremos tratando com organismos vivos; alguns, para todo o sempre, invioláveis.


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