O sempre admirável Paulo Leminski; viveu a socar nossas caras com enorme maestria. Sob vários aspectos; cagou para o mainstream e, neste exercício de hoje o cito, também como uma homenagem.
Não faz
sentido falar de sentido sem um de seus mais surrados - e inegavelmente atual -
apontamento; “Sentado não tem sentido”.
Sei o que é
sentido e ainda assim assisto todos sentados, ok, brincadeira, apenas uma
molecagem desnecessária.
Procurar o sentido da coisa é a energia propulsora de todo o ser vivo - o indivíduo provido de VIDA. Aqui não estou a arrolar o homem que respira. “Ser vivo”, alude ao significado único, inerente ao indivíduo atento; ligado a uma disciplina sã em busca do seu desenvolvimento pessoal.
Meu pai, um
alcoólatra, iletrado, foi meu primeiro mestre. Um homem perdido; deslocado e
ainda assim integrado, a seu modo, ao agourento buraco em que nos meteu. Até
hoje tenho dúvidas sobre suas bebedeiras, porém quero acreditar que vinha
também de suas desilusões e de não poder mais integrar-se a paupérrima
sociedade pré-estabelecida do lugarejo com a gente – como uma família
pertencente. Ah! As importâncias que a vida cria! Morreu como um maldito.
Acredito que não o entendíamos, no entanto o velho não tinha preparo para virar
o jogo. Mas era bem humorado, criativo, amável e bom. Prestativo, sempre
disposto ao ser chamado, embora sabíamos que “gostava de uma rua” – como a mãe
conta ainda hoje. Ajudava qualquer um que lhe mostrasse os dentes.
Aprendi com
ele que, calado, não demonstramos nossa total ignorância, e a paciência acaba
nos mostrando um caminho para entender sobre o que assistimos.
Após ser
inoculado com as cepas do questionar, da curiosidade, inicialmente boba,
passando à sã, não me foi mais possível parar um único instante.
Há uma historieta, que entendo capciosa que ilustra muito bem as duas faces do querer e do abandonar. De acordo com aquele que busca e aquele que vê sentido em se manter sentado. Ela fala do pescador artesanal que é questionado a se reinventar e progredir. A viver toda uma vida de empreendedor e ao chegar a velhice poder sentar, beber com os amigos e pescar; e então ele responde, “já faço isso agora”.
“A vida é o que está acontecendo
enquanto estamos (sentados) fazendo planos”.
Amor Fati,
Nietzsche acertadamente sentiu que precisamos Amar a Vida; tudo o que está
acontecendo. Entender o processo tem um significado; aquele que buscar e sentir
isso, já transcendeu.
*
A falta de sentido pára o acomodado, mas...,
como é estimulante para o agente ativo.
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