sábado, 30 de março de 2024

Por que não lemos textos acusadores

 









Somente se lê definitivamente quando eliminado o domínio da mente da leitura.








Ao ler alguns livros densos é preciso que se esteja presente, ali, atento as intenções, ao viés sensitivo prático/técnico do autor. Alguns livros exigem isso e ainda a consciência da não presença, digo, da não presença do ego, da negação, da fuga.














Um texto pensado, filosófico, psicológico, exige a presença/ausência do leitor. Nestes textos, uma vez dispersos, como na leitura de um romance, onde viajamos, não é possível se aprofundar nos sentidos ou muito menos entende-los, é por isso que a leitura não agrada. No entanto, se se tem a sorte de atingir esse primeiro, outro ponto nefrálgico é tocado, a concordância de que algum elemento grita dentro de nós, tentando, instigando uma espécie de auto cobrança, onde nosso espírito clama algum conforto e descanso do dispendioso agitar humano. Se esta barreira não é vencida, os bons textos são abandonados ainda nas primeiras páginas.







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Krishnamurti’s Drops

 













Em seu último trabalho, Krishnamurti to Himself, o Grande Mestre revela outra faceta: “Na meditação não deve haver mensuração (...) A meditação é movimento sem motivo, palavras ou pensamentos. Não deve ser deliberadamente estabelecida. Somente assim ela é um movimento no infinito, imensurável, sem uma meta, sem fim e sem início (...) Na meditação sem mensuração existe a ação daquilo que é mais notável, mais sagrado e santo.”







Em Freedom from the Know, ele descreve sua percepção da seguinte faceta: “A meditação é uma das maiores artes na vida, talvez a maior, e não se pode aprendê-la de ninguém. Esta é a beleza da coisa. Ela não tem técnica e, portanto, não tem autoridade. Você aprende a respeito de si, observa a si mesmo, o modo como caminha, como come, o que diz, a fofoca, o ódio, o ciúme – se você percebe tudo isso sem qualquer escolha é parte da meditação. Assim, a meditação pode ocorrer quando você anda num ônibus ou num bosque, ouve o canto dos pássaros ou olha o rosto de seu filho.”








Paradoxalmente, numa conversa registrada em krishnamurti on Education, ele diz: “Sente-se silencioso e imóvel, não apenas no corpo, mas também na mente. Nessa quietude, preste atenção aos sons fora deste prédio, o galo cantando, os pássaros, alguém saindo. Ouça primeiro as coisas de fora, depois ouça a sua mente. Você verá que o som externo e o som interno são o mesmo.”






Pinçado por Cecil Messer

Revista Sophia Nº 106.












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ESCOLA MAHAYANA; OS SETE PORTAIS PARA O CAMINHO DA VIRTUDE.

 






ESCOLA MAHAYANA; 

OS SETE PORTAIS PARA O CAMINHO DA VIRTUDE.


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    Dana, a chave da caridade e do amor imortal. Que Helena Blavatsky traduz como “caridade e amor imortal;

 







Shila, a chave da harmonia nas palavras e nos atos, a chave que contrabalança a causa e o efeito, não deixando mais espaço à ação cármica. Que HPB traduz como “harmonia em palavra e ação”;

 






Kshanti, a paciência suave, que nada pode alterar. Que HPB traduz como “doce paciência, que nada pode perturbar”;

 








Vairagya, a indiferença ao prazer e à dor, a ilusão vencida, só a verdade vista. Que HPB traduz como “indiferença ao prazer e à dor, a ilusão conquistada, onde se percebe apenas a verdade”;

 




Virya, que HPB traduz como a “energia indômita que abre o seu caminho para a verdade suprema, erguendo-se acima das mentiras terrenas”;

 

 




Dhyana, cuja porta de ouro, uma vez aberta, leva o Naljor, para o reino de Sat, o eterno, e para a sua contemplação sem fim, ou estado meditativo;

 










Prajna – Perfeita Contemplação; cuja chave faz de um homem um Deus, criando-o um Bodhisattva, filho dos Dhyanis.

 


 

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Pérolas para a Felicidade

 







 “Mate o desejo de conforto, seja feliz como aqueles que vivem para a felicidade.”

Mabel Collins em Luz no Caminho

 

“Cada homem é, para si mesmo, o Caminho, a Verdade e a Vida. Mate a ambição. Mate o desejo de viver. Mate o desejo de conforto. Trabalhe como aqueles que são ambiciosos. Respeite a vida como aqueles que a desejam. Seja feliz como os que vivem em função da felicidade pessoal.”

Mabel Collins – site Pensador

 

 









"O desejo de conforto mata a paixão da alma e depois caminha sorrindo em seu funeral".

Khalil Gibran

 












“Seu dever é permanecer sempre alegre e sereno.”

 

Krishnamurti em Aos Pés do Mestre





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sábado, 23 de março de 2024

Não há mais nada lá fora

 








 

Findo o questionar

Findada as buscas

Atingida a Noite Escura dos Sentidos

A Noite Escura do Espírito

Foram abertas as portas

Velhas portas foram ceradas

As portas da percepção aguardavam além

Voltamos a Senda do Retorno

Noites Escuras, passa-se desperto

A Escuridão Consciente agora é nosso guia

O nada à luz é nada

O Nada na escuridão é Nada

O externo

Uma ilusão abandonada

Não há mais nada lá fora


























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Niilismos

 







As noites escuras passamos em claro.


 

Há dois tipos de niilismos bastante distintos. Um leva ao desespero, ao se descobrir inserido na ilusão da existência quando não se tem uma base forte a suportar o inegável estado obscuro finalmente acessado. Aqui podemos negá-lo; consequência comum por ser uma escolha fácil, ou nos entregar aos piores atos, a inércia, a passividade que aniquila, ao desanimo, da desistência, render-se a falta de esperança e até mesmo, desenvolver uma crise patológica, que, em casos extremos, termina por abandonar a vontade de existir. O segundo é libertador, é o niilismo que, ainda dentro do material, do molecular, é vital e inimaginável sob uma perspectiva plana, superficial. Na prática, é a iluminação da consciência, que nos devolve à vida, à paz, à verdadeira felicidade em pleno vale de lágrimas; ela não devolve a esperança, porque esperar já não faz sentido algum, atingido esse estado de ser, tudo É.

 








Grandes ícones da história há centenas de anos pontuam seu tempo como o limite do absurdo do comportar humano. Sócrates, Hobbes, Kant, J.J. Rousseau, Schopenhauer, e claro, Nietzsche. Estes são apena alguns que observaram o colapso a que suas gerações estavam caminhando. No entanto ainda estamos aqui repetindo a ladainha, cometendo absurdos que àqueles jamais poderiam imaginar. Como isso é possível?

Esta semana assistimos ao filme Nove Dias (2020). À primeira vista, uma pequena obra de arte, ainda que não faça referência alguma as causas maravilhosas provocadas por nossos queridos animaizinhos de estimação, porém está bastante clara a mensagem das dicotomias, dos antagonismos e paradoxos da vida, do existir, mas acima de tudo, a possibilidade prodigiosa que é estar vivo após a dádiva recebida de aqui nascer.









Sim, sim, a velha máxima do copo meio cheio/meio vazio, ou da antiga fábula dos vendedores que foram designados a vender sapatos em certa aldeia na Índia onde a grande maioria andava descalço. O primeiro ligou reclamando. “Que porcaria, chefe, aqui ninguém usa sapatos”, enquanto o outro liga para a matriz coberto de vontades. “Maravilha chefe, eles estão andando todos descalços, temos aqui um mercado em potencial”.

Por que este Plano Terra é assim, cheio de altos e baixos para uns e um modelo invejado, quando assistimos aos bem-nascidos fazendo o que bem entendem, uma vez que a grande maioria passa por necessidades inauditas?










Acabamos de passar a semana de Carnaval. Como é possível que boa parte da população brinque o Carnaval durante toda a semana com uma alegria nata ou contagiosa; viagem para outros estados, comam, bebam, gastem as economias ou mesmo se endividem para estar junto aos seus pares, e, no último dia, já comecem os lamentos sobre voltar à rotina, sem se dar conta que na maioria dos casos, é a rotina de trabalho que os mantem e não as festas intermináveis.

Não vamos ser hipócritas ou demagogos aqui e sim psicólogos: é claro que eles não reclamam apenas do retorno ao trabalho. Sem se dar conta, é a condição de existir generalizada que os mantêm aborrecidos, desconfortáveis, carregados de uma alegria nervosa, no entanto poucos deles avançam esse pensamento para o além do dia-a-dia; por que eu enfrento o que enfrento todos os dias? Não há um questionar sério, ou se há ele não se mantém, ou seja, é muito mais fácil ficar na opção fácil, primeira, rasa, sem se aprofundar no real motivo do incomodo, porquê este demanda vontades, pesquisas, correr atrás, sair da zona de conforto.











Em uma das milhares de entrevistas às mídias sempre bastante presentes, um grupo de meninas eufóricas respondem que vão brincar e beber. Empolgadas em uma espécie de reclamação, ou desculpa ou seja lá o que, apontam o motivo de brindar a folia, como se a maldizer o trabalho, a faculdade, o chefe, no entanto um ano antes estavam estudando como loucas e vivendo a base  de drogas para se manterem acordadas para estudar para os testes de fim de ano ou dos exames nacionais para serem aprovadas e finalmente terem direitos à universidade, a tão esperada liberdade de morar fora, mesmo em outra cidade, fazer novos amigos, onde então, após aprovados, tudo se resumia em comemorações efusivas , e agora, apenas um ano depois, estão excomungando a vida de universitárias, sim, incompreensível, porém há um ponto que não é analisado em tudo isso, que é o; por que faço o que faço? Ou; por que não valorizo tudo o que decidi fazer e as coisas boas que me acontecem?








Apontei esta semana que há duas espécies de niilismos. A imensa maioria não acessa o sentido real de nenhum deles. O primeiro porque nossa cultura insiste que devemos manter a esperança e que o sol nasce para todos, e isto não é de todo descartável. Ao se insistir no valor da resiliência e na constante luta que prima o batido slogan, “tudo o que você quer, você consegue” evita-se o estado de esmorecimento passivo generalizado. E, se se calibrar as vontades um pouco acima da normalidade vigente, qualquer um de nós atinge determinado grau de singularidade jamais imaginada àquele que inadvertidamente segue o mantra da resiliência.





Lutamos para conseguir um emprego e isso remete a todos do mais necessitado ao filhinho de papai meritocrata, entrar na faculdade, casar, constituir uma família, comprar bens e então, quando menos esperamos, nos pegamos descontes, isso pode levar a um estado patológico e até quem sabe ao primeiro niilismo, onde entendemos que esse caminho não dará em nada; nada do que construiu-se garante a falta de esperança. Mas isso dificilmente acontece, pois, a tropa de choque logo é ativada... e o desesperado volta à consciência de massa.












O segundo niilismo refere-se à conscientização de que a vida está além dos muros que nos cercam; vencer então a “tropa de choque” e perguntar-se, com espírito de propriedade: por que tantos vivem como estou vivendo e assim perecem?








A segunda forma de niilismo é desacreditar tudo o que veio sendo construído e tão somente pinçar o que niilistas do sistema, àqueles que, dentro de suas faculdades mentais sãs, deixaram como legado; não a revolução contra o sistema, contra a cultura, contra a organicidade e fisiologia armada, mas nos mostraram que há força, há vida, há luz, dentro de cada um de nós, que possuímos poderosíssimas vontades próprias ainda desconhecidas, não acordadas, e então poderemos também voltar-nos a um estado, se não próprio, isso aqui não existe, direcionado aos grandes vultos que, na sua maioria, morreram como se a sua contemporaneidade tentasse deles se livrar, e somente muito séculos mais tarde foram descobertos, mais como temas de estudo e ou, para alguns poucos: como respeitáveis ícones a serem estudados nas entrelinhas.



*







Mas isso tudo não circula sob um viés organicamente pessimista? Sim, se observarmos sob uma perspectiva rasa; não, se analisarmos a genealogia íntima do niilismo, somando ao nada búdico, por exemplo... e, definitivamente não, quando se vive conscientemente.









Já nas primeiras lições Meu Mestre pontuou; “antes da iluminação corta-se a lenha e carrega água, depois da iluminação, corta-se a lenha e carrega água”; demorei muito analisando esta colocação, esta que é uma das passagens mais lindas que guardo do início das nossas conversas. E aqui ela se encaixa perfeitamente, afinal você pode fazer o que faz cotidianamente, viver entre seus amigos e familiares, trabalhar e se divertir da mesma forma que sempre fez, porém, agora, consciente de que tudo é parte de uma grande prática e de regramentos mais acertados.

 







“Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão.

CG Jung

 


 

*









Senda do Retorno da consciência à sua verdadeira natureza. Ou seja; retomar posse da sua vida.

Pravritti-Marga e Nivritti-Marga São dois movimentos da evolução da consciência.

Segundo Meister Eckhart, nossa fé só vem das profundezas da alma onde não figuram mais imagens, conceitos nem atividades de memórias, onde a mente não interage mais com ela mesma.

São João da Cruz ensina que todo esse processo é uma aproximação com Deus e acrescenta “Somente aqueles que Deus quer fazer com que se unam a Ele, Ele os faz atravessar a noite escura.”

Em uma das cartas dos Mestres a C. W. Leadbeater, uma passagem remete a representação de que as: “solidão, abnegação martírio, e morte, são os encantamentos que agem no coração do discípulo na hora da provação”.

Revista Sophia Nº106

 

 

*









 

Poema de São João da Cruz Noite Escura da Alma:

 

 

Em uma noite escura,

 

De amor em vivas ânsias inflamada

 

Oh! Ditosa ventura!

 

Saí sem ser notada,

 

Já minha casa estando sossegada.

 

 

 

Na escuridão, segura,

 

Pela secreta escada, disfarçada,

 

Oh! Ditosa ventura!

 

Na escuridão, velada,

 

Já minha casa estando sossegada.

 

 

 

Em noite tão ditosa,

 

E num segredo em que ninguém me via,

 

Nem eu olhava coisa, Sem outra luz nem guia

 

Além da que no coração me ardia.

 

 

 

Essa luz me guiava,

 

Com mais clareza que a do meio-dia

 

Aonde me esperava

 

Quem eu bem conhecia,

 

Em sítio onde ninguém aparecia.

 

 

 

Oh! noite que me guiaste,

 

Oh! noite mais amável que a alvorada

 

Oh! noite que juntaste

 

Amado com amada,

 

Amada já no Amado transformada!

 

 

 

Em meu peito florido

 

Que, inteiro, para Ele só guardava

 

Quedou-se adormecido,

 

E eu, terna, O regalava,

 

E dos cedros o leque O refrescava.

 

 

 

Da ameia a brisa amena,

 

Quando eu os seus cabelos afagava

 

Com sua mão serena

 

Em meu colo soprava,

 

E meus sentidos todos transportava.

 

 

 

Esquecida, quedei-me,

 

O rosto reclinado sobre o Amado;

 

Tudo cessou. Deixei-me,

 

Largando meu cuidado

 

Por entre as açucenas olvidado.

 

 

 

Noite Escura da Alma – São João da Cruz


 







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