A pesada carga de sacrifícios para a adequação material
aos nossos desejos é benéfica até o ponto onde conscientemente podemos nos
decidir sobre a momento de parar; no entanto o mundo socioeconômico, somado ao
paradigma da competição e aos nossos interesses de perseverar sobre os demais
não permite uma secção nem saudável nem razoável para o usufruto tranquilo do
que foi agregado, e afora esses apontamentos, nem sempre é fácil abandonar a
corrente agora equilibrada, após o extenso trabalho, muitas vezes, por décadas,
para finalmente viver uma vida de recolhimento e contemplação com energias
suficientemente saudáveis para continuar ativo.
Trabalhar visando a mescla de ambos com vistas ao abandono da primeira, ainda que parcial, seria a melhor opção.
Há que acordarmos, se possível em tenra idade, o germinar na mente a existência de duas espécies de sacrifícios, o acima apresentado, e um segundo, onde, sob o crivo de uma consciência sã, o indivíduo se decide a um caminho novo, de retorno ao que realmente importa aqui conquistar; ao se desligar do complexo material posto e voltar-se a si; a um estado de serenidade, abandonando o orgulho de ser um ser ativo e trabalhador, o exemplo de indivíduo acabado fisicamente, porém, socialmente, admirado por todos aqueles que ainda o cercam.
No primeiro caso, a honestidade para consigo mesmo é
afastada, sua essência e sensibilidades são abandonadas em detrimento a soberba
do orgulho perante alguns demais e então, findada essa jornada, nos estertores
da morte, se consciente, imagina, arrependido, que o trabalhar árduo tomou todo
o seu tempo, inclusive aquele que poderia ter sido usado para uma observação
mais filosófica do existir.
Em inúmeros casos o próprio universo, a providência ou
sabe-se lá o que, por bem ou por mal cassa-nos o direito de escolha, e em nosso
lugar, o faz. Por conta disso, em muitas ocasiões, pessoas falem ou adoecem e
empresas quebram. Nesses casos sempre há a oportunidade de rever conceitos, de
realinhar planos e até agradecer, ao enxergar a severidade das ocorrências como
uma oportunidade, ainda que não no momento de fúria, normal a todos nós. Porém,
passado algum tempo, sob os auspícios da inteligência e razoabilidade que
dirige a ponderação, nossos pensamentos se ajustam e é bem possível que um
mal-estar generalizado dê lugar a uma consciência nova, regenerada e hábil para
a tão necessária introspecção.
O primeiro sacrifício é físico e deveríamos ser educados
para que se estendesse até o sossego material econômico, suficiente apenas para
as necessidades futuras sem luxo, e daí nos voltarmos às agruras do espírito
até então abandonado, a tempo de, no ocaso, ter-nos acalmado sobre ambos.
009.ab cqe