sábado, 3 de agosto de 2024

Dois sacrifícios

 








A pesada carga de sacrifícios para a adequação material aos nossos desejos é benéfica até o ponto onde conscientemente podemos nos decidir sobre a momento de parar; no entanto o mundo socioeconômico, somado ao paradigma da competição e aos nossos interesses de perseverar sobre os demais não permite uma secção nem saudável nem razoável para o usufruto tranquilo do que foi agregado, e afora esses apontamentos, nem sempre é fácil abandonar a corrente agora equilibrada, após o extenso trabalho, muitas vezes, por décadas, para finalmente viver uma vida de recolhimento e contemplação com energias suficientemente saudáveis para continuar ativo.








Trabalhar visando a mescla de ambos com vistas ao abandono da primeira, ainda que parcial, seria a melhor opção.








Há que acordarmos, se possível em tenra idade, o germinar na mente a existência de duas espécies de sacrifícios, o acima apresentado, e um segundo, onde, sob o crivo de uma consciência sã, o indivíduo se decide a um caminho novo, de retorno ao que realmente importa aqui conquistar; ao se desligar do complexo material posto e voltar-se a si; a um estado de serenidade, abandonando o orgulho de ser um ser ativo e trabalhador, o exemplo de indivíduo acabado fisicamente, porém, socialmente, admirado por todos aqueles que ainda o cercam.










No primeiro caso, a honestidade para consigo mesmo é afastada, sua essência e sensibilidades são abandonadas em detrimento a soberba do orgulho perante alguns demais e então, findada essa jornada, nos estertores da morte, se consciente, imagina, arrependido, que o trabalhar árduo tomou todo o seu tempo, inclusive aquele que poderia ter sido usado para uma observação mais filosófica do existir.








Em inúmeros casos o próprio universo, a providência ou sabe-se lá o que, por bem ou por mal cassa-nos o direito de escolha, e em nosso lugar, o faz. Por conta disso, em muitas ocasiões, pessoas falem ou adoecem e empresas quebram. Nesses casos sempre há a oportunidade de rever conceitos, de realinhar planos e até agradecer, ao enxergar a severidade das ocorrências como uma oportunidade, ainda que não no momento de fúria, normal a todos nós. Porém, passado algum tempo, sob os auspícios da inteligência e razoabilidade que dirige a ponderação, nossos pensamentos se ajustam e é bem possível que um mal-estar generalizado dê lugar a uma consciência nova, regenerada e hábil para a tão necessária introspecção.








O primeiro sacrifício é físico e deveríamos ser educados para que se estendesse até o sossego material econômico, suficiente apenas para as necessidades futuras sem luxo, e daí nos voltarmos às agruras do espírito até então abandonado, a tempo de, no ocaso, ter-nos acalmado sobre ambos.


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