Esta
cidade é muito grande
Ela
me engoliu vivo
Hoje
resisto entre suas entranhas
Circulando
por suas vias entre plástico e papelão
Pequeno
Desapareço
por entre os cinzas enegrecidos pela fuligem
O
#MonstroSist a pariu por algum dos seus orifícios fétidos
Nem
mesmo minha alma consegue daqui se ausentar
Estes
tijolos esfumaçados são minha cela eterna
Os
rabiscos nas paredes me contam histórias
Hieróglifos
indecifráveis retratam o cotidiano sádico
Lendas
de presos que estão igualmente sendo esfolados vivos
A
risadas fazem eco
Entre
buzinas e sirenes que carregam seus moribundos
Pontes
que não passam
“Aí
mano, passe o éter”
Nas
filas apinhadas dos sopões jazem outros zumbis
Suas
bocas negras engoliram sorrisos para sempre
O
marfim deu lugar ao esmalte enxofre
Escuras
gengivas afloradas esmagam as batatas
Assim
como foram outrora, suas ideias
Meu
grito insano não assusta ninguém
Tornados
invisíveis como os vermes aos grandes olhos
Não
nos aplicam venenos se nos mantemos na fila
Quietos,
nossas faces encardidas são aturadas
Uma
paulada aqui e mais um sapo engolido ali
Acuados
sob o cassetete de iguais que se venderam
#doutor,
padre ou policial segurando as pontas
#é
preciso ser ligeiro senão cai onde estou
Na
humildade
Agradecido
na fila do ônibus
“Meu
filho, tem gente que nem isso tem, agradeça”
O
retorno é difícil e avançar é uma luta inglória
Estacionado
entre a vida e a morte
Esta
cidade é muito grande
Ela
me engoliu e não faço ideia do que fazer
Cai
a noite
Inimiga
involuntária
Mudam
os olhares de rejeição
Ainda
que pouco veem
Risadas
embriagadas parecem amistosas
Adolescentes
bêbados são os piores
Achando
que viveram #tudo o que há pra viver
No
entanto, fique na sua
Crimes
são mais propícios na penumbra
Albergue
apinhado
Resta
a pútrida calçada cheirando a urina
Nos acostumamos
fácil ao que é ruim
Não
ao que é bom
Sempre
queremos mais
Quando
possuímos, nada é suficiente
“Levanta”
Um
chute
Não
é outro pesadelo
“Estamos
abrindo”
Já não
temos ideia do que basta
Há
sempre um abismo maior a encarar
Aguentamos
muito mais do que aqueles que acreditam nada mais suportar
Esta
cidade é muito grande
Da série; Calle
#Monstro Sist — Termo utilizado por Raul Seixas também na
música, As Aventuras de Raul Seixas Na Cidade de Thor.
#Senhor padre ou policial — Termos utilizados por Raul
Seixas na música Ouro de tolo; “E você ainda acredita que é um doutor, padre ou
policial que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social”.
#É preciso ser ligeiro pra não cair onde estou — Trecho
da música Dorobo cantada por Sabotage; “Dorobo, tem que ser ligeiro se não cai,
onde estou”.
#Tudo o que há pra viver — Trecho da música Tempos
modernos de Lulu Santos; “Vamos viver tudo que há pra viver”.
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