Sentido
e sentimento. Tudo o que faço, quando o faço por vontade própria, mantenho-me
muito atento a estas duas situações; ainda que, quando queremos, quando
desejamos de verdade. Quando sentimos que o poder da busca instalou-se, já não
é mais necessário ficar atento aos detalhes, principalmente se estejam
diretamente relacionados com o vulto maior, com o motivo principal da ação em
curso somado a personalidade já afinada ao que convém.
Gosto
de usar uma referência para ilustrar, e nestes casos é sempre bom mencionar a arte como exemplo. Boa parte da arte que visualizamos e que desperta
emoções está diretamente ligada ao sentimento do artista. O cinema, a música, a
pintura e mais raramente, o teatro; os principais, mas não únicos. Preciso
fazer um aparte aqui, já percebi, e não foi apenas uma vez, que este sentimento
pode ser passado durante o preparo de determinadas refeições também –
significando que não é o fazer, e sim, como fazer. Provando que a arte supera
a abrangência do nosso querer.
Quando executo o meu hobby da escrita, - hoje
a minha primeira distração quando não estou em família - penso muito, antes de discorrer
meus pensamentos, antes de aspergi-los sobre o papel. Centenas de oportunidades
batem nos escaninhos lotados do meu ativo cérebro que não descansa, porém é uma
parte muito pequena que é mencionada, e aqui devo agradecer ao tempo, porque do
contrário registraria muito do que alguns têm como temas que serve apenas para
gastar papel, ou pior, fazendo-o quantitativamente. Se não é tudo que me
assalta a mente que posso consignar, ainda há muito do que não o faço que
mereceria uma chance de vingar – aqui entra o fator tempo.
Se
não tem sentido e não posso colocar sentimento; porque de alguma maneira
naquele instante não me tocou: não me interessa.
É
certo que com algumas das palavras que frequentemente utilizo, busco vingar-me
e vingar também um que outro leitor, ao atacar alguém que de alguma maneira
praticou ações que vão contra o que para nós é considerado como sentimento
nobre; e estas, invariavelmente, com uma carga extra de emoção.
Apenas por esta janela, qualquer um poderia
pensar que agora entendeu o que citei a pouco sobre “falta de tempo”, mas não
se enganem, há tempos que iniciei uma luta ferrenha para separar o que faz mais
ou menos sentido observar. Minha relação é muitíssimo bem ajustada para não
cair na vala comum do relator ordinário, afinal, se analisar superficialmente,
as hecatombes e descalabros humanos apenas deste início de século; não se requer
estudo muito apurado para comentá-los.
Como
já citei em outros momentos, a barbárie, o contra senso, a falta de discernimento,
o desrespeito, as ações disparatadas tomaram um tal rumo de corriqueiridade que
perdemos quase que totalmente – apenas nós que a tínhamos – a referência do que
é certo, do que é correto, quando se quer observar uma convivência minimamente
descente. Mas o problema não somos nós que assistimos ou somos vítimas a cada
minuto. O absurdo está nos pequenos delinquentes (quanto a isso nada podemos
fazer) ou grandes parias da sociedade, que veem no caos instalado uma oportunidade
de ganhar uns trocados (e sempre o fazem), ou pior, se anula para que sua
covardia seja vista em alguma destas telas que tomaram o planeta, ao vender-se
como alguém são.
Preciso
confessar que poucos textos que escrevi, antes de fazê-lo, pensei em
sentimento. Sentido; sempre. Sentimento nem sempre. O sentimento a meu ver
nasce do texto, ele vai surgindo conforme vou espichando as frases. Neste
momento; nestas linhas é diferente. Gostaria que o sentimento se apresentasse.
Sempre sou disperso a ele, afinal é ele quem comanda, então: quem sou eu para
despertá-lo. Porém hoje eu o queria. Mas o desejo sem obrigação; o quero
despertado pela condição do texto, do tema que escolhi e irei relatar.
Entendo
que já estou passando da meia idade, e ainda que em meio a este quadro de
calamidades citado a pouco que a todo instante nos surpreendem com notícias
que, sabemos: muitos ao ouvi-la, perderam o chão; estou escolado. Minhas
experiências e minhas observações, - e sou extremamente crítico, por isso pouco
me passa alheio – me jogaram em um limbo de conforto. Vivo mal, observando o
que observo e vivendo as necessárias obrigações comuns, mas vivo bem devido,
principalmente, a algumas das minhas escolhas. E a experiência de vida já
ajeitou a carga, que, se observada de longe, é bastante incômoda.
Porém esta semana fui assaltado com uma
daquelas notícias que, justamente, até então condenava, ao perceber nas
ingenuidades parvoeiras de terceiros, quando totalmente surpreendidos. Minha
crítica ligeira e muitas vezes impensada, logo que assistia a incredulidade dos
afetados era: “como é que este ignorante não sabia que estava sendo enganado?”.
Pois mais uma vez, e fazia algum tempo que ela não se apresentava, a surpresa
do ignorante me atingiu. Esta semana li uma nota no jornal onde é apontado que
ainda há morte de animais nos filmes americanos, e pior, mesmo com todo um
aparato técnico, e tecnologias que dispensam os animais in loco, no filme como, “As aventuras de Pi”, por exemplo – existem
mais na reportagem - o tigre, em determinada situação teve que ser içado da
água quase afogado.
A
nota termina apontando a American Humane Association (AHA), associação
que acompanha todo o processo de fiscalização e responsável também, por incorporar
determinada nota ou laudo final ao filme, formada por pessoas que se dizem
protetoras dos animais; como coniventes com as ocorrências.
Quão
parvo sou? Eu que sempre soube que apenas é nos mostrado, - quando é mostrado -
uma décima parte, uma ponta mínima do mal praticado. Que é somente o mau cheiro
de uma podridão inimaginável que podemos sentir. Isto tão somente, quando não
podem eles mais suportar o dique de sujeira que estão encobrindo. Mais uma vez:
paciência!!!
Estou
aqui então não apenas assumindo a minha vergonha por acreditar que uma das
minhas, hoje, maiores distrações; é, está e sempre foi corrompida também neste
aspecto; os outros insistentes absurdos como: a vaidade presente no meio; a briga de foice que é manter-se entre estes
lutadores com seus egos super-inflados e suas cargas de inseguranças e falta de
amor próprio, e o mercantilismo, já haviam sido superados.
Apesar de tudo isso,
somos, invariavelmente, brindados com filmes emocionantes, mas também me
perguntando, como, a que risco estarei exposto ao assistir um filme, e então
ser surpreendido com uma cena violenta que, se já provocava um sentimento ruim
quando ignorava; como será agora com a dúvida se o animal continua ou não ainda
vivo?
Nota e reportagem sobre o
caso em:
028.g
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