A
leitura continuada molda o leitor, porém, como tudo neste plano, sofre a
interferência peculiar daquele que se instrui; seus equívocos, e más intenções.
Desta feita, não é possível que a obra seja, jamais, a culpada dos desmandos advindos
das interpretações particularíssimas de cada um; isso significa que o autor
somente pode ser atacado quando provada a intenção das ações que decorrem de
suas idéias projetadas se observadas e executada ipsis litteris.
Por
exemplo, existia uma lei mosaica, onde o acusador poderia; antes mesmo do
julgamento, ainda que não matasse; atirar a primeira pedra no acusado. Vivemos
um tempo de novas injustiças, e ainda que as leis se adéquem ao estado novo que
se forma a cada comando instalado, mais nos esquecemos das leis antigas bem
como de comportamentos a elas adequados
ou mesmo a um proceder justo, concomitante ao homem que domina a cultura e se
assume refém do conhecimento; de posse destes pontos poderíamos imaginar uma
situação onde nossa resposta nos situaria em uma determinada escala de revolta
com os agravos que nos atingiram, assolando, afetando patologicamente ou não
nosso eu psicológico. Digamos então que; se importassem para nossos dias a lei
do apedrejamento, a aceitaríamos? E qual seria a força e o tamanho da pedra
escolhida para aplicar a justiça; nossa vingança; ou simplesmente a lei?
Devemos
entender que somos nós, com nossos interesses, atribulações e pendências diárias
que nos deixamos contaminar com o meio que está se formando, auxiliando assim,
também, no desenvolvimento de todo o estado novo, por isso, em um momento de
lembrar velhas leis: que não esqueçamos também da lenda que ao final, quando o
sábio inquirido sobre se o pássaro*
que o menino segurava às escondidas estava vivo ou morto, este respondeu: “a
resposta está em suas mãos”.
*
*Certa feita, um menino quis desafiar
um sábio que passava pela aldeia. Com um passarinho preso às mãos; aproximou-se
dele e perguntou:
— Tenho um pássaro entre as mãos.
O senhor sabe se ele está vivo ou
está morto?
Obviamente a pergunta era maldosa,
pois se o sábio respondesse que o
pássaro
estava vivo, o menino pretendia
esmagá-lo;
se respondesse “morto”, abriria suas
mãos e o deixaria voar.
Contudo, a esperteza do menino
sequer desconfiou da
extensão dos horizontes da sabedoria;
ficando perplexo ante a resposta do
venerável homem.
— A resposta está em suas mãos.
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