“Produzir o
desejo de consumo”
"Quanto à
iniciativa privada em si, chegamos a um momento da história social e do
desenvolvimento econômico em que ela detém boa parte do poder de produzir e
determinar o que deve ser desejado a ser produzido e consumido. O ideal perseguido
por boa parte dos empreendimentos, não é produzir o que deseja/necessita o
mercado de consumo, mas produzir o desejo de consumo daquilo que interessa ser
produzido, nas quantidades, qualidade e preços por ela determinada." (p.51)
Por livre e
espontânea pressão
"O peculiar
do contrato que regula os interesses de mercado, é que justamente ao surgir no
seio da livre iniciativa, em muito serve exatamente como uma garantia contra o
interesse de outros, que também disputam por esse mesmo mercado através de sua
livre iniciativa. Uma espécie de acordo entre leões, onde tudo é válido menos
morder a cauda um do outro." (p.52)
Cultura
livre... sempre
"O conceito
de Cultura encontra-se entre os mais discutidos e controversos na sociedade
contemporânea. Parece não encontrar síntese fácil ou consenso estabelecido que
possa traduzir sua dimensão. E isso, de fato, não se constitui em seu demérito.
Como parte de sua incompletude dinâmica, a cultura destaca a experiência humana
em sua própria realização, em seu estágio de permanente vir-a-ser. Não poderia,
portanto, estar encerrado em um lócus conceitual acabado e definitivamente
delimitado, se assim o fosse, aí sim haveria alguma dificuldade." (p.55)
Mescla...
que pode ser positiva
"O Mercado
não é fruto das condições constituídas exclusivamente no momento presente, ele
é fruto da interação humana que procura reproduzir as condições de subsistência
de sua própria espécie historicamente. Como tal, ele é um “elemento
transcendente” que dá a característica de “ser humano” ao homem e que se
constitui histórica e culturalmente trazendo, como um de seus efeitos, transformações
ao próprio ser humano em uma relação dialética que amálgama e torna indistinto
o que é o homem e o que é o mercado. Isto torna impossível se falar em um
homem, sem falar em um mercado, e vice e versa." (p. 67)
O diferente
igual
"Esse “canto
da sereia” da “sociedade-moda”, onde “tudo que é novo apraz” – onde a razão do
“homem moda” é apresentado como o inovador, aquele que está no topo “fashion”, na “última moda”, na vanguarda
contemporânea. Toda essa atenção à moda vendida como a fronteira da inovação e
ao máximo da realização “cultural” humana, é na verdade a proposição do “mais
do igual”. Ditar a moda não é necessariamente inovar, pois procura ao Mercado
que visa a reprodução do mesmo, direcionando-se à massificação do estilo. O objetivo
da moda é torná-la o que estatisticamente diz de si, ser igual ao outro, e
garantir a curva de vendas, vendendo o sonho da exclusividade. Assim, “estar na
moda” é conceder-se à massificação de mercado." (p.69)
O estado do
homem contemporâneo: catártico
"Uma das
marcas mais fortes da sociedade capitalista que se desenvolveu nestes últimos
duzentos e tantos anos foi o crescente apanágio do indivíduo/cidadão como um
ser individualista, completo e autossuficiente, com potencial e liberdade para
capitanear o norte de seu destino. Porém, no dia a dia, encontramos um ser
desesperado, que se propõe ao máximo evitar o sofrimento, qualquer sofrimento,
não simplesmente como fuga da dor em razão de seu instinto de sobrevivência;
mas como o enaltecimento do máximo prazer, que por fim acabou por instruir uma
sociedade de viés hedonista, altamente interessada na possibilidade de prazer
imediato e sem limites, sensível à perda e pouco resistente à cessão, de qualquer
coisa que seja; ainda que não pareça ter escrúpulos diante do desperdício desmedido
iluminada pelo panteão do consumismo." (p.73)
“Tornando
visível”
"A
construção do individualismo e sua eloquente privatividade, são fruto de uma
combinação incerta, onde o mundo lá fora é a realidade aparente, que garante após
a formação de um limite, também incerto, o princípio e a primazia do privado. O
mundo privado não existe, senão como uma concessão contraposta do domínio público,
que numa mesma toada pertence a todos e a ninguém. Que a todos protege enquanto
lhes ameaça." (p. 74)
Marcos de
Almeida,
prof. curitibano em sua Dissertação de Mestrado –
Lei Rouanet: Entre o
público e o privado na gestão da cultura no Brasil.
*
“O sonho de sermos senhores independentes de nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos peças ínfimas da máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações em massa que controlam tudo.”
Erich Fromm, 1980 pp. 24
*
Marcos, enquanto
o leio penso, jamais, governo algum deveria criar qualquer tipo de dependência (associação, impedimento),
muito menos monetária para desenvolver e inventariar a cultura.
Belíssimo
trabalho, amigo Marcos, porém, ao sentir seus esforços, analisando sua
pesquisa, sua ideia, sua vontade aflorada, digo que sou feliz por você, por sua
obra, mas quanto mais ela é aprofundada e pungente, mais triste somos nós que
nela percebemos o quanto estamos refém de mentes outras que não apenas aquelas
que nos elevam culturalmente.
Os donos do
poder não nasceram voltados para o mundo da arte; da cultura. A arte é um
desafio em todo o seu arcabouço e a cultura tornou-se um apêndice incômodo aos
governos – pois ela não premia a curto prazo - ainda que sobreviva, sempre bela,
principalmente, por conta de sua luz própria.
O mundo
político; do poder econômico, busca soluções fáceis e rápidas. No plano
cultural não é esse o caso, tornando-a desinteressante ao meio elegível, como fica
diligentemente comprovado nas suas palavras.
Como precificar
a cultura, aqui, neste plano, e ainda mais no nosso país! Parece-me que ela não
vale muito, por isso é tão caro promove-la.
Abraços
Marcos, parabéns.
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