segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Dedicação premiada








“Produzir o desejo de consumo”

"Quanto à iniciativa privada em si, chegamos a um momento da história social e do desenvolvimento econômico em que ela detém boa parte do poder de produzir e determinar o que deve ser desejado a ser produzido e consumido. O ideal perseguido por boa parte dos empreendimentos, não é produzir o que deseja/necessita o mercado de consumo, mas produzir o desejo de consumo daquilo que interessa ser produzido, nas quantidades, qualidade e preços por ela determinada." (p.51)

Por livre e espontânea pressão

"O peculiar do contrato que regula os interesses de mercado, é que justamente ao surgir no seio da livre iniciativa, em muito serve exatamente como uma garantia contra o interesse de outros, que também disputam por esse mesmo mercado através de sua livre iniciativa. Uma espécie de acordo entre leões, onde tudo é válido menos morder a cauda um do outro." (p.52)

Cultura livre... sempre

"O conceito de Cultura encontra-se entre os mais discutidos e controversos na sociedade contemporânea. Parece não encontrar síntese fácil ou consenso estabelecido que possa traduzir sua dimensão. E isso, de fato, não se constitui em seu demérito. Como parte de sua incompletude dinâmica, a cultura destaca a experiência humana em sua própria realização, em seu estágio de permanente vir-a-ser. Não poderia, portanto, estar encerrado em um lócus conceitual acabado e definitivamente delimitado, se assim o fosse, aí sim haveria alguma dificuldade." (p.55)

Mescla... que pode ser positiva

"O Mercado não é fruto das condições constituídas exclusivamente no momento presente, ele é fruto da interação humana que procura reproduzir as condições de subsistência de sua própria espécie historicamente. Como tal, ele é um “elemento transcendente” que dá a característica de “ser humano” ao homem e que se constitui histórica e culturalmente trazendo, como um de seus efeitos, transformações ao próprio ser humano em uma relação dialética que amálgama e torna indistinto o que é o homem e o que é o mercado. Isto torna impossível se falar em um homem, sem falar em um mercado, e vice e versa." (p. 67)

O diferente igual

"Esse “canto da sereia” da “sociedade-moda”, onde “tudo que é novo apraz” – onde a razão do “homem moda” é apresentado como o inovador, aquele que está no topo “fashion”, na “última moda”, na vanguarda contemporânea. Toda essa atenção à moda vendida como a fronteira da inovação e ao máximo da realização “cultural” humana, é na verdade a proposição do “mais do igual”. Ditar a moda não é necessariamente inovar, pois procura ao Mercado que visa a reprodução do mesmo, direcionando-se à massificação do estilo. O objetivo da moda é torná-la o que estatisticamente diz de si, ser igual ao outro, e garantir a curva de vendas, vendendo o sonho da exclusividade. Assim, “estar na moda” é conceder-se à massificação de mercado."  (p.69)

O estado do homem contemporâneo: catártico

"Uma das marcas mais fortes da sociedade capitalista que se desenvolveu nestes últimos duzentos e tantos anos foi o crescente apanágio do indivíduo/cidadão como um ser individualista, completo e autossuficiente, com potencial e liberdade para capitanear o norte de seu destino. Porém, no dia a dia, encontramos um ser desesperado, que se propõe ao máximo evitar o sofrimento, qualquer sofrimento, não simplesmente como fuga da dor em razão de seu instinto de sobrevivência; mas como o enaltecimento do máximo prazer, que por fim acabou por instruir uma sociedade de viés hedonista, altamente interessada na possibilidade de prazer imediato e sem limites, sensível à perda e pouco resistente à cessão, de qualquer coisa que seja; ainda que não pareça ter escrúpulos diante do desperdício desmedido iluminada pelo panteão do consumismo." (p.73)

“Tornando visível”


"A construção do individualismo e sua eloquente privatividade, são fruto de uma combinação incerta, onde o mundo lá fora é a realidade aparente, que garante após a formação de um limite, também incerto, o princípio e a primazia do privado. O mundo privado não existe, senão como uma concessão contraposta do domínio público, que numa mesma toada pertence a todos e a ninguém. Que a todos protege enquanto lhes ameaça." (p. 74)



Marcos de Almeida, 
prof. curitibano em sua Dissertação de Mestrado – 
Lei Rouanet: Entre o público e o privado na gestão da cultura no Brasil.

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“O sonho de sermos senhores independentes de nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos peças ínfimas da máquina burocrática, com nossos pensamentos, sentimentos e gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações em massa que controlam tudo.”



Erich Fromm, 1980 pp. 24
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Marcos, enquanto o leio penso, jamais, governo algum deveria criar qualquer tipo de dependência (associação, impedimento), muito menos monetária para desenvolver e inventariar a cultura.

Belíssimo trabalho, amigo Marcos, porém, ao sentir seus esforços, analisando sua pesquisa, sua ideia, sua vontade aflorada, digo que sou feliz por você, por sua obra, mas quanto mais ela é aprofundada e pungente, mais triste somos nós que nela percebemos o quanto estamos refém de mentes outras que não apenas aquelas que nos elevam culturalmente.

Os donos do poder não nasceram voltados para o mundo da arte; da cultura. A arte é um desafio em todo o seu arcabouço e a cultura tornou-se um apêndice incômodo aos governos – pois ela não premia a curto prazo - ainda que sobreviva, sempre bela, principalmente, por conta de sua luz própria.

O mundo político; do poder econômico, busca soluções fáceis e rápidas. No plano cultural não é esse o caso, tornando-a desinteressante ao meio elegível, como fica diligentemente comprovado nas suas palavras.

Como precificar a cultura, aqui, neste plano, e ainda mais no nosso país! Parece-me que ela não vale muito, por isso é tão caro promove-la.

Abraços Marcos, parabéns.


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