Sinônimos
antagônicos - Do gênio eterno e sua genialidade fisiologicamente contextualizante.
No livro Em busca dos fundamentos perdidos, de
Edgar Morin, me deparo novamente com um pensamento inteligente por tratar-se
apropriado, sensato e imparcial apartidário concentrando-se tão somente na
pureza da proposta, no entanto assisto pela primeira vez tudo isso reunido
referindo-se ao inimitável – ou seria intocável? - Marx. Conseguindo,
magnificamente, se aproximar da crueza da proposta deste mantendo-se livre de
dogmas ao passar de forma genial ao leitor a ideia real do nosso ilusório
coabitar social político corrente sem recorrer aos costumeiros artifícios do
empirismo malhado, da metafísica ou dogmas aferrados escancarando, simultaneamente:
o quanto estamos encalhados no anti-marxismo como o concebemos ainda puro e
petrificado – não o político manipulável, mas o fisiológico. No entanto não é
só; o pensador francês aprofunda sua síntese sem que, em momento algum derrape
nos clichês óbvios do que se transformou o marxismo barato e partidariamente
engajado – uma análise totalmente isenta que instiga à contextualização
verdadeira e inteligente, pares reais de um gênio até então empalhado para
todos aqueles que aderiram a panfletagem partidarista que, obrigatoriamente,
busca arrastar as massas, ou a elite intelectual preguiçosa por conta da
morbidez acadêmico catedrática ou da engajada trupe a que pertence o torpe
pensador popularista; extremamente oposto ao nosso, a meu ver, ícone maior do
pensamento contemporâneo.
O que Edgar
Morin nos apresenta é um retrato social/político escroto e abjeto – aberto e
enraizado voltado à separatividade -, e como sempre – é o papel do pensador
filosófico, fazê-lo – escancarando, e, no entanto, se expondo ao apontar, ao
deixar claro que não há nada que possa ser feito. Ele até, magnificamente,
assinala pontos de abordagem ao deixar claro para o entendimento comum, lançando
mão da expressão emprestada do alemão, Sollen
(dever-ser), realçando o que insistimos esconder: que estamos todos fadados a
viver no absurdo que o sistema atual nos apresenta; com o surrado: é o que
temos para hoje, nas suas palavras, talentosamente transformado em - “só pode
ser assim e, contudo, deve ser de outra forma”.
Da série; descerrando
o véu
É papel do
autor filosófico tão somente startar
uma ideia; é o subsequente conjunto em movimento que se aproveita do sempre
evoluir para continua-la.
O
epistemológico marxismo “antropólogo genético”* no entanto, ainda não
petrificado, é o melhor exemplo para observar que autor e obra são distintos.
Aqui baseado na premissa de que a boa filosofia independe do instrumento
criador para continuar a eterna mutante tentacular; contextualizante, aberta e
continuamente receptiva em uma espécie de estado de proto agora, ininstagnável.
Um organismo vivo muito além da vontade/capacidade daquele que, ainda que um
gênio; é um homem pensante.
* “Marx
tinha visto que as coisas sociais
eram energia humana petrificada, portanto, reciprocamente, que as energias eram
coisas sociais em vias de constituição ou de desintegração. Um problema central
da história sociológica vem a ser o de mostrar como a energia se torna coisa (massa no sentido físico, instituição no sentido sociológico),
como a massa se torna energia. A história é o polo energético, a sociologia o
polo estrutural da nova e verdadeira ciência: a Antropologia genética.” p63
Seu "The ürbermensh"???
“Na falta de um modelo, um tipo de homem seria
meu ideal. Seu equilíbrio se modifica, se destrói e se reformula no campo de
batalha das contradições. Ele não quer deixar o terreno das contradições. Não
quer expulsar o negativo do mundo, mas participar de suas energias. Não quer
destruir o positivo, mas resistir à petrificação. Não quer nem escapar ao real
nem aceitá-lo, mas gostaria que o real fosse transformado e talvez espere que
este real seja um dia transfigurado. Esforça-se para tornar criativa em si
próprio a luta dos contrários. Tragédia e comédia, epopeia e farsa estão para
ele indissoluvelmente presentes a cada instante. Ele se sabe enfermo,
particular, mas o que o comove é a universal miséria de cada um e não a
solidão. A solidão é a enxaqueca do mundo burguês. Este homem não odeia nada
nem ninguém. Suas duas paixões são o amor e a curiosidade. Sua curiosidade é
uma energia sem fronteiras. Seus amores não se excluem nem se tornam insípidos.
Este homem adulto é, ao mesmo tempo, muito velho, criança e adolescente. Está
sempre em formação. Obstina-se em procurar o além.” p68
Trechos
Contextualização
(ou algo mais pessoal; tudo o que não regenera degenera)
“Quem não
está nascendo está morrendo” Bob Dylan (citado no livro insinuando a nossa
obrigatoriedade à busca, à contextualização, ao sair da zona de conforto; ao
não acomodamento).
Heidegger; "o começo está aí. Não jaz atrás de nós... mas estende-se diante de nós" (idem). p22
“...princípio primeiro da ecologia da ação,
que nos diz que todo ato escapa às intenções do ator para entrar no jogo das
inter-retroações do meio, podendo desencadear o contrário do efeito desejado.”
p96
Sollen – Dever ser
“O que resultará do encontro entre
dever-ser e a realidade? O dever-ser se dissolverá na realidade anterior ou a
transformará? Em que medida é necessário adaptar o dever-ser à realidade? Em
que medida fazer composições, sem cair no oportunismo? Em que medida recusar
transigir, sob o risco de nada fazer ou deixar-se exterminar? Teoricamente nada
nos oferece o grau-limite de recusa e o grau-limite de aceitação para agir
eficazmente. Cada situação requer sua estratégia e sua tática.” p43
“Só pode
ser assim e, contudo, deve ser de outra forma.” p49
“entretanto,
por mais repulsiva que seja, com sua podridão e sangue, com a purulência
amarelecida da estultice, a política é também a única arte, a grande arte. Hoje
todas as artes se esgotam, se exaurem, transmutam-se em ciência ou
reconvertem-se em magia infantil.” p50
“A política
é, ao mesmo tempo, demasiadamente carregada de problemas e demasiadamente
esvaziada de pensamento.” P108
"Metamorfose
ambulante"???
“O que
fazer? Como dizer? É necessário ao mesmo tempo aceitar o que se recusa e
recusar o que se aceita. É preciso exigir a totalidade e negá-la.” P59
Livro
Em busca dos fundamentos
perdidos
Sulina
Edgar Morin
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