Se por um
lado vivemos tempos de descrença a respeito de pessoas conselheiras, por outro
nunca fomos tão refratários à palavra que aconselha, que observa, que pontua
ações que desviam colegas, irmãos, amigos de um caminhar menos digno.
Se por um
lado nos assenhoramos de posições que acreditamos ter direito apenas por entender
que elas existem em próximos que as conquistaram com louvor, por outro
desconhecemos e pouco nos importamos se a dominação que exercemos sobre o
pequeno burgo; a pequena rede social em que esbravejamos, não é, por si só,
salvo-conduto para saltos verdadeiramente ousados na sociedade real.
As
correntes mais diversas insistem na polarização; isto é o inverso de uma das
forças filosóficas mais antigas que conhecemos: o equilíbrio. A luta imemoriável
em busca da comunhão entre as pessoas, o ajuste, o entendimento, e porque não,
a sociedade.
Ao mesmo
tempo em que nos parece paradoxal que há anos o mundo se vanglorie e comemore o
que chamamos de conquista da globalização, é de uma ambiguidade estupenda que
em tão pouco tempo a palavra de ordem, e não sem uma aura de animosidade; nosso
enroscado desenvolvimento grita justamente o contrário: à divisão – em forma de
polarizações a toda ordem.
Tudo muito bem
demarcado, limites, fronteiras. Direita; esquerda. Sul; norte. O bairrismo, o
sentimento ainda mais desconhecido de patriotismo retorna da pior maneira
possível, sob o asco da reles política. Do partidarismo. Enquanto, justamente,
suas vítimas são fabricadas do desconhecimento, lançando mão do pequeno escravo
da vaidade que se entende erradamente, e inadvertidamente, senhor de si, sob
alcunhas pomposas como: indivíduo, dignidade, empoderado...
Inversamente,
recolhem-se, aqueles poucos que muito observam e estudam. Os conselheiros, se
já não precisam ser ouvidos, quando bons, não buscam falar. Entendem que tanto
o verbo quanto sua verbalização é Sagrada e precisam ser respeitados quando
ainda resta um mínimo de essência nesse querer.
Assim, se
por um lado, daqueles poucos conselheiros remanescentes existe um número ainda
menor deles realmente dispostos a falar ao público a antiga língua do
equilíbrio; ainda se deseja que menos isso aconteça entre a maioria esmagadora,
refratária às velhas escolas. A globalização talvez tenha nos aproximado de tal
maneira, entrando em nossas vidas inicialmente como um presente, onde a tão
esperada união dos povos finalmente tivesse sido alcançada, quando, ainda é
cedo para afirmar, ao final – em verdade - esperamos não ter recolhido o cavalo
de Tróia para dentro de nossos muros, onde o inimigo, antes verdadeiramente polarizado,
está agora, mais próximo do que nunca.
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