domingo, 24 de junho de 2018

A bola da sua vida



Enquanto isso na Copa...

E se for verdade que nascemos neste vale de lágrimas infinitas e infinitas vezes até nos conscientizar justamente sobre isto?

E se for verdade que nos encontramos com esta mesma consciência todas as vezes que fazemos a passagem?

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Ao assistir alguns jogos da Copa, uma ou outra vez a bola sobra em frente ao gol. Justamente àquela, tanto aguardada, no entanto, inimaginável. Qualquer um que esteja ali para coloca-la pra dentro idealizou este instante centenas de vezes; imaginou-se exatamente nesse quadro – a bola da sua vida. À frente, a imensidão de uma trave praticamente aberta, o goleiro batido. Porém a ânsia, o despreparo que não sabia existir, o nervosismo, a expectativa, um turbilhão em um insight toma conta da razão e ao invés de focar a bola; no ato: dá-se ao afã, e a pelota é isolada; sem ao menos ter direito ao escanteio!

E se assim é a nossa vida? Bruta, solitária e nada paternalista – disponível tão somente ao verdadeiramente preparado! Dependendo às vezes de um instante, um lapso, que, invariavelmente por ainda não termos definido o é do não é; se transforma em um deslize... um já era... um isolar de bola. Onde se é, mais uma vez, jogado pra escanteio!

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E se tudo o que é tão somente nosso depender, definitivamente, apenas de nós, de nossa ação centrada? De nossa ação dedicada por centenas e milhares de outras existências, porém, ainda mais uma vez - pela enésima - neste instante, que (não)entendemos como nosso existir, nos dedicamos ao afã dos milhares de interesses alheios ao que remete ao gol que mudará a jornada do dia seguinte?

E se o existir não for cruel, mas, justo? E o que entendemos por união, irmandade, família, não tem nada a ver com suportar um ser que não se governa e o que entendemos por abandono tem a ver com maturidade, com evolução, com o acordar, e enquanto nossos complexos não forem todos chorados esse maturar não estará ao ponto de vingar como a verdadeira Fênix?

A bola da nossa vida passa em frente ao nosso nariz cotidianamente, no entanto, e ainda, nos parece que nem mesmo entendemos que estamos jogando.


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