Muito novo e
com todo o gás nada poderia me deter. Me arriscava nos negócios sem
conhecimento, sem preparo; só na vontade. Nas rodovias mesmo sem manutenção com
carros ultrapassados e sob chuva com ímpeto igual ou ainda mais desespero – o
desespero que a ânsia causa – era a materialização da imprudência. Empanado com
toda a carga arrogante de quem está tendo sorte, de quem tem o sorriso do mundo,
um abençoada que nada sabe da vida e pensa que conhece o homem apenas sob os
auspícios da primeira impressão – apenas o despreparado confia nessa lorota.
Convencido
sem um porquê; naquela época todo o show motivacional que me diferenciasse dos
demais era frequentável. Em um desses, ministrado por um diretor do maior
jornal local, um exercício simples se revelou em um tremendo tapa na cara que,
é claro, assumida três décadas depois e ainda com uma certa negação, porém, o
jovem que queria conquistar tudo já não mais existia.
O teste
revelou que internamente eu queria ser uma águia, agia sob a minha ótica crente
ser um leão, porém era visto por todos a minha volta como um macaco.
Aconteceu o
que deveria acontecer nestes cursos alugações de 40 horas; não aconteceu. Não
fiquei nem um pouco mal na hora, como sempre argumentei externamente e tentando
me convencer, coisas que todos fazemos quando não queremos enxergar o óbvio e
não temos amigos ou mentores aptos a nos dar uma cajadada.
Quanto
continuo assim? Quanto ainda resta do infante tomado da testosterona imberbe?
Me pergunto. Hoje seriam outros bichos: cachorro que ladra mas não morde, hiena
que ri enquanto como carniça e um chimpanzé velho preso em uma jaula que já não
mais com isso se preocupa.
Brincadeiras à
parte, no exercício de hoje quero abordar o que parece, o que vemos e o que é –
partindo do princípio que “o que é” é um poço sem fundo. Esta ideia partiu de
uma conversa com um colega sobre os ataques que as mídias recebem gratuitamente
até se transformar na pecha de tendenciosa; porém esse gratuitamente não é de
graça, isto é, elas merecem, porém não são totalmente culpadas, mas precisam se
incomodar com essa opinião generalizada, lembrando que não há muito que elas
possam fazer para resolver ou mesmo amenizar a situação, simplesmente por conta
do mote ambíguo do “que parece, o mostrado e o que é”.
Assim como a
pessoa, isso aprendi no curso - à maioria do que somos expostos também aqui se
encaixa: indivíduo, família, religião, mídia, empresa, conglomerado, tudo.
Certa equanimidade de personalidade somente é encontrada em situações muito
esporádicas que não vem ao caso neste exercício.
Minha
conversa com o colega dizia respeito a minha atenção – observação dele - às
mídias que são expoentes de ataques devido ao patente posicionamento parcial. O
que não discordei de todo. Elas são, e digo mais: todas são e é assim que
precisa ser – elas e o restante do mundo estão obrigados a se posicionar. Por
sua vez são poucos adeptos que concordam. Muitos por não terem adquirido uma
crítica humana afinada, pouco percebem do que realmente está acontecendo,
afinal é uma parcela mínima– apenas daqueles que tem vontade - que dispõem de tempo
para atenções mais apuradas, portanto, a maioria vai no lance da “boiada”
mesmo.
No processo universal
a que estamos envolvidos, ninguém que tenha no seu negócio necessidade de
mantê-lo, pode se dar ao luxo de ser imparcial, até porque em algum grau todos
os colegiados que detêm ou se revezam no poder do planeta estão conspurcados. E
o resultado disso é matemático, se meu negócio habita um nível mais baixo,
preciso trazer meus clientes e toda horda que mantém ele funcionando para o mesmo
patamar.
Qualquer
posição que tomamos hoje não é a posição mais acertada, não é possível. É
apenas a menos ruim; é a que é possível. É o que nos “cabe deste latifúndio”.
Vivemos a era da mediocridade que tem raiz no mediano que, qual torniquete
usado para conformar; a tendência é o acochar progressivo.
O que
assisto, o que observo na mídia tendenciosa definitivamente não é ela em si e
sim o que considero “notas noticiosas” e pontuações concernentes a sistematização
social; é para estas que direciono minha atenção macro sem o ater demasiado,
cego, às opiniões de especialistas, porém isso não é privilégio deste ou
daquele matutino. Este borbulhar informacional está por toda parte, inclusive
em alguns endereços pertinentes ao alcance instantâneo das mãos. Afinal são
notas, opiniões e notícias, se não no mundo todo, no país, no estado ou região
de interesse. O que devemos prestar atenção, mas isso é difícil de ser
conquistado, é no que entendia quando criança como “engambelamento”. Em quanto
estou sendo engambelado por este ou aquele partido, colega, autor, chefe – sem
dúvida aquele que critica os meios de comunicação sem um porque razoável; sem
um parecer próprio e fundamentado está de alguma forma engambelado por opiniões
alheias; dificilmente sua opinião é pessoal.
Como resolver
isso? Desengambelando de tudo. Coloca tudo num caldeirão e “sarta fora”. De
fora você, de posse de uma consciência crítica apurada, escolhe, se resguarda,
se prepara, planeja, se direciona para atenções devidamente apropriadas ao seu
metiê.
“A vida é o
que está acontecendo enquanto estamos fazemos planos” diz John Lennon, porém a
palavra “acontecendo” dos anos 70 expirou, a frase é perfeita, mas precisa ser
contextualizada frequentemente; e se nas décadas do século XX era um frequente,
nas do XXI a frequência é outra. Os bichos são outros; bicho!
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