sábado, 19 de junho de 2021

“Engambelado”

 



Muito novo e com todo o gás nada poderia me deter. Me arriscava nos negócios sem conhecimento, sem preparo; só na vontade. Nas rodovias mesmo sem manutenção com carros ultrapassados e sob chuva com ímpeto igual ou ainda mais desespero – o desespero que a ânsia causa – era a materialização da imprudência. Empanado com toda a carga arrogante de quem está tendo sorte, de quem tem o sorriso do mundo, um abençoada que nada sabe da vida e pensa que conhece o homem apenas sob os auspícios da primeira impressão – apenas o despreparado confia nessa lorota.





Convencido sem um porquê; naquela época todo o show motivacional que me diferenciasse dos demais era frequentável. Em um desses, ministrado por um diretor do maior jornal local, um exercício simples se revelou em um tremendo tapa na cara que, é claro, assumida três décadas depois e ainda com uma certa negação, porém, o jovem que queria conquistar tudo já não mais existia.




O teste revelou que internamente eu queria ser uma águia, agia sob a minha ótica crente ser um leão, porém era visto por todos a minha volta como um macaco.




Aconteceu o que deveria acontecer nestes cursos alugações de 40 horas; não aconteceu. Não fiquei nem um pouco mal na hora, como sempre argumentei externamente e tentando me convencer, coisas que todos fazemos quando não queremos enxergar o óbvio e não temos amigos ou mentores aptos a nos dar uma cajadada.




Quanto continuo assim? Quanto ainda resta do infante tomado da testosterona imberbe? Me pergunto. Hoje seriam outros bichos: cachorro que ladra mas não morde, hiena que ri enquanto como carniça e um chimpanzé velho preso em uma jaula que já não mais com isso se preocupa.




Brincadeiras à parte, no exercício de hoje quero abordar o que parece, o que vemos e o que é – partindo do princípio que “o que é” é um poço sem fundo. Esta ideia partiu de uma conversa com um colega sobre os ataques que as mídias recebem gratuitamente até se transformar na pecha de tendenciosa; porém esse gratuitamente não é de graça, isto é, elas merecem, porém não são totalmente culpadas, mas precisam se incomodar com essa opinião generalizada, lembrando que não há muito que elas possam fazer para resolver ou mesmo amenizar a situação, simplesmente por conta do mote ambíguo do “que parece, o mostrado e o que é”.




Assim como a pessoa, isso aprendi no curso - à maioria do que somos expostos também aqui se encaixa: indivíduo, família, religião, mídia, empresa, conglomerado, tudo. Certa equanimidade de personalidade somente é encontrada em situações muito esporádicas que não vem ao caso neste exercício.




Minha conversa com o colega dizia respeito a minha atenção – observação dele - às mídias que são expoentes de ataques devido ao patente posicionamento parcial. O que não discordei de todo. Elas são, e digo mais: todas são e é assim que precisa ser – elas e o restante do mundo estão obrigados a se posicionar. Por sua vez são poucos adeptos que concordam. Muitos por não terem adquirido uma crítica humana afinada, pouco percebem do que realmente está acontecendo, afinal é uma parcela mínima– apenas daqueles que tem vontade - que dispõem de tempo para atenções mais apuradas, portanto, a maioria vai no lance da “boiada” mesmo.




No processo universal a que estamos envolvidos, ninguém que tenha no seu negócio necessidade de mantê-lo, pode se dar ao luxo de ser imparcial, até porque em algum grau todos os colegiados que detêm ou se revezam no poder do planeta estão conspurcados. E o resultado disso é matemático, se meu negócio habita um nível mais baixo, preciso trazer meus clientes e toda horda que mantém ele funcionando para o mesmo patamar.




Qualquer posição que tomamos hoje não é a posição mais acertada, não é possível. É apenas a menos ruim; é a que é possível. É o que nos “cabe deste latifúndio”. Vivemos a era da mediocridade que tem raiz no mediano que, qual torniquete usado para conformar; a tendência é o acochar progressivo.






O que assisto, o que observo na mídia tendenciosa definitivamente não é ela em si e sim o que considero “notas noticiosas” e pontuações concernentes a sistematização social; é para estas que direciono minha atenção macro sem o ater demasiado, cego, às opiniões de especialistas, porém isso não é privilégio deste ou daquele matutino. Este borbulhar informacional está por toda parte, inclusive em alguns endereços pertinentes ao alcance instantâneo das mãos. Afinal são notas, opiniões e notícias, se não no mundo todo, no país, no estado ou região de interesse. O que devemos prestar atenção, mas isso é difícil de ser conquistado, é no que entendia quando criança como “engambelamento”. Em quanto estou sendo engambelado por este ou aquele partido, colega, autor, chefe – sem dúvida aquele que critica os meios de comunicação sem um porque razoável; sem um parecer próprio e fundamentado está de alguma forma engambelado por opiniões alheias; dificilmente sua opinião é pessoal.




Como resolver isso? Desengambelando de tudo. Coloca tudo num caldeirão e “sarta fora”. De fora você, de posse de uma consciência crítica apurada, escolhe, se resguarda, se prepara, planeja, se direciona para atenções devidamente apropriadas ao seu metiê.




“A vida é o que está acontecendo enquanto estamos fazemos planos” diz John Lennon, porém a palavra “acontecendo” dos anos 70 expirou, a frase é perfeita, mas precisa ser contextualizada frequentemente; e se nas décadas do século XX era um frequente, nas do XXI a frequência é outra. Os bichos são outros; bicho!

Você está assistindo ou participando?




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