Até onde
aconteceu conosco o mesmo que se deu com os escravos alforriados, que de um dia
para outro a situação de cativos desgraçados pareceu inverter-se por conta daqueles que continuamos saudando como heróis por lhes concederem o que muitos ainda hoje consideram liberdade. Jogados às ruas a perambular no limbo do
ostracismo, abandonados e mendigando atenção, cuidados, colocação, até serem
“contratados”; quando aqueles que se passaram por benfeitores abolicionistas deveriam ter
feito o serviço completo que era devolvê-los, ao menos um contingente possível,
para suas terras de origem a retomar um mínimo de vida digna entre os seus
de onde quer que tenham sido sequestrados.
Também nós quando
a última leva de europeus resolveu abandonar está colônia, tão pouco sabíamos que
deixaram o germe da vontade mais forte que lhes pulsa nas veias: a gana pelo
material; do materialismo. Do apossar-se de assalto. Tornamo-nos também
materialistas e posseiros oportunistas. Ainda que a miscigenação, pós invasão,
tenha se dado de cem para um, nosso território deu farta mostra de que não
precisaria ser explorado, ou continuar sendo explorado a exaustão. Possuíamos
cofres a céu aberto; reservas naturais e terras agricultáveis para manter a
população abastada ainda que os europeus tivessem espoliado sem dó nem piedade
muitos de nossos recursos mais a mão, mais fáceis de serem carregados.
Contudo a compulsão da posse, do engodo, do ser biltre, da vontade mesquinha, da vilania
ensandecida substituiu, tomou lugar de qualquer pensamento coletivo de união
espiritual natural que ocorria entre os povos indígenas originais, mesmo que somado a
visceral carga mística da magnífica Cultura Afro, comum aos escravos.
Nosso
Espírito foi roubado. Os europeus apagaram nosso Espírito e nós, descuidados
também aqui, nada fizemos, preferimos a brutalidade, a destruição, a agressão a
todo o processo que não visasse a posse assumindo também o legado mais vil que
os malditos colonizadores poderiam ter disseminado entre os colonizados; seu
desprezo pelo imaterial.
E nada
fizemos para despertar dessa admiração, desta Síndrome de Estocolmo, para
consertar ou amenizar uma falha patente que tanto mal continua a nos acometer e
indiscutivelmente vem se ampliando geração após geração.
Espiritualistas negacionistas - Com um salto no tempo é possível asseverar que tivemos uma nova chance com o espiritismo de Allan Kardec, que justamente nasceu na Europa, porém é fato que naquele continente não prosperaria; como isso poderia se dar? Um ambiente totalmente materializado, marmorizado, refratário e quase hostil ao que é sensível e estéril ao que é essencial!?! Ele nos foi dado de mão beijada, diria até que foi uma espécie de paga sob os olhares de um Plano Espiritual infalível. Um último alento, e a tempo; do universo ao povo do território mais rico e maravilhoso do planeta. Nós tínhamos a chama, ela apenas estava apagada, mas ainda assim era tarde demais.
Tupi Guarani - Yorubá - Espiritismo - Mesmo com o
tripé espiritual das Forças das Matas, da portentosa Cultura Afro e do
Espiritismo propriamente dito, agora manifesto após o trabalho inquestionável
do francês; não podemos negar que a sanha material, a ganância europeia
indubitavelmente executou um ótimo trabalho fazendo mais uma vítima; vítima
essa que, já no século XIX poderia ter se rebelado e ao menos equilibrar a
questão. Ainda havia tempo; mas não aconteceu.
Quanto o
Universo Espiritual está para nós como Cristo está para os Judeus?
Assim como
eles negam o Messias, nós praticamos atos renegando veementemente o Mundo
Espiritual.
E todos não
fazem isso também? Sim; porém nós, ou somente nós tivemos a oportunidade de
rever nossos conceitos muito mais próximo do estado que conformamos como
civilidade. A China, o Egito Antigo, o Japão, a Europa ou o Velho Mundo com os inigualáveis deuses Vikings, Gregos, Romanos e ainda as américas com os Maias, Astecas e Incas
por exemplo, as Forças Ocultas irromperam em meio a uma gama de homens ainda
bastante incivilizados que entenderam errado, fizeram mau uso das manifestações
por não atingirem o discernimento do conceito de Unicidade Univérsica; de Mente
Única.
Nossa
situação mundial, por conta destas ocorrências, se consome em um vórtice ainda
mais nefasto, afinal mesmo tendo a possibilidade de conhecer, assimilar e se
apossar de toda uma carga espiritual a que fomos expostos até então, preferimos
virar as costas para todas as verdades que elegem o homem como um ser especial e detentor de Espírito, de Alma e, portanto, privilegiado com a Vida Eterna.
Como se
tivéssemos sido acometidos por uma maldição; hoje vegetamos em um limbo
universal, nem prosperamos materialmente, demonstrando que o germe europeu da
cobiça vingou, e muito menos somos dignos de receber as honras de um povo
espiritualmente evoluído.
Nossa diferença e privilégio em relação a esta gama de ocorrências ao longo de ao menos três mil anos antes de Cristo reside no fato de que o Brasil já estava delimitado e os ladrões tidos como desbravadores, ou bandeirantes, ou colonizadores, ainda que deixaram tenebrosos liames; essas raízes miseráveis não tinham forças suficiente para continuar a sua dominação. E o mais importante: éramos riquíssimos. Poderíamos ter virado o jogo. Seus tentáculos de conquistadores sórdidos eram frágeis quando tivemos acesso a um mundo espiritual diferente do católico. Tivemos a oportunidade não de deuses como todos os outros, mas algo de igual importância: as pesquisas de Kardec que nos apontavam uma direção ao pós-carne, ao pós-corpo, e a máxima inegável: “fora da caridade não há salvação”; então, finalmente e como um milagre, uma Flor de Lótus que nasce do lodo; tivemos uma última e única conjunção: o Nosso Apóstolo, o Nosso Profeta; exclusivo. Chico Xavier. Porém o que fizemos? Negamo-lo. Negamos a última chance de avivar em cada um de nós a chama do Plano Espiritual.
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