sábado, 2 de outubro de 2021

“Je suis balconist”

 




Liberdade – Somos todos balconistas


A expressão “balconist” aqui faz alusão ao atendente – atende ao patrão quanto ao cliente -, porém, antes, é uma pilhéria; afinal o exercício de hoje tende mais para o chiste – ou em maior grau. Ao iniciar com o título “je suis balconist”, somos todos balconistas, ainda que seja emprestado da lamentável ocorrência acionada a partir dos inconsequentes funcionários do Charlie Hebdo ao provocar a ira de alguns radicais que odiaram uma das capas do jornaleco francês no ano de 2015 que retratava Maomé com desrespeito; o tom aqui é mais afirmação à nossa condição – uma alusão ao estado humano corrente - que homenagear o, mais do que respeitável grupo, dos balconistas.






A ideia desse exercício nasceu já há alguns dias, quando a chamada das notícias despertou atenção para uma qualquer em meio ao jornalismo repetitivo e enfadonho. A televisão ligada sem maior atenção, a não ser para a informação esperada. Então em menos de trinta segundos a âncora dá uma mísera nota para o único apontamento aguardado. Uma vez mais perco meu tempo, afinal o que ela disse, nada acresceu a qualquer um minimamente informado sobre a ocorrência.






Em meio ao desapontamento normal de mais uma vez sair contrariado de uma espera boba penso na condição do âncora icônico, figura importante para o jornalismo mundial: não ter a liberdade de se pronunciar sobre determinado assunto quando suas inclinações precisam ser deixadas de lado por conta da tendência maior da instituição que paga seu salário, ou coisa que o valha.








Imediatamente a releguei a uma mera balconista - Nota aos hipócritas de plantão: o “mera” não dever ser interpretado como um desrespeito a classe de balconistas, mas primeiro a formulação jocosa do viés textual, dialético, e segundo: porque o mundo material considera o ser âncora o supra sumo do jornalismo televisivo nacional, afinal qualquer profissional, mesmo o melhor articulista; nem de longe com seu intelecto, às ruas, abafa a fama de qualquer âncora/celebridade que esteja momentaneamente em evidência.






Balconistas, âncoras, atendentes (call centeres); em se tratando de liberdade, somos tudo farinha do mesmo saco. Todos de alguma forma em maior ou menor grau dependemos de uma caralhada de chefes para executar – filtrar - nossas atividades. Nós e eles, dependemos de normas e padrões da empresa a que estamos filiados e o resto de nós, ao que quer que seja que estamos fazendo, obedecemos às leis, pais, governos, papas, chás, independente se é um Ali, um Silva, um Salâmi radical, fato é que não agimos por vontade própria, a liberdade não existe – e não nos enganemos; do maior ditador aos influenciadores da Times, ninguém escapa.






Conscientizar-se disso; isso sim é que é libertador. Afinal, em se sendo inteligente é muito mais fácil sobreviver preso.






Viver neste Plano Terra é muito mais divertido àquele que aprendeu que aqui ninguém; ninguém mesmo, é livre. Chegar a essa conclusão não apenas é libertador como é a Iluminação Material. Existe a Espiritual, impossível para nós ocidentais, mas podemos nos esforçar para conseguir aquela que nos liberta em meio às gondolas das conveniências: a Iluminação Material; e é claro que essa iluminação é abrangente e importantíssima para nós, balconistas de plantão. É o niilismo individual onde tudo cai por terra, onde o alforriado diz sim, inicialmente, a tudo, até entender que ninguém o entende e então é preciso viver como um ermitão social. Tudo é conveniente, mas pouco convém; daí o caminho é a atuo-exclusão ao descobrir que só poderemos ter um mínimo de liberdade construindo uma nova comunidade. Primeiro a sociedade do “eu sozinho” e aos poucos, se entender que o apartamento social pode ser preenchido com um ou dois escolhidos, inicia a formação de uma comunidade de dois ou três sozinhos.







Voltando a âncora, lembrando de algumas escolas que se atentam para a energia das palavras; o que âncora significa? Estacionar; ficar parado; estar preso a algo que não nos permite mover – estar apoiado.






Ao acordar para essa disposição é mais fácil entender que entre a âncora alheia e a nossa; joguemos, lancemos a nossa em um recanto em que ela afirme ou confirme que é só ao atingir, trazer nossa prisão para o individual, que seremos relativamente livres.






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