Nenhum homem se expõe tanto, quanto aquele que
verdadeiramente se debruça sobre a escrita.
E se ele soubesse antes!?! Seria o que é? A magia da
escrita é hipnotizadora, viciante, e desperta humores, sensações e sentimentos
de uma pureza ímpar, impossíveis de expressar em qualquer outras das artes a
nós permitidas.
E quanto a exposição, nada pode ser feito. Não
escrevemos, somos escritos, isto é, em determinada altura dos exercícios, as
palavras simplesmente nos dominam; é possível romper as barreiras do objetivo a
não ser sendo objetivo e então ascender ao subjetivo encrustado em estados
outros que nos são apresentados.
Ao obter algum conhecimento, o escritor não consegue vencer a construção das palavras, ou ele se expõe e as expõe ou a mensagem se torna, fria, sem alma, mecânica. Ele jamais poderá se furtar ao que o Poder da Escrita exige, a diferença do escritor para os outros criadores de coisas, uma vez que se pretenda verdadeiro, reside em sua precisão em ser visceral sobre os seus sentimentos, medos e desejos, por exemplo. Não se é um bom instrumento se não houver a entrega.
Aquele que se dedica a arte da escrita precisa
abandonar-se. O ato de escrever será sempre maior do que qualquer um de nós.
Rompido este entendimento, o escrever desabrocha transformando-nos em seus
instrumentos. Somos a pena da escrita assim como ela é a do
escrevente.
Ou nos deixamos, ou nos queremos donos, e enquanto donos,
somos coproprietários do que entendemos nos pertencer, do que fazemos, do que
nossa mente é capaz de criar; uma vez abandonados ao Poder Invisível da
Escrita, poderemos até figurar como autores, porém jamais o seremos e então, em
algum momento nos descobrimos parte de algo muito além do que imaginamos
possuir.
Antes precisamos vencer o aqui e agora da subserviência
dos aplausos, afinal vivemos um estado de posses e, sob o domínio deste não é
possível entender o desprendimento, o abandono ao sentimento de propriedade, de
dono, de autor único; sentimentos irrelevantes frente a grandiosidade
transcendental do Universo da Escrita.
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