sábado, 22 de junho de 2024

Descoberta tardia

 







 


Ninguém se expõe tanto, quanto o escritor.

 

Nenhum homem se expõe tanto, quanto aquele que verdadeiramente se debruça sobre a escrita.

 














E se ele soubesse antes!?! Seria o que é? A magia da escrita é hipnotizadora, viciante, e desperta humores, sensações e sentimentos de uma pureza ímpar, impossíveis de expressar em qualquer outras das artes a nós permitidas.










E quanto a exposição, nada pode ser feito. Não escrevemos, somos escritos, isto é, em determinada altura dos exercícios, as palavras simplesmente nos dominam; é possível romper as barreiras do objetivo a não ser sendo objetivo e então ascender ao subjetivo encrustado em estados outros que nos são apresentados.











Ao obter algum conhecimento, o escritor não consegue vencer a construção das palavras, ou ele se expõe e as expõe ou a mensagem se torna, fria, sem alma, mecânica. Ele jamais poderá se furtar ao que o Poder da Escrita exige, a diferença do escritor para os outros criadores de coisas, uma vez que se pretenda verdadeiro, reside em sua precisão em ser visceral sobre os seus sentimentos, medos e desejos, por exemplo. Não se é um bom instrumento se não houver a entrega.













Aquele que se dedica a arte da escrita precisa abandonar-se. O ato de escrever será sempre maior do que qualquer um de nós. Rompido este entendimento, o escrever desabrocha transformando-nos em seus instrumentos. Somos a pena da escrita assim como ela é a do escrevente.











Ou nos deixamos, ou nos queremos donos, e enquanto donos, somos coproprietários do que entendemos nos pertencer, do que fazemos, do que nossa mente é capaz de criar; uma vez abandonados ao Poder Invisível da Escrita, poderemos até figurar como autores, porém jamais o seremos e então, em algum momento nos descobrimos parte de algo muito além do que imaginamos possuir.










Antes precisamos vencer o aqui e agora da subserviência dos aplausos, afinal vivemos um estado de posses e, sob o domínio deste não é possível entender o desprendimento, o abandono ao sentimento de propriedade, de dono, de autor único; sentimentos irrelevantes frente a grandiosidade transcendental do Universo da Escrita.







 

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