sábado, 22 de junho de 2024

O amanhã de ontem

 







Do mudo e ininterrupto desabrochar durante o silêncio que precede a tormenta

 










Entre o barulho das máquinas e matérias modificadas, elas mesmas ora cimento ora aço vibram em energias diversas poluindo e distorcendo o belo natural enquanto em pontos esporádicos dão o ar da graça à beleza artificial jaz indefeso um ser alheio ao movimento; atento as atividades.

 








Escondido entre às rédeas que o prendem carrega junto um estilete afiado, qual bisturi em mãos ágeis solta-se saltando de becos em becos sem que o percebam, mas o emaranhado está por toda parte, então logo outra gaiola lhe é apresentada, mas o chaveiro é seu amigo inseparável.

 















O silêncio rege seu movimentar nesta calma manhã de inverno, os guetos poluídos não conseguem esconder o burburinho das águas que barulham embaixo de calçadas frias e por entre os meios-fios, levando parte das razões pútridas de homens que calam verdades em corpos esgarçados.

 








Longe daqui o mar tranquilo faz vítimas que insistem seu caminhar por águas inóspitas. Invejo tanto o mar quanto a cegueira que há tempos habitara esta carcaça, assim como a alegria que ignora o agora derretendo-se ao presente antecipado, apartada de qualquer entender.

 

















Entre as ruelas a madrugada cobra seu preço e o monstro sempre à espreita sem nada sugerir surge do nada; não há rédeas ou celas que o calem. Tão rápido quanto horrendo dilacera com sua língua aguda em trocadilhos ácidos retiradas de sua mente mordaz e ferina; animal.

 








Quem está atento às cordas? Quem as toca? Quem será pode dedilha-las tão rápido? Não emitem sons, apenas dor. São os nervos ates retesados que agora assimilam as energias que percorrem um corpo paralisado entre o questionar-se e o arrependimento. Já foi; o buçal fora esticado.

 

















O monstro que não dorme, sempre vigilante; como o invejo, eu que tanto durmo, acabrestado a este fardo atroz, pesado e ativo. Sempre à espreita com seu dedo nas cordas eternamente retesadas; um vacilo e suas unhas compridas tocam o fio desencapado, logo eu que me cria atento.     

 









A tensão passa da dor para as escusas da vez. Não há tempo para folgar-se, o lume da cidade ao longe se esvai, e sob as chamas do dia as vielas fervem e as marolas fétidas dos becos impregnarão novamente a manhã, e o amanhã de ontem se inicia sem que eu seja libertado.













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