Ela; Minha Sempre Bem Amada, certa
vez comentou sobre a simples menção da procura do significado remeter a análise
ao nível menor.
“O
aspecto da Dialética é, no conjunto, agressivo e ameaçador, e ela profere em
voz alta, em tom sacerdotal e divinatório, fórmula incompreensíveis para a
maioria: que a afirmativa universal se contrapõe de modo oblíquo à particular
negativa, e que ambas são conversíveis; fala também de univocidade e equivocidade
e assevera ser a única capaz de distinguir o verdadeiro do falso.”
De nuptiis Mercurii et Philologiae
de Martianum Capellam
A Dialética
Erística é permissiva, porém jamais perigosa, por se realizar entre membros
preparados, contudo, real quando inserida e dissecada em seu meio original. Em
seu berço é respeitada como uma estrutura energicamente orgânica: a intrincada Mitologia
Antiga; nervosa, carnal, visceral. Pois interessa e se apresenta apenas aos
espíritos justos, ou no mínimo, ainda detentores de certa pureza, mas, se
reclamada entre indivíduos que não estes: desce ao nível da reles política, da
soberba, do vencer a qualquer custo, se não prestes, passível de cometer o pior
dos erros, jamais permitido na dialética séria: o desrespeito antes, durante ou,
e principalmente, depois do embate confirmar a derrota do adversário. Se
existissem regras apontadas seria a primeira, como não há, o espírito da ética,
ainda existente apenas entre os seres compromissados, deve seguir margeando os
competidores no sentido de singular escolha simplesmente porque estes fazem
parte de uma casta que tem como único
intuito o debate saudável (disputatione).
Aos olhos de hoje, se fossem ainda possíveis, mais a um entretenimento
aristocrático, algo próximo ao xadrez, a bem dizer, ou melhor; para alguma
compreensão em tempos de desconforto intelectual, os debates voltados a esta
linha de ação podem muito bem ser considerados o xadrez da dialética no que se
refere ao não enfrentamento agressivo. Os enxadristas combatem antes lutando
contra si próprios. Concentrados, os defensores dos míticos combates erísticos estão
sempre voltados também as suas representações argumentativas suplantando as
possíveis estratégias adversárias, ainda que delas – em se tratando de bons
combatentes – não se descuidam um único instante.
*
Trabalharemos
essa que é mais, uma homenagem à arte da Escrita e da Dialética e aos seus
autores póstumos. Buscando na intenção, laurear principalmente seus Avatares a
partir da emblemática história apontada n´As
bodas de Mercúrio e Filologia, texto latino do século V d.c., do retor norte-africano,
Martianum Capellam.
Somente
faremos referência aqui a parte da clássica “de
nuptiis...”, que foi publicada junto ao pequeno compêndio “A arte de ter razão”. Reunião de
manuscritos que conferem 38 apontamentos sobre a dialética do debate de Arthur
Schopenhauer, que fora exposto, - ao menos a parte inicial - em Parerga e Paralipomena (o filósofo
alemão jamais publicou as pequenas anotações).
Afora as datações
oficiais sobre quando se deu início as batalhas verbais, mais ou menos no ano
500 a.c. Respeitáveis perscrutações a fragmentos de hieroglyphos tecnologicamente datados fazem referências a possíveis
batalhas voltadas a logicae, (por
muitos confundida e por outros tantos defendida como sinônimo de dialética) séculos
antes; quando os escolhidos dos burgus
representavam suas autoridades máximas, simplesmente pelo prazer da dissertatio.
Porque Schopenhauer
não publicou estes, que nos parece mais: uma forma de mostrar ao homem quão
abjeto pode ser em busca da sua vitória egoísta ao fugir da Dialética
propriamente dita e voltar-se ao ensimesmismo ordinário, comum e que a tudo
corrói; é possível que tenhamos uma boa ideia ao deduzir do próprio filósofo,
por conta de uma declaração carregada de palavras ácidas, ao se referir a sua
compilação: “...pôr-me agora a ilustrar
todas essas escapatórias da limitação e da incapacidade, irmãs da obtusidade,
da vaidade e da desonestidade, causa-me náuseas; por isso detenho-me nestes
ensaios e ressalto com energia maior as razões alegadas acima, para que se
evite discussões com pessoas como quase todos são”.