Como
designar a proporção da petulância humana ao tentar brincar com tamanho
gigantismo! Não é possível defender ou afrontar uma condição forjada que
aparentemente indique prematuramente estar fora dos padrões humanos; assumindo a
assertiva de Platão; “o homem é medida de todas as coisas”. E porque a natureza
não encontra par para afrontá-la entremeado no universo conhecido – seria um
descalabro se não fosse lembrado aqui da obviedade desta versão. Portanto, se o
nascimento de uma ação deve ser entendido como tendo obrigatoriamente sua permissão,
também toda a ação nascida torna-se uma obra filha da própria; nata; legítima.
A diferença se dá correlativamente com as ações perniciosas ou não. Invariavelmente as
primeiras tem um reinado análogo à necessidade da força maior, diferente das
demais que são consentidas como filhas da natureza e então defendidas não
apenas entre nós, neste caso, vestidas com a roupagem do universo incontido, ou
seja, passível de serem eternizadas.
Sócrates;
considerado também, pai-fundador da Dialética; outra oportuna, nada mais
grassando além de uma justa e merecida honraria - sempre menores a reverenciar
seu histórico - ao último dos originais, conceituados naturais; aqueles que
filosofaram para o nada, sem pretensão; sufísticos. Eram conduzidos por suas
inteligências natas e da sua pureza cotidiana frugal não insistiam, apenas parlavam. Assim como é justo fazer uma
referência aos três neste mesmo parágrafo; Platão, Aristóteles[1] e
Senofonte; sobretudo que os últimos dois ensinaram utilizando-se do método
dialético difundido por Protágoras, reafirmando, ou melhor, impulsionando a
natureza clara da Dialética, confessadamente, amiga simpática de Sócrates.
O divisor
de águas da filosofia, Sócrates, já alinhavava a tese de que a natureza é
conveniente ao seu em si, e diferente de Protágoras, nosso Mestre Maior da
filosofia dissuade a todos de que a dialética é proprietária de um saber
estável como a ciência. Não concordando que todas as opiniões devem ser classificadas
em refutáveis e não refutáveis, uma vez que se mantém convicto a opinião de que
é favorável a asserção de a dialética ter uma tarefa análoga a retórica; não
precisa ela persuadir ou dissuadir em relação uma a outra independentemente da
verdade. Em suma, não é possível defender que todas as opiniões são
verdadeiras, mas o contrário, parte do princípio que todas são inicialmente falsas.
E isto é próprio da natureza gaia de seu ser; daquele que com inteligência
prefere viver entre todos e ali aprende a se defender. Aqui então se encaixa,
ou melhor, por conta de defesas como esta que não se encaixa o que Sócrates refuta
como “caráter de saber estável”; mas não podemos deixar de lado nesta passagem a
justa afirmação atribuída a Protágoras, “Sobre qualquer argumento é possível
sustentar opiniões opostas”.
Ora,
Sócrates tem a Dialética como o Cânon, uma régua; “a tarefa da Dialética passa
a ser uma tarefa crítica” p85; ou seja, não deve ser ela posta a prova sobre
opinião alguma, mas ao contrário, é a partir dela; de sua densidade inquestionável,
que advirá o resto.
Eufemisticamente
falando, afinal nada mais justo que ponderar palavras em meio a energias tão díspares
quanto evidentes; ao fim de todos os estudos a dialética assume o que é: uma
camaleoa disfarça no discurso dos opostos, em evanescentes nuances de
verdadeiro e falso – no De nuptiis, Brômio ou Dionisio-Baco tenta agredi-la,
alfinetando-a com um: “bruxa charlatona”. Os sofistas a defendem como de seus domínios,
os lógicos nem refutam sua não propriedade, enquanto escolas neutras avançam
para os sempre ponderados silogismos, e erísticos engajados sustentando a
vitória a qualquer custo a tem como sua; no entanto a maior prova da soberana riqueza de entendimento, de clareza, de lucidez, pertence a
Sócrates. Que a defende como proprietária única – como não poderia deixar de ser
- de seu em si.
[1]
em tempo; importante lembrar o que diz Kant no prefácio da segunda edição de Crítica da razão pura, no mais digno
respeito e referência a Aristóteles sobre a lógica; “de Aristóteles em diante,
não teve de dar nenhum passo para trás, tão pouco pôde dar algum passo para
frente”.