sábado, 17 de abril de 2021

Antissocial; maldito; misantropo

 







Ser social é participar, mesmo em parte, das convenções dos grupos aos quais pertencemos, família, escola, trabalho, social político. Contrário a esse modus temos o indivíduo antissocial, que recebe esta alcunha por dois motivos principais, ou não concorda com esta máxima e procura grupos tidos como marginais significando que juntos tentarão viver a margem do que dita o até então percepcionado e abertamente combinado. Participando de associações ou tribos estranhas à conjuntura montada, mesmo que não cometam ações que vilipendiem o grupo principal; formando, desde pequenas organizações paramilitares e místicas generalizadas a associações estudantis e punks radicais, por exemplo, andam por aí com ar de blasé, de soberba ou carrancudos a condenar a tolice dos demais. Todos, sempre, vigiados de perto; se o establishment estiver aparelhado e não gostar de surpresas desagradáveis.



No segundo caso, é bastante fácil derivar desses grupos inofensivos para a acefalia radical a apostar em reuniões antissociais verdadeiras; àqueles que vivem a margem da lei. Tornar-se um marginal propriamente dito, ladrão, sequestrador, ou um meliante qualquer também é ser um antissocial, porém não são estes que quero abordar neste exercício.



Posso ser um antissocial declarado, marrento, obtuso, sem instrução, sócio seguidor de influenciadores ladinos; estes, invariavelmente, são os preguiçosos, tentando apenas chamar a atenção para o fato de que não se dobraram ao grupo principal, quando na verdade se arrastam empregados, vivendo de biscates, ou acobertados por alguém ou uma associação que os mantêm alimentados.



Podemos encontrar misantropos cientes de que não pertencem ao processo? Sim; porém não é para qualquer um ser identificado como um verdadeiro antissocial. É preciso antes muito estudo, somente assim, após conhecer boa parte do processo o indivíduo pode ser tachado de marginal por não concordar com o que assiste, porém uma vez aí, lúcido, não o assistimos participar de revoltas contra o sistema alardeando ser um esquerdista juramentado. Aqui ele se amofina resguardado em seu próprio universo. Apolítico e apartidário; não empunha bandeiras. Descoberto o segredo da coisa toda, do processo, do conluio generalizado ele estanca. Não há como retornar, e, se seguir em frente é normal se tornar uma marginal de casaca, afinal não se pode conhecer os meandros do sistema social e igualar-se a ele sem que alguém seja prejudicado. É simplesmente impossível. Felizmente sempre terão aqueles probos abnegados que conseguem manter o teatro social e ajudar, auxiliar no processo visando concidadãos invisíveis marginalizados. São raríssimos esses que assim conseguem se manter até o fim dos dias.



Qual é o melhor caminho então, ou melhor, qual é a saída? É ficar. Estagnar. Acomodar-se. Afinal, quem é você frente à sociedade? Quem são vocês somando milhares de pessoas a desafiar o estado posto? Um nada. Entre o agitar-se qual louco sem as drogas no trânsito, nas festas, engalfinhar-se no ambiente muitas vezes nocivo do trabalho e viagens para os outros e então acabar em uma cama esperando a morte chegar enquanto alardeia o mantra do vivido!?! Não seria melhor gastar toda essa energia ocupando-se consigo mesmo, praticando alguma forma de arte, desenvolvendo uma aptidão, dedicando-se aos seus com préstimos altruístas; pesquisando compêndios que há tanto foram negligenciados?





Nascemos um, morreremos outro; é a distância altruísta entre o nascimento e a morte que será usada como crédito; o salvo conduto para o renascimento.






Quanto sua irracividade precisa ser tratada por especialistas para que volte a ser enquadrado como um sujeito social respeitado e então após ter aprendido como viver conforme as regras, finalmente entender a necessidade do salto para além do social sem as ranhetice e maus-costumes do sujeito inapto solto às rédeas tolas do instinto?




Simplesmente não há atalho. Podemos nos debater por eternidades atacando a injustiça do processo, o abuso do estado posto, o absurdo com o qual a maioria de nós é tratada sem nada poder fazer, mas isto se dá porque enquanto somos induzidos a malhar um ferro frio, tentando por inépcia vencer ou na esperança de que o comando maior se volte a nosso favor, estamos desperdiçando boas energias para encontrar o caminho de volta, que não precisa de grupos; é individual.



Homenagem aos meus malditos favoritos;

Raul Seixas,

Paulo Leminski

Plínio Marcos

e também a

Celso Blues Boy

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