domingo, 21 de novembro de 2010

Transição


Dia destes estive envolvido em longa conversa com um alguém raro que naturalmente me é muito caro, e que já venceu tanto as necessidades físicas tão arraigadas na espécie humana quanto às paixões desprovidas de sentido, bem como as demais que insistem em se manterem vivas mesmo quando o infeliz escravo luta contra suas amarras.

Com um ente assim raríssimo não podemos perder tempo com assuntos paralelos, afinal é uma oportunidade única e não queremos perdê-la, não quando também estamos empenhados em livrar-nos de ações que sabemos há tempos deveriam já não mais fazer parte nem mesmo do nosso pensar.

Por se tratar de um amigo e compreender ele minhas buscas, falamos da existência, de essência, de evolução e dos métodos que aplicou para finalmente atingir um estado de paz e harmonia consigo e com todos ao seu redor.

Pouco do que disse eu já não ouvira. Para as pessoas que chafurdam, escarafuncham em tudo o que é canto, por tanto tempo, tentando acertar o caminho para a liberdade é difícil que alguém consiga apresentar alguma novidade; no máximo uma técnica diferente, um incremento em um ou outro exercício, pequenas dicas, nada mais que isto. Somos sabedores que só existe uma forma aqui junto à matéria: a prática.

Resolvi descrever aqui este momento mágico - é claro que somente eu sei disso - para salientar ou destacar um ponto em especial da nossa longa “aula” - como trata-se Ele, de um Mestre, nada mais justo que definir nossa longa prosa como uma aula.

Contou-me sobre o processo mais difícil de sua passagem. Relatou com detalhes e exemplos, situações que não poderei descrever aqui devido à extensão... Como tínhamos todo o tempo do mundo tudo foi explanado com a morosidade comum aos seres sossegados.

Assim não apenas fez-me compreender, como acalmou, mesmo que minimamente, meu coração, no que diz respeito ao processo muitas vezes longo da transição da paixão, do desejo, para a permanência alienada “consciente”, - embora esta não seja a melhor forma de expressão - em que o ser que busca, ainda insiste no pensamento obstinado da posse e da nova idéia de nada existir, da ilusão total aqui, quando então finalmente está preparado para a descontinuidade da matéria.

Observando-o agora, parece impossível que este novo ser um dia foi um humano escravo do existir.

Enquanto o ouvia, tentei de todas as formas visualizá-lo como um ser comum, mas isso já não é mais possível. Com tudo isso convenci-me ainda mais sobre um pensamento que veio juntar-se a outros tantos que fervilhavam durante todo o período desta incrível experiência, e já vivido em outros momentos tão ricos quanto este, imaginando que ele estaria apenas a jogar comigo, como parte de um exercício, muito comum, aplicados a iniciantes, onde é preparado o ambiente, não apenas para que o “gafanhoto” fique envolvido na aura arranjada, jamais pensada unicamente pelo mestre manifesto, como também para toda uma legião de interessados, mesmo quando se trata de hordas contrárias, - geralmente as mais objetivadas – que naturalmente ali se encontram e acabam participando quando então todos são tocados durante o processo em andamento.

O resultado disso tudo é um “insight” sem precedentes onde nem mesmo conseguimos perceber o que aconteceu. Mas aconteceu.

Não apenas o neófito, todos os envolvidos foram tocados; e o Todo usando o “saniasi” como um aluno/instrumento providencial, não apenas o transformou em um ser melhor como interferiu positivamente tanto no material quanto na essência manifesta.

004.c cqe