sábado, 29 de fevereiro de 2020

BestáCulo



Toda a luta individual se esvai ao se deparar com um obstáculo equivalente a ânsia de sua angustia. Tomemos como exemplo o feminismo ou uma bandeira qualquer que reivindique maior representatividade; nenhuma destas organizações poderá sair do seu cadinho uma vez que o esfacelamento por inúmeros motivos se oponha ou interfira na missão, no princípio ferrenho e intenso da vontade inicial – tornado desejo tão somente por motivo torpe, impulso ou ímpeto; osmótico e nada visceral -, portanto, não é possível afirmar se a discriminação, independentemente da crueldade da abjeção que a mantem poderá ser aplacada em algum tempo.











Temos como certo que o caminho único se daria por conta da substituição cultural lenta e gradual de criaturas reles e odiosas que as praticam. Em paralelo a esta mudança ímpar, porém na via oposta, era preciso organismos não autosabotadores da missão. Hoje a autodestruição do propósito se dá por falta de manter aquecidas voláteis vontades coletivas que não se garantem nas rédeas dos poderes e se deixam dispersar por subestimados embaraços individuais.




*




Todo o feminismo individual se esvai ao se deparar com um membro que iguale o desejo do conflito.


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True Detective




As pessoas daqui; parecem não saber que existe um mundo lá fora. É como se vivessem numa porra de lua. Isto tudo é um gueto.

Há todo o tipo de gueto neste mundo.

Só existe um gueto; uma sarjeta gigante no espaço sideral.

Hoje, aquela cena do crime, foi a parada mais fodida que já peguei. 

Deixa eu te perguntar uma coisa; 
você é cristão, não é?

Não.

E aquele crucifixo no seu apartamento?

Eu uso como uma forma de meditação.

Como assim?

Eu contemplo o momento de Cristo no jardim, a ideia de permitir a sua própria crucificação.

Mas se você não é cristão, então acredita em que?

Acredito que não deve se falar dessas merdas no trabalho.

Espere aí! Espere aí! Estamos juntos há três meses e eu não sei nada a seu respeito. Hoje, aquele nosso caso, caramba. Me faz uma cortesia; não estou tentando te converter só...

Eu me considero realista, mas em termos filosóficos eu sou um grande "pessimista".

Tá bom e isso quer dizer o que?

Quer dizer que sou ruim em Festas.

Fica sabendo que você também não é muito bom fora delas.

Acho a consciência humana um erro trágico na evolução. Nos tornamos muito autoconscientes. Acho que a natureza criou um aspecto seu separado dela mesma. Uma criatura que não deveria existir pela lei da natureza.

Essa porra parece terrível, Rust.

Somos coisas que agem com a ilusão de ter um eu-próprio. Um acréscimo de experiência sensoriais e sentimentos, programados para todos pensarem que somos alguém quando na verdade todos somos ninguém.

Eu fosse você não espalharia essas merdas por aí. Ninguém pensa assim. Eu não penso assim.

A coisa mais honrada para nossa espécie é negar nossa programação. Parar de se reproduzir. Caminhar de mãos dadas até a extinção. Um último dia em... como irmãos e irmãs... conversando sobre um difícil acordo.

Então qual é o propósito de acordar toda manhã?

Eu tento me enganar, mas penso que é para ser testemunha de tudo, mas a verdadeira resposta é minha programação. Não tenho estrutura para cometer suicídio.

De todos os dias fui escolher hoje para te conhecer. Você não abriu a porra da boca durante três meses.

Você perguntou.

Agora estou implorando para você cale a boca.

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Cara... Aquele lugar... Eu nunca...

Me fez lembrar do meu pai falando do Vietnam; da selva.

Falar sobre o que aconteceu lá não vai resolver nada agora...

...Isso. É disso que estou falando.
É isso que quero dizer quando falo de tempo, morte e futilidade.

Porque os pensamentos ecoam no trabalho sobre tudo, sobre quanto devemos uns aos outros. Principalmente sobre o que é aceito por nós como sociedade e quanto as nossas ilusões mútuas.
Quatorze horas seguidas a olhar para cadáveres é nisso o que se pensa.

Já fizeram isso?

Olhamos para os olhos deles, mesmo numa foto. Não interessa se estão mortos ou vivos, conseguimos ler neles; e sabem o que vemos? Eles aceitaram bem a morte. Não de início, mas no último momento. É um alívio evidente porque estavam com medo. E agora eles viram, pela primeira vez, como era fácil simplesmente desistir. Viram, nesse nano segundo de consciência, o que eram. Que nós próprios, todo esse grande drama não passa de uma presunção e uma vontade estúpida. Que podiam deixar-se ir. Percebem finalmente que não precisavam se agarrar tão firme para entender, para compreender que toda a vida, todo o amor e ódio, recordações e dor eram a mesma coisa. Tudo um sonho. Tudo um mesmo sonho que tiveram dentro da Caixa Fechada. 

Um sonho sobre ser uma pessoa.

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*




O complexo Terra, obviamente, pode ser também assim observado; como uma “sarjeta gigante”. É normal que todos os seus locatários com um mínimo de intelecto estimulem a liberdade da criação; da criatividade de expressar. E ainda que esta admirável esfera possua ilhas, bolsões, nichos nas formas mais exuberantes de cores e vidas onde algumas poucas são insalubres e outras de natureza estéril; é certo que, paradoxalmente, assistimos em todos estes outros locais a cada virada de tempo, regiões que surpreendem em graus de hostilidade, um despautério, afinal foram pretensamente organizados exatamente para torná-los habitáveis a estes inquilinos, onde, antagonicamente a maioria destes reservados a vida pensada vêm se tornando um caos por conta destes mesmos habitantes que há muito se entendem racionais.


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homens
















Sistemas como o planeta Terra continuarão obrigatórios; é certo que sempre existirão homens que serão apenas isso, homens.






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sábado, 22 de fevereiro de 2020

Espólio de Adão




Metamorfosear-nos-emos em mil arquétipos acessados
Cada qual com suas vontades distintas
Onde os sentimentos alheiam
Consentimentos dispersos tomam o que não era para si

Efêmera é nossa vontade agora
Não ser nossa não nos livra
Se a fenda a eles venda
O instrumento elas cegam

A natureza exige o varão
A vara maior leva um séquito
Tornado cetro se faz homem
O monte mais vistoso recebe o mastro

A prole vem abundante
Continuar dívidas impagáveis
Rezando a cartilha erudita
Tomando para si continuidades maçadas

Não há pecado onde não há lei
Todos se dão à bel prazer
Orgias desorganizadas mantêm a ordem
A força cobre com naturalidade

Dentro da lei o pecado impera
Poe medo receio e vergonha
Imersos no mais intenso prazer
O após cobra a carga do irmão

O gozoso e seus mistérios
O gozo após o gozo
Gozo após gozo
Não goze agora

Adão! Ah! Adão
Defloramos a Eva dia após dia
Entre carnificinas e feminicídios
E quando não... seu pecado está lá... Adão

Ameniza a falta de tudo
E as interpretações criativas a rodo
Durante a vida o participar do jogo
Procurando alternativas a escapar do fogo

Um que pensa tenta outra palavra
O que prega insiste com a hipocrisia
A mãe iludida protege e se afasta
Insaciável... o pai.. procura filhas alheias

Incesto cercos e ataques ousados
O pecado é o maior gatilho para o avanço
Sob poder ou força o fraco cede
Sob ameaça ou desespero... também

O grito rasga o silêncio forjado
Pior que ouvir é saber
Um láparo atingido em sua pureza
Pecado medo e negação ainda assaltando

Que propósito tem agora o mundo
Que propósito a vida tem
Como planejar sem rumo próprio
Como encarar esquecendo o que houve

A natureza é perversa ou sábia
A natureza apenas é
Nada aqui é o que é... relaxa
Recomponha-se... tudo aqui é o que é

O segredo é que não há mistério
Diz o poeta “só há o ir”
Instruir-se ajuda o suficiente
Não incomodar-se faz o resto

Mas e o então
Não há senão
Tudo é
Nada

Está é a tragédia do homem
Tragédia é não decifrar o Amor
Ainda que ele não possa ser decifrado
Porque não precisa
A chave é o simples
A beleza de ser homem
É ter sido homem





Homenagem à obra
“A tragédia do homem”
e à Paulo Rónai
*



O legado

Ainda que observemos metamorfoses, aqui, ali, lá; infindáveis e em qualquer canto, sob os auspícios do pecado: todo o prazer do encanto a dois acaba por morrer no nada na observação de que ele pode ter se dado. Isso não é tua culpa infeliz, não é culpa de ninguém, pois é certo que em seu ato original, Adão, vencido, também se arrependeu amargamente por não ter sido forte. Esta é a carga do ser humano ordinário, enquanto continuar representando seu ancestral primeiro, dia após dia, era após era.

No coito, cada um a seu modo sente alguns desconfortos como herdade de seu ancestral primitivo.

Da série; Do que se quer, do que vale e do que é




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...e, como herdade...





Do continuar dos pretensos vencedores - ...“então completei em meio ao caos de pensamentos e respostas que não mais teria, e imaginando as faces asquerosas que apreciavam o estado infeliz que finalmente me atingira após tanto terem desejado; ‘nenhum daqueles que deixou de pagar sua dívida comigo terá uma vida de paz’. Disse sem efeito pessoal e sem maiores pretensões a não ser o vômito da incapacidade que ainda não conhecera; nada além de uma licença poética do viver insano que alcança a todos e ainda mais... tipos assim.










Portanto, hoje, como se fosse uma profecia, estão como os deixei – a derrota continuada de quem tem o que tem como seu máximo -, e o único pensar que guardam para aquele que fazia a diferença, exaurindo exíguas e minguadas vontades, é o de ódio, ampliando obviamente suas desditas. A vida é um arrasto ainda maior para os covardes.”


Da série; contos que parei de contar







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Da compreensão impossível



Aprender a ser infeliz; esta, em algumas situações, é a chave para a felicidade.



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sábado, 15 de fevereiro de 2020

Párias






Aqueles que julgam, avaliando depreciativamente, usando, obrigatoriamente, a régua, isto é, o mesmo estado natural afetado deles próprios; em momento algum aceitarão que um único ou uma multidão venha falar-lhes o contrário.
Fatalmente em algum ponto descobrirão por si que cavaram cada qual a cova da impossibilidade, quem sabe, tarde demais para o retorno. Portanto, assumir este veredito autoimposto e daí admiti-lo é um preço exorbitante a qualquer hipócrita desgraçadamente atacado por algum lapso de consciência. Afinal, se isso extraordinariamente se desse, não apenas precisaria concordar que falhara; sobre a carga indigesta de suas avaliações; um peso ainda maior pesaria em suas costas... suas acusações infundadas apresentar-lhe-ia o valor real, ou seja, muito maior do que o mais esforçado dos párias poderia suportar.




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Descobrindo-se




Pecado original - Disse-me. 
Dado o que assistimos;
é possível não desconfiar de toda pessoa
que desperte por você algum tipo de interesse?



“Não ouse roubar minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia.”

 Nietzsche

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Feito coisa



"Esse rasgo amarelo no céu acima do Gólgota, Tintoretto não o escolheu para significar a angústia, nem tampouco para provocá-la; ela é angústia e céu, ao mesmo tempo. Não céu de angústia ou céu angustiado, angústia feita coisa...".

JP Sartre



Da série; É disso q’eu tô falando


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sábado, 8 de fevereiro de 2020

Louco Artista



A arte é a porta de entrada, o acesso do indivíduo entregue; à liberdade. Não a conseguimos fora desta instrumentalização aqui neste plano.


Inicialmente, aqueles que se dedicam ao novo, ao diferente, obrigatoriamente mantem-se consonantes e dependentes do externo; da opinião alheia. Atentos sobre o caminho escolhido estão conforme a aceitação de todos; se há concordância de opiniões. Se há a aprovação e o sempre, aqui, execrável elogio.


À medida que o autor se desprende da massa humana e começa a incorporar-se a massa fabril, a universos outros; a portais, ao plano – não egoísta - que individual e misantrópico industria, tem sua alma aflorada para este externo que vive a iminência de uma nova pureza.




A Arte é muito Superior ao querer humano, não há como explicar muito menos discutir esta sentença – por conta disso assistimos o absurdo das mariposas em volta da luz; todas querendo transcender o que não pode ser compreendido.



Insights de toda ordem atacam aleatoriamente previsíveis e raros autores, e podem leva-los a loucura humana, sim, porque a primeira loucura, a insanidade que aflora é a artística e não é possível controla-la, mas é importantíssimo lançar mão de todo o tipo de expediente para não surtar, para isso, é preciso abandonar totalmente o externo. O Grande Artista vive com o externo, jamais no externo humano; isto não é mais possível. Ele precisa chafurdar – quando não há escape - o velho baú empoeirado em um canto de entulhos para sacar a máscara manjada que o apresentará como um antigo humano que fôra. Ao contrário será trancafiado em um hospício como um louco comum. O ordinário jamais aprova o raro; o Louco Artista Real. Nos protocolos sociais eles não são possíveis.



Não entender esta dicotomia é fatal.
A este infeliz resta o limbo da falta de coragem para assumir-se; a mediocridade da arte atrofiada que sobrevive de alguns poucos elogios frente a aplauso algum ao Louco Artista.


Este se basta; o infeliz por sua vez continua seu arrastar entre as vielas da mendicância e não raro se entrega as loucuras humanas que tragam todos aqueles que não ousaram libertar-se.


“só para os raros”
Ventania




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Dá até um desânimo



Para se chegar a uma idolatria que parece ser sã, escolhas seletas, embora inadvertidas, resultarão tão vazias quanto o presente paroxismo. E mesmo de posse do que parecia ser experiência não será possível acessar ponto algum de detecção que alerte sobre ainda não ser isso – o apaixonado é antes de tudo um crédulo - em verdade nunca é. Ao final tudo se mostrará apenas como um exercício que se acreditava brindar ao convívio como ser exemplar, mas este é somente parte do momento espetáculo, mais uma pilhéria, ou talvez o maior engodo a ser superado.



“Sempre é mais fácil o ataque à contrição”



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Valeu “muito” a pena






"
Pescador de Ilusões - Se meus joelhos não doessem mais, diante de um bom motivo que me traga fé. Que me traga fé. Se por alguns segundos eu observar e só observar a isca e o anzol, a isca e o anzol, ainda assim estarei pronto pra comemorar se eu me tornar menos faminto e curioso; curioso. O mar escuro trará o medo lado a lado com os corais mais coloridos, valeu a pena; valeu a pena. Sou pescador de ilusões; sou pescador de ilusões. Valeu a pena; valeu a pena.

Se eu ousar catar na superfície de qualquer manhã as palavras de um livro sem final, sem final. Valeu a pena; valeu a pena. Sou pescador de ilusões; sou pescador de ilusões. Valeu a pena; valeu a pena.
"

Marcelo Yuka



Marcelo Yuka para Sempre; ano 1

Da série; vamos prorrogar a existência dos sentimentos
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sábado, 1 de fevereiro de 2020

Planejamento paralisado




Em que baseamos nossas escolhas? O que de pensado, ou melhor, quão longo o exercício do pensamento próprio lançou mão de nata noção antes da alternativa adotada? E se se desse ao luxo ao enfrentamento, à negação do que a parte outra contava como certo? E se tivéssemos perseverança suficiente para o pesquisar aplicado referente aqueles tidos como especiais que bradamos defender; uma vez apanhados, teríamos a coragem de virar-lhes as costas... agora, depois de tudo? Qual nosso grau de conhecimento a respeito das possibilidades inegociáveis a então defender e empunhar bandeiras e propalar como teses empírico/científicas irrefutáveis com início, meio e fim? Quanto é apenas para sobreviver? Quanto é apenas não por falta de coragem, mas... desconhecimento!




”O escritor dá à sociedade uma consciência
infeliz porque está em perpétuo
antagonismo com as forças
conservadoras que mantêm o
equilíbrio que ele tende a romper.”

Jean-Paul Sartre
No livro
O que é a literatura?
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Roland “Ubíquo” Barthes




Dos fascismos nossos de cada dia – Paradoxalmente; se entendi o que li em algum lugar, Roland Barthes convoca, provoca a que nos livremos do fascismo dos padrões e costumes, por exemplo, entende ele que a linguagem é fascista, pois, somos dela dependente para nos comunicarmos. No entanto uma questão me ocorre; o que do que aí está é comunicação? O que de tudo que aí está não poderia ser considerado também não fascista, uma vez que, pouco disso tudo é realmente entendível – ou seria fascista o desentendimento!?!



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