sábado, 26 de setembro de 2020

Vertentes

 


Todo o iniciante no caminho espiritual, obrigatoriamente, se vê diante de uma questão que, dado ao buscar sério, aos poucos se torna simplória e até risível; quem foi no passado? Geralmente a procura de respostas como rei, sábio, mago influente em alguma corte importante ou templário; e pode receber como resposta pomposa, inclusive, que se trate o curioso de alguma celebridade universal para toda a Sagrada Cultura Pagã; ainda que esta nem mesmo tenha existido; insciente dos significados da importância de títulos em esferas e planos que superam o nosso em evolução.




Hoje a história de um colega remeteu a este passado...

Pensei; independentemente de ser ou não “alguém”, é claro que “há uma razão” para não conhecermos os motivos. Para estas respostas figurarem momentaneamente no obscurantismo.




Hoje construo meu pensamento na hipótese de que existem apenas duas possibilidades essenciais quando o assunto é histórico de vidas passadas; ser um ente respeitável que conhece e observa os valores ou um escroto em outras existências. Dado isso, decidi que para ambas só há um caminho: permanecer atento e melhorar como pessoa. Em sendo um escroque; tenho agora a chance de expiar isso, melhorando meu caráter, trabalhando meus comportamentos e hábitos. Em se tratando de alguém decente é certo que devo proceder lançando mão de boa índole para honrar este ente; portanto somente há um caminho, ainda que eu saiba que pode haver duas vertentes.




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Herdar hereditário

 


Dia destes deparei-me com essa clássica; determinada e desavisada fiel – portanto, desculpável - postou também a esgarçada ladainha: “aqueles fora da minha religião não herdarão a Terra”.




Coincidentemente, esta semana, no grupo dos colegas do trabalho, alguém postou algo bastante providencial, insinuando que, devido às dificuldades em que o planeta está envolvido, o verdadeiro motivo é que já houve o arrebatamento até 2012, e nós somos o rescaldo e estaríamos sofrendo as agruras da nossa concupiscência - uma pilhéria é claro, porém foi uma boa sacada de alguém espirituoso. 

Voltando; penso que aqueles que buscam herdar a Terra continuarão assim limitados para sempre; aqui retornando.





Talvez fosse mais prudente contextualizar algumas partes do Sermão da Montanha; quem sabe Cristo superestimou os humanos, entendendo que eles seguiriam seus exemplos, porém isto não aconteceu e muitos de nós continuamos entendendo que se trata “desta terra” devastada, na esperança de alguma recuperação; sei lá, não é fácil jogar o jogo.




Até onde o processo de morrer, ver parte do que nos fará retornar, comprometermo-nos em manter uma mínima consciência sobre o novo contrato e então errar neste plano por mais algumas gerações, retornar e começar tudo novamente está diretamente conectado a história de Sísifo que na terra dos mortos é condenado a carregar uma pedra montanha acima e, uma vez lá, ela rola morro abaixo?

*




Assim que a obrigação se torna habito e a consciência se apossa de o porquê o processo precisa caminhar entre trilhos - (con)vencido - dá-se a desnecessidade de seguir com ele. Seremos arrebatados do tabuleiro sempre que as preocupações egoístas e prescindíveis incômodos derem lugar à mínima compreensão do existir e à escassa valoração da vida.




 

Bem-aventurados os mansos,

porque eles herdarão a terra.

Mateus 5:3–16

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Calados; o peso da ignorância

 


Hoje não é mais a ditadura ou os milicos a nos calar, e sim diferentes públicos seccionados em grupelhos, que ao ignorar, por não conseguir analisar minimamente seu grau de estupidez; reconhecer seu conhecer minguado. Contrariados qual filhinho de mamãe, agridem todo aquele que destoa do lugar comum.



A insuportável situação vem se tornando corrente entre estas pequenas facções. Por falta de entendimento individual das vantagens da força de vontade do pesquisar só; particular; singular. Por conta do vazio interior preenchido com algazarras e narrativas de conspirações infundadas. Da desagregação de valores nobres e desinformação sobre aqueles que instigam a hombridade. Digladiam-se simplesmente apoiados em vontades subjetivas erroneamente trazidas para a objetividade obtusa.

 






Mentes obsessoras

(...)

Lembrei-me disso agora porque os meios eletrônicos fizeram às vezes do que conhecemos como espíritos zombeteiros ou obsessores – ao menos ampliaram seus campos de atuação. O jovem desavisado está exposto a toda uma carga material que o conduz para uma randômica procura sugestionada de sites; páginas eletrônicas que o condicionam e incentivam a permanecer quase como um obsidiado autômato, e ele, qual drogado, se enfurna com a ajuda de aplicativos, programas e algoritmos previamente desenvolvidos para espiona-lo; e sem que o usuário se dê conta, é direcionado para “drogas” ainda mais pesadas formando redutos e agrupamentos, facções aleatórias inconvenientemente despropositadas e tudo o mais que não foi pensado por ele. Mentes obsessoras conduziram o usuário até ali.

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sábado, 19 de setembro de 2020

Sempre o ataque

 



Perguntaram-me; sendo eu alguém que aprendeu a se importar com o que uma palavra negativa, uma expressão truncada pode causar; como então vejo o que Nietzsche falou sobre Deus estar morto quando muitos que ouviram isso podem ter desistido ou posto em dúvida sua fé ou coisa que o valha?




Obviamente estou impossibilitado de entrar do mérito da questão aqui nesse espaço e também não posso culpar Nietzsche, em hipótese alguma, até por que não tenho alcance para isso, mas posso culpar o homem que ao invés de enxergar que nos tornamos episcopálidos, ou seja, ficamos mastigando o cristianismo que não é o cristianismo verdadeiro; enredados em fés apressadas; preferimos nos voltar contra Nietzsche e contra todo aquele que busca abrir nossas mentes para realidades avessas ao que dita o senso ordinário.



Podemos, possuímos ferramentas necessárias para observar as maiores barbaridades apontadas por qualquer que seja o autor, lançando mão dos filtros da razão e do bom senso sem ater-se a ruídos e partidos, porém como diz o filósofo; preferimos sempre o ataque à contrição. Preferimos sempre o ataque a contrição já dizia o filósofo. A negação sempre será mais fácil, a melhor defesa é o ataque.... que besteira, falácias de fracos fiéis.




Somente ataca aquele que não possui argumento. O ponderado, o cônscio, o conhecedor sabe esperar e não espera, age, ou no mínimo, não perde tempo ao saber a periodicidade da desatenção do incauto.




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Oportunidades

 



Mantenha-se sóbrio. Defendo a filosofia da ação na sobriedade – do agir uma vez acordado.







Entre os porres, êxtases e fissuras, o viciado tem seu tempo de lucidez ou algo parecido com a recobrada de alguma consciência 
mínima. Alguns se arrependem, outros se envergonham, outros ainda atacam com seu mau humor de pessoas atormentadas, no entanto o retorno é quase sempre inevitável. Caso clássico na família para ilustrar, temos o tio Ique. Inveterado beberrão, ele vai à clínica de reabilitação por conta; depois de uma presepada homérica ele some. A família já sabe, deve ter ido se internar. Esse modus operandi iniciou-se aos quarenta anos. Na casa dos setenta, a última, foi há alguns meses.





No nosso cotidiano somos apresentados a uma frase, uma notícia, uma preleção, um vídeo, uma nota lida, uma palavra amiga, oportunizados em um exíguo estado de lucidez, nos entendendo sãos, e então um lapso de consciência instiga a realidades outras, possíveis; um gancho, um gatilho que, mal utilizado finalizaremos como o comportamento do tio Ique há décadas: alguns dias depois, retorna a bebida.



Somos acossados com todos os tipos de drogas lícitas, vídeos, sexo, seitas, distrações, clubes, times, tribos, jogos, salões, informações, correrias, competições, vícios, aquisições, conveniências e tudo mais que leva a todos de algum modo a se enfurnarem em cantos exíguos a limitar vontades e quereres saudáveis - eus verdadeiros soterrando as mais belas realidades internas.






De repente uma frase faz com que algo diferente ilumine uma única conexão não viciada do cérebro, e neste pequeno espaço temos a oportunidade de vislumbrar a possibilidade instantânea da sobriedade da vida; como oportuniza-la?



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Proscritos

 



Aqui, somente aquele que Ama de verdade entender-nos-á,

por isso são tão escassos.



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sábado, 12 de setembro de 2020

Jó 38

 


“Onde você estava quando Lancei os alicerces da Terra?”

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Fé e crença


 Podemos classificar estas duas ações em metafísica e física!?!


A fé tem muito da percepção e da sensibilidade. Ela é nata. Já a crença tem mais de empirismo. Com a primeira, nascemos ou não. Os nascidos com ela sempre dela estarão acompanhados ainda que sofram em volume igual ao descrente às expiações do plano. É bastante comum que o homem de fé a tenha colocada à prova em inúmeras situações ao longo do caminho; mas a perenidade da fé transcende o torvelinho e o furacão e pode ser readquirida ou adquirida – ao suplantar a crença - ao longo destes deslindes. Já a crença vem do acreditar em ações comprovadas, assistidas, estudadas, servindo mais a instabilidade cética da insciência.



As duas tendem aos mesmos significados, mas sob aspectos lúcidos, se completam. Da paixão sobrepujada, do querer cônscio aliados ao bom senso.


Quando o indivíduo nasce cético, no entanto é sensível e aberto ao que a vida proporciona, migra da crença à fé. Em inúmeras outras situações a fé bem nascida precisa inteirar-se de conhecimentos para despertá-la entre os tomesistas.



Com o avanço dos séculos tudo o que envolve fé sofreu intervenções em relação a costumes, tradições e cultura, parece não ser mais possível que a fé arraste centenas de milhares por conta de uma ação, de uma pessoa ou religião de forma que possamos afirmar que muitos a adquirirão por conta de uma vontade própria daí nascida.






Já há algumas décadas a crença tem sua plausibilidade recorrente mais por obrigação, desespero ou instância última – quando o tempo finalmente precisa ser esquecido; paulatinamente a fé veio perdendo espaço por conta de um mundo necessitado de ações urgentes e voláteis.


A fé se tornará modinha também? Não. A Fé É uma Instituição. As seitas e religiões podem virar modinha, a crença e até a descrença pode virar modinha; não A Fé. Porém a fé derivada da convicção; atingida através da vontade, do conhecimento, da sabedoria e da lucidez, ainda é o caminho para um depois que foi relegado a inexistência por agora; assim; ao cético a crença é a última porta aberta para A Fé.







Os tijolos caíram,

mas com cantaria tornaremos a edificar;

cortaram-se os sicômoros,

mas em cedros as mudaremos.

Isaías 9:10




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Isto não é uma piada

 



Até quando a provocação de Magritte continuará batendo na cara de uma sociedade que insiste em caminhar mal conduzida?


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sábado, 5 de setembro de 2020

A redundância da dor

 




Tenho acompanhado, principalmente, a dor das mães que clamam justiça ao assistirem seus filhos inocentes caídos. Aqui em casa, temos concluído pensamentos duros sobre a falta de justiça, pois na dor - geralmente do pequeno, aquele que nada possui -, no desespero da impotência; a “impotência diante do definitivo”, a agonia do ser humano que não ganha nunca, e após tantas constatações, após todos os disparates a que assistimos, só há um conselho a ser dado: desista da segunda dor; fiquem apenas com a primeira, a dor da perda, a dor de sentir que lhes foi tirado tudo; a dor da truculência das ruas que sugou ainda mais, do pouco que lhes restava. Fiquem apenas na dor da perda do filho, do estupro da filha, da terra tomada, da posse negada, do achaque, da extorsão, da covardia, do prevalecimento, do abuso, do filhinho de papai bêbado que invade nossa existência depauperada nos enterrando ainda mais no nada-ser; de todas as agressões corriqueiras que se avolumam e que assistimos estarrecidos. Sim, fiquem apenas com essa dor, porque ao buscarem justiça, ao se apoiarem na esperança da justiça das promessas bianuais, a depositarem todas as fichas entendendo que a constituição promulgada para eles um dia reparará a sua perda, esqueça; esta desilusão será a segunda dor. Chore muito a primeira dor e esqueça, ou chore com esperança de justiça e continue chorando depois de entender que aqui, ela não existe.

*


Entre todos os absurdos das invasões covardes e sempre assassinas, abjetas; uma marcará para sempre minha existência. O massacre que os chineses impuseram contra o Tibete nos anos 50. Ouvi varias histórias sob a abnegação e passividade com que o povo budista daquela região esquecida exercitou ao tornar uma meditação dolorosa: toda a violência que os exércitos chineses infringiram contra o povo tibetano. Questionado certa vez sobre esta abnegação, sobre a prova enorme ao muitas vezes assistir ou fazer parte da obrigação que os soldados invasores impunham ao colocar a arma na mão de um zen budista para que ele apertasse o gatilho para assassinar um membro da própria família como punição por, em algumas situações, até por conta de um pequeno gesto natural de reverência; se ele não sentia algum tipo de ódio do algoz? Respondeu que suplicava aos deuses que lhes dessem força para não desejar, para resistir a um pensamento mínimo sequer de não perdão ao opressor.



Impossível para nós ocidentais, porém, para alguns membros praticantes de meditações é fácil entender a ignorância que assola a humanidade e daí calar-se diante dos piores atos contra si ou aos seus, e a cada dia mais parece que nos obrigaremos a alguma mecânica para suportar a truculência cotidiana, quando, quem sabe, a única saída será ao menos compreender a prática do zen budismo tornando-a também a nós uma perspectiva válida para amenizar nossos sofrimentos e seguir em frente após os piores absurdos a que estamos assistindo e, consequentemente, a cada dia mais expostos.


*






Hoje alardeamos nossas dores entre os nossos e um pouco além se possível – um alarde perfeitamente normal, sensível a toda perda – mas, desconcentrados, desperdiçando energias que não possuímos, acreditando em justiças que jamais virão. Porém o mundo não tem mais tempo para justiças. Não reservamos espaço para que a verdadeira justiça se pronuncie quando o praticante possui reservas ou joga no mesmo grupo social daqueles que formaram e mantêm este circo social.


Crianças e pessoas de toda ordem morrendo sob uma chuva de balas perdidas, corrupção, desmatamento, garimpo ilegal, eventos racistas ignominiosos, ditadores em pleno século XXI, grupos de extermínio, paramilitares, pessoas e pensamentos obrigados ao silêncio, concorrentes políticos sendo envenenados, pleitos fraudados, golpistas, terroristas, sequestros, conchavos fraudulentos, refugiados de toda ordem, imprensa demagoga, religião omissa, facções, igrejas espúrias, padres e vigários em geral escondendo seus dolos entre as páginas da Bíblia e assim por diante.




Muitos se escoram nas desculpas - o idílio da negação -; contrapondo que não existem mais carnificinas entre os povos, como na era romana e viking, ou as invasões assassinas de portugueses, ingleses, espanhóis, holandeses, franceses etc... quando isso jamais deve ser salvo conduto para as injustiças que viemos permitindo, como, por exemplo, lembrar que não há mais caça as bruxas, ou a idade das trevas, dizimação de populações por pestes etc., que nossas condições estão melhores do que jamais estiveram, uma vez que esse discurso acoberta a passividade do sistema orquestrado, governos e dirigentes tiranos, racismos de toda ordem, guerras internas, separação por gêneros, truculência policial, terrorismo, desmandos e conchavos, nepotismo e daí o flagelo dos refugiados e da pauperização da fração maior da população por conta da disparidade absurda nascida da concentração de renda.




Isso será diferente. Não. Aprendamos com o zen budismo tibetano - ao menos isso, se não podemos entender a filosofia: sofrer uma única vez. #Nãoaredundânciadador. Viemos aceitando em meio a revoluções, - que a olhos vistos infringiram mais dor que resultados à justiça -, permitindo que o torniquete continue sendo acochado; não é mais possível uma mudança; fiquemos então apenas com a dor da perda; #simapassividadetotal.





Contribuição da Minha Sempre Bem Amada 

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