sábado, 2 de dezembro de 2017

Pavimentadora inútil


A filosofia é o destroçar de nós. Enleamo-nos em nós, e ela, como uma máquina pavimentadora que recicla o velho ao mesmo tempo em que remodela o caminho, utiliza-se do que não foi usado, ou mal utilizado. Do que não foi dada a atenção merecida; necessária. Do que foi negligenciado ou ineficazmente gerenciado, e reconstrói daí um caminho possível ainda que de impossível aplicação aos homens: os verdadeiros gestores de todo o universo que conhecemos como tecido social. Portanto ela é inútil ao seu tempo. Somente após décadas ou séculos de andanças arrastadas, alguns homens irão se render ao caminho anunciado; então, apenas estes, tornados Filhos da Filosofia: voltarão a movimentar as boas energias estagnadas e desatar nós antigos, traçados por todos os outros que foram dissuadidos de ouvir o aconselhamento lúcido de seus pares mais ilustres no tempo devido.


Ao que parece, nada desse pensar passará de uma espécie de arte ou exercícios dispensáveis que jamais servirão para algum exame útil culminando em pomposas honrarias de colação de grau. Aqui não há premiação em vida, apenas, em alguns casos, bustos erigidos post mortem.  Não seria surpresa escutar que a verdadeira filosofia é o néctar das sociedades implantadas; o único amálgama positivo decorrente do frio movimento das massas sociais disformes e suas abjeções sempre infundadas valorizadas nos mais diversos agrupamentos comuns; a resultante positiva e comprovadamente frutífera a ultrapassar outros planos fora do que entendemos como estado finito.  
    
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Não adianta insistir em ensinar a filosofia, a Verdadeira Filosofia nunca será aplicada – ainda que ela possa sim, ser despertada. Na escola se aprende sobre o passado estanque sem a contextualização atualizada por conta da formação viciada de professor-aluno-professor – ambos indefinidamente alunos; quando a filosofia é um organismo vivo e se renova a todo instante em seu vicejar exponencial. Não existe aplicação da filosofia; nos colégios são ministrados determinados fatos; ruminados velhos assuntos. Pode que o método desperte no aluno alguma veia dormente de um possível futuro pensador que em raríssimas ocasiões ocorre em algum momento do processo no agora de cada um, mas o habitual sempre será apostar nesta impossibilidade – não é algo que se automatiza na diplomacia -; então estes se tornam professores, ou escritores, relatando o que realmente já fora pensado; não pode ser diferente.


Não há método possível a algo que se renova a todo instante. E a vontade que poderia ser louvável, invariavelmente volita dissimulada sob o véu da vaidade muito bem remunerada.


As escolas insistem – com índices inacreditáveis de participações - porque é sinônimo de inteligência se dizer filósofo e confere status a qualquer um desocupado que tenha aprendido filosofia cursando boas escolas de pensadores antigos. Mas é somente isso; só o status. Não que um que outro aplicado neófito daí não possa ser despertado, mas o filósofo não precisa disto. O filósofo é como qualquer outro artista; ele nasce pronto. Geralmente o que as escolas fazem é estraga-lo – destruindo suas inspirações através do método. Devemos acreditar que as escolas filosóficas são mais engodos; voltadas a produção de não filósofos. Redutos de negociantes vorazes, que pretendem tornar os togados – produto – membros de suas sociedades; para que assim não atrapalhem seus negócios de ocasião.

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Sobre nosso (des)envolvimento - Como a escola quer ensinar filosofia se ela é preguiçosa; se somos preguiçosos? É por conta deste particular que as cátedras de filosofia insistem no Mito da Caverna. Se uma nova hecatombe; outra era glacial dizimar o humano que conhecemos hoje e então, com a Terra regenerada, passado dez milhões de anos, outros humanoides (nascidos das amebas?) ao iniciar a nova velha história tudo de novo, com suas escavações e destruições. Em determinada situação encontrarem fragmentos que aludem, exuberantemente, todo o Mito da Caverna; por similaridade, os novos terráqueos se agarrarão a ele - naquele agora - como a existência de uma espécie muitíssimo superior a habitar o planeta já há milhares de anos quando a Terra era habitada por deuses pensadores; quando nossa inteligência atual não consegue assimilar que as palavras de Platão foi tão somente um despertar que pode ser aplicado em todo o gerenciamento pessoal malogrado, resultante da ineficiência nascida no acômodo comum a que nos entregamos sempre que encontramos uma forma sofrível de conviver suportável... blá, blá, blá. 



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