sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Perceber o que jamais deveria se esquecido


Entre melancólico e triste conta o último acontecimento. Em alguns momentos, - estranho na primeira vez - ele chora, diz ser muito difícil conter o sentimento que se faz forte; pede desculpas. Homem é estranho, pede desculpas por cada coisa e esquece-se de fazê-lo em outras tão mais importantes.

Conta que mãe quase morrera - há poucos dias - com menos de cinqüenta anos.

Entre ambulâncias, funcionários públicos que não sabemos onde são coletados, muita propina para furar filas, e mais uma quantia que não se sabe de onde arranjamos numa hora dessas para remédios, a mãe agora, com alguns enxertos nas veias, tentará voltar a pressão ainda anormal, porém aceitável, mas jamais poderá voltar a pressão até então vivida.

Não falo nada, o que dizer nesta hora, sempre fiz o papel de falso quando tentei amenizar coisas que entendo, todos passaremos hoje ou amanhã. É e pronto. Estamos vivos e portanto sujeitos.
Apenas lembro ter passado por algo parecido aos dezoito, quando meu pai não avisou, simplesmente algo deu errado e ele me deixou com um sentimento eterno de que algo que não fiz, ou deixei de fazer o seguirá para sempre na eternidade.

Meu personagem está agora com mais de trinta, e mesmo assim a carga é difícil.
Não sofremos o sofrimento do outro, algumas vezes fazemos pelo incomodo que passamos e pode até continuar, depende muito das seqüelas etc. Não é o caso deste que agora a mim choroso desabafa; ele finalmente sentiu na alma, despertou para o fato de que alguém que está ao seu lado é amado por ele; é alguém que sempre fez parte de sua vida porém jamais foi realmente notado como parte da sua existência.

Não é fácil entender esta parte para aquele que não sabe o que isto significa. Somos humanos e no mais das vezes precisamos vivenciar a dor para valorizar o que nunca esteve desagregado de muito valor.

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Tudo se resume em prestar atenção; alguém já disse isto.

Não prestamos atenção, embora queiramos que todos prestem atenção em nós; porém a verdade é que, realmente, não prestamos atenção no outro.
E então, quando em um momento qualquer este alguém nos surpreende, faz algo que não esperamos, seja para o bem ou para o mal, ou até mesmo nos deixa; sem mais nem menos; por alguns instantes então, alguns de nós pensa, por um breve instante, no que significava a sua presença, e no mais das vezes, pensamos também, que não fomos justos o suficientes durante a sua estada ao nosso lado.
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