domingo, 27 de março de 2011

Relatórios que abonam a morte



Numa semana conturbada, onde o mundo dá mostras que não está aqui a passeio – vide notícias do dia – antes de dormir tomo uma dose radioativa da velha e já decrépita Chernobyl, ao assistir um documentário do “muito pós acidente”.

Até Minha Sempre Bem Amada companheira, um dos seres mais conscientes que conheço, que nem mesmo televisão gosta de assistir, ou quando o faz fica como se fosse uma cataléptica a olhar a tela e viajar nos seus maravilhosos ou não mundos particulares, atém-se um pouco mais a ela, neste dias, preocupada com a situação caótica e triste – em poucos assisto preocupações tão sérias.

Insiste-me Ela que há mais.

Mesmo conhecendo-A tento dissuadi-la, afinal são milhares de câmeras apontadas para o Japão, sem falar nos “Caças vídeos ‘youtubiu’” que registram tudo, no intuito de “mostrar para os amigos”, ou no caso dos repórteres como não me canso de repetir, “para cumprir meu dever de informar”. O que não ensinam nas salas de aula que formam estes indivíduos é ética, não os conscientizando de que um homem correto precisa ter Amor Próprio. (Amor Próprio?)

Ela não se detém e fala algo que diz o que eu já disse e o digo de novo por gostar do dito: “não sei como eles fazem só sei que é feito”.

No trabalho de um conhecido, diz ele que precisou apontar no relatório uma situação não conforme, ocultando palavras ou não chamando a atenção para um fato em especial, pois se o fizesse, ainda que outras pessoas tivessem conhecimento do ocorrido. Por sua vez entendera que existe um termo de cumplicidade silenciosa onde a ponta do iceberg, ou pelo menos um desta ponta, fará um relato correndo o sério risco de que em algum momento poderá aquele relatório ser averiguado por alguém realmente preocupado com o estado saudável do grupo (ou coisa parecida), o problema diz ele, é que somente ele e mais dois haviam assinado o relatório, porém seria muito fácil que estes, numa possível auditoria pulassem fora, argumentando que o fizeram (assinaram) sem ler por confiarem no colega.

Como este foi um comentário aleatório de boteco e estávamos apenas jogando conversa fora, e também por se tratar de um fato nada sério, apenas mudamos de assunto.

Ontem, assistindo ao Gorbachev falando, - agora estamos a falar de um ex-presidente – sobre o acidente na Ucrânia aonde algumas verdades vieram à tona, fiz a ligação dos pontos: do serviço do meu colega com as observações da Minha Partner e uma série de pessoas que finalmente descobriram e apontaram os erros do acidente de Chernobyl agora já disponível até em forma de documentário.

Não é o fato de que ainda hoje pessoas morrem.

Segundo relatos, (referente ao acidente em questão) por mais de oitocentos anos sofreremos as conseqüências da explosão do reator, - mas, segundo Minha Companheira que não assiste TV, mas estuda, e muito, não é possível dimensionar, e está fração de tempo deve servir apenas como referência, afinal a radiação é contínua e o processo pode arrefecer mas jamais teremos um termo nesta questão.

Por outro lado, um determinado cientista que realizou teste com a grama, dando-a de comer aos ratos em seu laboratório e então divulgando o resultado de seus estudos onde os ratinhos estavam nascendo como verdadeiras aberrações, - alertando que a população residente da mesma vila estava sujeita as mesmas ações a que os ratos, e é claro agora já comprovado dado o número de aborto e pessoas que ainda sofrem as mutações devido à radiação - ficou preso por mais de cinco anos.

Sabemos como os acidentes são importantes, como os erros são importantes, por ser através deles que tomamos uma série de precauções ou criamos equipamentos de proteção e etc, etc, etc., para suportarmos melhor os próximos embates a que nos exporemos, porém constantemente aparece a pergunta que não quer calar e ela desemboca automaticamente e sempre, quero dizer, isto sempre acontece, no elo mais fraco, que é o fraco humano, o humano que não pensa, que não debate, que não tem coragem, o imbecil, o pária.

Não seria mais interessante, ou inteligente, ou rico em aprendizado se estudássemos uma maneira de conscientizar a todos para que o medo fosse vencido e então em catástrofes como as do Japão agora, e de Chernobyl, por exemplo, fossem estudadas a exaustão por pessoas sérias e comprometidas realmente, com a questão humana e quem sabe até com o Todo?

O que acontece e o que acontecerá sempre, porém, o ao contrário; é que antes de chegarmos ao coração do problema precisamos punir, antes do buscar saber como poderemos não mais passar por momentos iguais ou piores, ou amenizá-los no futuro, é preciso punir os culpados; é claro que os culpados precisam ser punidos, afinal quem é que quer o caos ainda mais instalado, porém, aos poucos, precisaríamos buscar dissecar uma situação catastrófica com eficiência, e entendendo que aquela é uma oportunidade única e às vezes rara para preocuparmos com interesses muito menores, camuflando-se em relatórios mascarados por seres ineficientes e medrosos ou por se tratar seus superiores de tal índole e despreparo que não consegue entender que uma atrocidade ira abafar a outra na ponta da caneta.

(texto concluído na semana passada)

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