domingo, 13 de outubro de 2013

Como continua depois que termina?



Ao final da versão de Anna Karenina 2012, filme baseado no romance de Liev Tolstoi, dois pontos particulares vieram-me a mente durante as inegociáveis discussões que travamos sempre após um filme, ou de uma história significativa.

        Uma diz respeito a um determinado amigo inconveniente que insiste na pergunta “como continuam as histórias de amor depois que elas acabam?”. Defende ele a tese de que todas as histórias de final feliz somente assim o são porque é somente até ali que são contadas – é um sujeito intragável.

         Questiona o seu continuar; questiona o: “felizes para sempre”. É claro que é uma brincadeira sem maior importância, mas é de se perguntar: que tipo de pessoa triste, mal amada, amarga, levanta um questionar tão impertinente? Será ele também resultado ou outro personagem de uma história sem final feliz?

        E no segundo momento, lembrei também de uma amiga, esta, já mais estudada, ligada a turma dos especialistas que quase garante, embora somente não o faça porque não dou o braço a torcer de perguntar incisivamente sobre a questão, mas, afirma com veemência, que a paixonite aguda, em sua maioria esmagadora, não passa de dois anos, diz ela: “coisa de cerebelo”. Vai saber!?!

         Independentemente de estas questões colocadas serem descabidas ou não, fato é que a história de Anna é especial para que uma série de perguntas surja e polemize este, ou o entorno deste que é o moto condutor principal do ser humano, diria eu (contrariando até algumas pirâmides científicas que existem por aí), após a luta pela sobrevivência: o amor.

         Da minha parte, a questão visceral após estas duas colocações externas inicial: tem mais a ver com a tristeza, as tragédias, as grandes tragédias. É só assistir Shakespeare (que me perdoe o Liev), por exemplo – a que precipício é lançado todos aqueles que optam pelo ímpeto da escolha desarrazoada do amor ao invés de abdicar deste momentâneo instinto que no mais das vezes – é inegável - é carnal. Por ter sido untado em nossos trabalhados humores sociais humanos: orgulho, vaidade e competição (conquista).

         É de um impulso também, que anoto a expressão: desarrazoado. Porque todo o apreciador destas historietas entende que não é fácil que os protagonistas esperem algum tempo até que encontrem um caminho, lógico, legal, digno, aceito pela sociedade; – este é quase impossível – para que aí, os ofendidos ou contrariados na, ou à situação, entendam e aceitem o amor até então impossível ou adormecido ou, finalmente sobrepujado e levado então as somente (como se vê na película) iniciais e não raro: fugazes, inflamantes e impensadas entregas.

         Quero dizer que no mais das vezes, a felicidade momentânea; de súbito, não superará o peso, digo, o amor exacerbado, voluptuoso, torrencial. Parece-nos, num primeiro momento: similar a um gozo, uma ejaculação, ou seja, tem início e fim e o fim é fátuo por eminência, e também como se faz ao escolher furtivamente a primeira cama assim que os amantes se entendam donos da situação, enquanto o sangue aumenta a pressão arterial, quando, é bastante comum; cessada a ardente seção, já durante o cigarro, ao pé da cama: um sentimento estranho de que parecia ser melhor (ao olhar para trás onde a já não mais tão bela assim relaxa) que naquele instante estivesse só ao dar a última tragada. É mais ou menos isto que acontece, - ou nos parece que é esta a sensação que alguns autores tentam nos passar - após tomada a escolha de raptar a amada de sua vida infeliz ao lado do escolhido anterior.

         Somado a isso, temos a minha amiga que garante (no início deste) que o cerebelo está por trás de tudo, incentivando o que é certo, ou seja, o que é certo para ele, que tudo já está programado para ter um fim; que a contagem dos dois anos é iniciada após o primeiro encontro. Digo que não é fácil.

         O romance de Tolstoi é provocador justamente porque ele embaralha – e é assim que uma boa história deve ser – a razão e o sentimento. O sentir nos joga na correnteza da ação mais ou menos pensada – mais pra menos. Enquanto a razão, em meio ao pensamento que sofre a privação, pondera e age como uma trava, como uma porta cerrada que prende a ação impetuosa, a ação impensada, e, provocativamente, desmentindo isto tudo, já no início da história, ele deixa claro que nem todos estão preocupados com as etiquetas do certo e errado convencionado pela sociedade vigente. E cutuca quando alguém diz a Anna que prefere sofrer pelo feito a chorar um desejo abortado.

Para alguém dado ao pensar é bastante fácil, ao deparar-se com esta história, deixar-se levar pela razão e chegar a conclusão de que o amor verdadeiro é raro ou mesmo não é para nós, meros mortais de pensar atrofiado. E que ele, habitualmente, leva à tristeza e a infelicidade.

Mas, não sejamos como o amigo do exemplo primeiro e, é claro, que todos nós temos o direito ao nosso naco de felicidade, é só aprender como agir – ou não!?!

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